Sustentáveis desde 1808

Por Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade

A empresa onde trabalho foi fundada em 1808. poupo-lhe fazer contas. Temos 214 anos de história

Passámos por tudo: guerras, fome, pandemias, sismos, ditaduras, revoluções, vimos astronautas chegar à Lua, Fleming a descobrir a penicilina, Luther King a fazer o mais célebre discurso da história, a queda do muro de Berlim, o assassínio de Kennedy, a queda de Salazar, e o mundo a mudar uma e outra vez. Uma empresa que passou por tudo isto, e que é uma seguradora, tem a pretensão de saber uma ou duas coisas sobre sustentabilidade. Mas, para nós, sustentabilidade, não é uma moda, não é apenas um soundbite simpático para usar em conferências, não é apenas um adereço corporativo que se exibe em relatórios e que se apregoa para tentar ser contemporâneo.

A natureza do nosso negócio enquanto seguradora é por definição sustentável. Diria mesmo mais, não teríamos negócio se não o fossemos. Se formos à definição de “sustentável” numa das suas definições lê-se: “que tem condições para se manter ou conservar”, ou seja algo que tem condições para se manter ou conservar ao longo do tempo. Ora manter e conservar, preservar, é uma das pedras basilares da actividade seguradora que encontra na noção de mutualismo a sua sustentação: “um sistema de associação assente nos princípios de ajuda recíproca entre os seus membros e de contribuição colectiva para benefício de cada um dos membros”. É esta diluição do risco pela sociedade que torna, tudo o que fazemos, sustentável por definição.

E nunca na história esta noção de protecção mutualista foi tão importante para a sociedade como hoje.

Em Portugal considero que teremos que fazer um combate pela sustentabilidade em duas grandes áreas: a demografia, com especial atenção nas questões relativas à longevidade, e as alterações no clima, com o impacto que terá em todos os aspectos das nossas vidas.

A nossa taxa de natalidade está a níveis historicamente baixos, o que terá implicações profundas na estrutura da nossa pirâmide demográfica, e um impacto directo, por exemplo, na forma como teremos que olhar para a sustentabilidade do nosso regime de segurança social. É óbvio que, com menos pessoas a contribuir e mais pessoas a beneficiar, vamos ter um desequilíbrio. Todos, cidadãos e empresas, temos de agir. As empresas têm que criar mais e melhores soluções de poupança para a reforma e as pessoas têm que ter consciência do risco que representa para o seu futuro não preparar atentadamente a sua reforma. Na Fidelidade temos feito a nossa parte, fazendo uma grande transformação do nosso negócio e ajudando cada vez mais os nossos clientes a preparem o seu futuro.

Como? Em primeiro lugar contribuindo para melhorar os níveis de literacia financeira na população, criando programas de apoio à população e democratizando o conhecimento base relativo à melhor forma de aplicar o capital disponível. Nunca tivemos tanto dinheiro depositado em bancos nacionais, virtualmente sem ter nenhum efeito produtivo em virtude das taxas de juro historicamente baixas. Se conseguíssemos que os portugueses alocassem parte desses depósitos a soluções de poupança a longo prazo e se o estado estivesse seriamente empenhado em ajudar a resolver o problema, criando incentivos fiscais adequados permanentes e duráveis, mudaríamos completamente as nossas vidas, tornando-as mais sustentáveis. Na Fidelidade estamos a trabalhar arduamente para darmos cada vez mais ferramentas aos nossos clientes para ajudar neste desígnio com produtos de poupança modernos, e eficazes.

Mas o impacto da mudança da estrutura da pirâmide demográfica não se fica por aqui. O envelhecimento criará muitos desafios que teremos de enfrentar ao nível, por exemplo, dos sistemas de saúde. Não basta viver mais, é preciso viver melhor e é a partir dessa premissa base que teremos que actuar, apostando na prevenção e na melhoria da literacia de saúde. Os portugueses terão vidas mais longas, e é preciso que essa noção de longevidade se reflicta na estrutura dos produtos que apresentamos ao mercado e que tornem mais sustentável, nomeadamente, a manutenção de uma vida independente dos seniores nas suas casas adiando a sua institucionalização.

Esta consciência faz com que a prevenção seja nuclear, do nosso ponto de vista, na solução dos nossos problemas colectivos. Mas para isso seria essencial o envolvimento de todos os actores chave: Estado, empresas, reguladores, associações de consumidores. Na Fidelidade vamos fazer a nossa parte e tentaremos que os nossos clientes sejam agentes activos da mudança desse paradigma, apoiando-os e premiando-os pela adopção de estilos de vida saudáveis e talvez o melhor exemplo desta nossa actuação seja o nosso programa Multicare Vitality que tanto sucesso está a ter.

Outra área onde o nosso ADN mutualista demonstra bem como o nosso negócio é a personificação da sustentabilidade e do clima. Não podemos ignorar nem negar as grandes alterações climatéricas que afectarão o nosso país e as consequências, diria muito impactantes, que as mesmas terão nas nossas vidas. Os riscos associados a estas alterações, seja na agricultura, com secas persistentes, seja com cheias, incêndios, subida dos níveis da água do mar e, paralelamente, a necessidade imperiosa de nos protegermos melhor do elevado risco de sismos em Portugal, farão recolocar os seguros, no centro das nossas vidas.

Só apostando numa melhoria da cultura de protecção do risco, em que se recuperam os valores mais nobres da mutualização, é que poderemos, enquanto sociedade, estar melhores preparados para o futuro. Já não é uma questão de “se”, é uma questão de “quando” e, ou estamos, em sociedade, preparados para, juntando os nossos esforços, mutualizando esse risco entre todos, responder de forma capaz, ou não seremos capazes de fazer face à dimensão dos problemas que aí vêm.

Para terminar, as empresas terão que ter um nível de consciência mais apurado quando decidem, por exemplo, como aplicar os seus investimentos financeiros. As nossas escolhas terão de promover a sustentabilidade. E é o que estamos a fazer na Fidelidade, através das escolhas que fazemos na gestão dos mais de 17 mil milhões de euros de activos que temos a responsabilidade de gerir. Por outro lado, sem um quadro de incentivos claro, as empresas terão resistências naturais em adoptar de forma rápida as mudanças, introduzindo boas práticas que as tornarão ambientalmente mais responsáveis e cada vez mais sustentáveis.

Mas o verdadeiro motor para esta transformação, que teremos que fazer enquanto sociedade, são os nossos clientes. Serão as mudanças no seu comportamento individual, sendo ambientalmente mais responsáveis, quer no tipo de condução que fazem, nos veículos que conduzem, no isolamento das suas casas, no comportamento alimentar, na forma como previnem as doenças, tendo comportamentos mais saudáveis, que farão a verdadeira diferença.

Não temos escolha. Nem enquanto empresas, nem enquanto cidadãos. Temos que agir já.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 191 de Fevereiro de 2022

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