Os faquires

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Este artigo inclui todos as ideologias  e muito menos pretende ser xenófobo. Digo porquê? Porque recentemente que a melhor competência para ser político em Portugal, é conseguir ascender ao nível de “faquir”. Esta personagem é um asceta (alguém que mortifica os sentidos) que consegue executar feitos de resistência ou de suposta magia, como caminhar sobre fogo ou deitar-se sobre uma cama de pregos.
Os políticos são portanto “faquires” que têm de renunciar aos factos, mortificando o óbvio (os dados) que saltam aos “olhos de todos”.
Algo como o ano letivo começar com cerca de 80 mil estudantes sem professor a uma ou mais disciplinas, com um elevado número de docentes a aposentar-se (mais de 3.000 até final de outubro) e com greves já convocadas a partir de dia 18. Os “faquires”, escondem “debaixo do tapete” esta realidade e debitam o número oficial que “98% dos alunos começaram as aulas sem percalços”. Seja lá o que isso for.
Mas o mesmo se pode dizer de outros “faquires”, que recusavam aceder ao pedido de recuperação do tempo perdido pelos professores nas suas carreiras. Agora, num passe de mágica, com eleições à porta, apresentam um plano contraditório que o faz em 5 anos.
Ou mesmo aqueles que clamam e berram por mais rendimentos aos trabalhadores e rejeitam a proposta de pagamento do 15• mês de forma voluntária proposta pela CIP. Esta forma objectiva de fazer chegar liquidez dos trabalhadores foi contestada pelos mesmos defensores do aumento de rendimento e poder de compra, apenas porque foi proposta pelos “patrões”.
Outro critério onde os  “faquires” tendem a ser fantásticos é com a estatística. Conseguem “torturar” os números até conseguir o que pretendem. Segundo a UE, em 2024, Portugal deverá crescer 1,8% contra 3,5% na Roménia. O PIB per capita português deverá manter-se nos 78,6% da média europeia. Já a Roménia convergirá para 80,9%, a Polónia para 79,5% e a Hungria para 79,1%. Portugal arrisca-se, então, a cair para a 22.• posição no ranking de desenvolvimento europeu já em 2024 (quando em 2000 estávamos na 15• posição). Mas os “faquires” clamam pelo crescimento maior do que a média da UE. Ou seja, estamos mal, mas estamos bem! Na realidade estamos piores, pois não nos estamos a comparar com o nosso “benchmark” que eram os países que estavam piores que nós e que nos ultrapassaram.
O PRR na saúde é estratégico e o investimento privado é fundamental. Mas em 22.2 biliões de euros do PRR para investir, a saúde tem 4 agendas com um investimento de 127 milhões de euros (cerca 0,5% do total). Mas na boca dos “faquires”, há um investimento claro nesta área estratégica, inovadora, de emprego qualificado… os “ascetas” a “mortificar” o óbvio!
A habitação é outro tema muito caro aos “faquires”, pois mais do que ficar embaraçados com a situação atual de falta de habitação, ficam solidários com as manifestações contra o próprios “faquires”, concordando e identificando-se com os argumentos dos manifestantes. Como se os estes estivessem a criticar terceiros. “Esses” que andaram a prometer casas para famílias carenciadas em 2024, mas que não vão entregar nem 25% das casas prometidas em 8 anos. Não conseguiram sequer cadastrar, neste período, os edifícios públicos abandonados que podiam servir esta causa. Mas que apresentam agora um plano de médio prazo para um problema urgente, 8 anos depois!!!
Ou a TAP, uma empresa que era uma peça estratégica para a economia nacional, portanto devia ser pública e nunca devia ser privada. Agora, 3.2 biliões de euros depois, afinal a estrutura de capital da TAP deve ser diferente e portanto tem de ser privatizada, mesmo com uma perda de mais de 2 biliões. Mas mantemos o hub nacional !?!?!?!?
Finalmente a afirmação de que o orçamento de 2024 não terá “cativações”. Mas afinal fazíamos orçamentos fantasiosos para “inglês ver”? Ou podemos confiar que antes também não existiam cativações, algo afirmado por todos os responsáveis políticos até hoje?
Os exemplos são muitos mas julgo que a ideia ficou apresentada. Já sabe que se quiser fazer carreira política, tem de adquirir competências que não encontrará em nenhuma universidade dita “tradicional”, mas sim na “tariqah” que deve ter passado a ser agora ensinada nas universidades de verão de todos os partidos!


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