Os prémios e os salários milionários dos CEOs

Por Fernando Neves de Almeida, chairman da Boyden Portugal, presidente da comissão de remunerações dos CTT e vogal da comissão de remunerações da REN

Recentemente, houve por parte de certos comentadores, uma certa indignação referente ao prémio prometido à CEO da TAP, caso conseguisse cumprir, com sucesso, o plano de recuperação da companhia.

Essa indignação, penso eu, deve-se à TAP ser uma empresa pública e, portanto, o prémio ser pago por todos nós. É neste contexto, de empresa publica, que se cria toda uma argumentação de fácil aceitação, em especial, por parte de todos os que nunca sonharam nem sonharão em receber tal quantia. Não querendo dizer que é a inveja, somente, que motiva este coro de críticas, a falta de conhecimento sobre como se atrai e remunera o talento executivo, poderá ser também uma razão para tal indignação. O talento executivo é uma coisa rara. E essa escassez faz com que haja um mercado para esse talento que obedece às leis da oferta e da procura.
O talento executivo é um meio necessário para as empresas gerarem retorno para os acionistas. Nenhum acionista no seu perfeito juízo concordará pagar a um conselho de administração executivo mais do que o necessário para garantir que o seu investimento gera o retorno esperado. Há um ditado que por vezes se usa de forma jocosa quando se fala em remunerações que resume o problema: if you pay peanuts you get monkeys.
A fixação dos ordenados das comissões executivas, na generalidade das grandes empresas, é feita com auxílio de uma comissão de remunerações, que avalia as práticas de mercado para empresas semelhantes, com as devidas adaptações e que propõe os montantes. Essa proposta é depois votada pela assembleia geral, que aprova ou não.
E vem sendo prática, cada vez mais comum, que uma grande parte da remuneração anual seja variável e em função do atingimento de objetivos concretos. E se por exemplo for prometido um bónus de 1 milhão de euros a um CEO e se ele o ganhar, é porque a empresa lucrou com isso muitos e muitos milhões. Pode perguntar-se se isso também é válido para uma empresa que venha de resultados negativos. Sim, também é válido. Se a empresa passar de um prejuízo de muitos e muitos milhões para um prejuízo muito menor, pode ser justificado atribuir esse bónus predefinido.
Confesso que sendo eu uma pessoa, não só ligada ao recrutamento de executivos, como também, membro da comissão de remunerações de duas empresas cotadas, me custa ver o aproveitamento populista que se faz à volta dos salários dos CEOs e dos seus prémios. A análise não é, normalmente, justa. O que faz as manchetes das notícias é o valor milionário dos salários e prémios e não os resultados gerados por essas pessoas para merecerem esses prémios. É óbvio que quando comparado com os salários médios praticados no país, são valores exorbitantes. Talvez o problema esteja aí e as pessoas se devessem preocupar mais em fazer com que todos ganhem mais do que invejar aqueles que, pelo mérito dos resultados alcançados, ganham tanto. Acreditem que qualquer acionista que conseguisse recrutar um bom CEO pelo salário médio nacional o faria. Só que não… não é possível.
E este raciocínio é igualmente aplicado às empresas públicas que operam em concorrência de mercado. Não é por serem públicas que devem ser mal geridas ou geridas por pessoas que se sujeitem a ganhar menos do que ganhariam numa empresa privada. Salvo raras exceções, se aceitam menos do que o mercado lhes pagaria, é porque terão alguma agenda pessoal que, normalmente, não é compatível com o bom desempenho da função. Chamo a atenção que se uma empresa é pública o lucro ou prejuízo é de todos nós. Se a coisa correr mal, devemos é ficar aborrecidos por o CEO ter sido mal escolhido. Se correr bem, devemos ficar contentíssimos em pagar-lhe o prémio acordado, sem o qual, porventura a pessoa não teria aceitado o lugar.
E este tema das remunerações deveria ser repensado também para empresas e serviços públicos mesmo que não estejam a operar em situações de concorrência. Isto porque embora exista muito talento na área pública, também existe muito na área privada que é impossível de atrair dados os níveis salariais praticados. E com tantos problemas de execução que existem ao nível dos serviços prestados na área do estado, melhores gestores fariam, por certo, muita diferença.
Não devemos querer ser aquele país que se queixa de haver pessoas a ganhar muito dinheiro (quando merecido); devemos ser aquele país que quer combater os baixos salários. E isso só se consegue com produtividade que, normalmente, é conseguida através do excelente trabalho de muitos CEOs (e das suas equipas) que, infelizmente, para muitos comentadores, ganham muito dinheiro. Não é possível ter talento executivo sem querer pagar o valor de mercado das pessoas. É muito, em alguns casos, eu sei…, mas é merecido, seguramente. E não é pelas pessoas em si; é pelos resultados que essas pessoas apresentam.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 204 de Março de 2023