“Orgulhosamente sós”

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Acalmem-se os mais “saudosistas” que não me quero referir ao estado novo mas ao estado Americano. Apenas para comentar algo que me impressionou, não sei se pela positiva, se pela negativa. Os EUA vivem viradas para dentro e Isolados do mundo. Para os americanos, só os americanos contam. Podemos ver isso nos noticiários, nos programas de tv, no foco da sociedade no mundo que os rodeia. Os noticiários da tv apenas falam das eleições presidenciais, da convenção democrata, dos insultos de Trump a Harris, dos “rallys” dos democratas, se Walz serviu ou não como militar em cenário de guerra… parece uma revista de socialites de mau gosto. Pouco ou nada falam da guerra na Ucrânia, na faixa de Gaza, da crise nos mercados financeiros causada pelos dados da economia dos EUA com o temor de uma recessão (com a menor geração de postos de trabalho desde dezembro de 2020, ainda no primeiro ano da pandemia) ou sequer da fraude das eleições na Venezuela protagonizada por Maduro.

“Sê a mudança que queres ver no mundo” é uma missão e um dever de qualquer meio de comunicação. Portanto informar, educar, dar dados que permitam formar opiniões seria fundamental. Mas isso não acontece nos EUA, porque o “status quo” não permite mas também porque os Americanos não querem. Os espectadores merecem os mass media que têm, pois só sobrevivem os que têm audiência.

Num mundo global que se está a tornar blocal, os Americanos podem estar a “perder o comboio”. Apesar da força da sua economia, do seu poder militar, da segurança do dólar, até da influência cultural de Hollywood sobre as percepções globais, o seu “egocentrismo está a tornar-se narcisista” e a criar um fosso entre a realidade e a visão americana do mundo. Bem sei que “Harris vs Trump” são das eleições mais disputadas de sempre neste país. Mas tanto, não! Certamente deveriam existir muitos outros focos de interesse para o povo Americano. O risco da auto absorção é portanto gigantesco, ameaçados e desafiados na sua hegemonia, por blocos “dissidentes da ordem mundial vigente”… E os cidadãos gostam e votam em egocêntricos como Trump, Bolsonaro (mas também Lula, apesar de em opostos ideológicos), Putin, le Pen ou Milei.

O grande risco desta “cultura de umbigo” é não conseguir aprender com os outros países como a China tão bem faz com os EUA. Ou nem sequer ver os sinais de risco que possam colocar em causa a sua qualidade como “potência mundial”. Obama apercebeu-se disso e desenhou um plano em que pretendia ter mais de 100.000 estudantes americanos em universidades Chinesas (como existem mais de 150.000 estudantes chineses nas universidades Americanas). Mas foi “sol de pouca dura” com a administração Trump e Biden. O ranking projetado pela Standard Chartered para 2030 coloca a China como a maior economia mundial, seguida da Índia.os Estados Unidos apenas aparecem em terceiro lugar e o Japão aparece em nono lugar seguido pela Alemanha em décimo. Ultrapassaria pelas economias emergentes da Indonésia., Turquia, Brasil, Egito e Rússia.

Talvez Marx tivesse razão: “as ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante”!

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