Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável

Por Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde

Estão os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável a vincular as empresas?

Pessoas, Planeta, Paz, Prosperidade e Parcerias. São os cinco princípios preconizados na visão da ONU quando, em 2015, estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para se alcançar um mundo mais justo, equitativo, sustentável e inclusivo até 2030.

No mínimo é desafiante, quando se junta um sentido de urgência a um call to action ambicioso. Afinal, um período temporal de 15 anos para concretizar uma lista de tarefas tão grande é muito curto: recordemos que são 17 objetivos interconectados, com 169 metas específicas e mensuráveis. Tratando-se os ODS de um contrato global entre governos, setor privado e sociedade civil, acabaram por transformar-se num roadmap valioso para as empresas.

A verdade é que fazer por fazer deixou de ser aceitável – se é que alguma vez o foi! – e o que tem de se equacionar é o poder que as empresas têm para, com responsabilidade, fazer acontecer, colocando em perspetiva de que forma a sua intervenção vai beneficiar o todo e mitigar o impacto da atividade humana nos ecossistemas naturais, sem prejuízo da construção de valor para a própria organização. Só assim poderão contribuir, ativamente, para um mundo mais equitativo e sustentável, e garantirem a sua sustentabilidade a longo prazo. Na prática, significa que, ainda que cientes que todos os ODS são importantes e tenham de ser alcançados, as empresas estão a focar-se em objetivos, em função da própria atividade, servindo-se deles como orientadores estratégicos.

O que tem levado a que sejam repensados os modelos de negócio, as eficiências operacionais e os produtos, as embalagens e os serviços que são disponibilizados no mercado, mas também a uma análise cuidada dos investimentos e uma tomada de decisões mais consciente, que tem por base práticas mais circulares. Globalmente, nesta dinâmica, consegue-se ainda identificar oportunidades de crescimento sustentável, melhorar a resiliência aos riscos ambientais e sociais, e fortalecer a reputação organizacional.

As empresas passaram a ter a sua própria agenda para as questões ambientais, sociais e de governança (ESG), alinhada com a Agenda 2030. Não implicam necessariamente esta hierarquia, mas antes a ideia que são áreas distintas e interconectadas, no que diz respeito à aplicabilidade deste que é considerado o triângulo da Sustentabilidade.

O importante é garantir que a abordagem às questões ambientais (“E”) refletem a crescente preocupação com as mudanças climáticas e a necessidade de preservar o ambiente. As preocupações sociais (“S”) ganham destaque em reconhecimento da importância de práticas justas e responsáveis. E a governança (“G”) é considerada a base que sustenta as outras duas dimensões, ambientais e sociais.

Estrategicamente, as empresas estão à procura de alcançar as suas metas, relacionando-as com os ODS para a sua concretização. Transpondo este vínculo para a nossa realidade, vejo com otimismo que existem esforços coordenados entre o Governo, entidades públicas e privadas, cidadãos – de forma mais ou menos organizada – e todas as outras partes com interesse para enfrentar os compromissos e desafios comuns.

O trabalho feito está a dar resultados. Se analisarmos o comportamento sustentável do país encontramos já boas notícias: Portugal ocupa a 18.ª posição no Sustainable Development Report 2023, entre 166 países, o que é uma progressão de dois lugares face a 2022, ou seja, após a pandemia; e ocupa o 5.º lugar no ESG Index 2022.

Também as empresas estão a seguir o seu caminho, com provas dadas, assumindo junto dos stakeholders os seus compromissos nestas matérias. Assim o demonstra a MERCO na avaliação que faz às empresas mais responsáveis em termos de ESG e na qual distinguiu a Sociedade Ponto Verde no setor da Gestão, Valorização e Tratamento de Resíduos.

É, portanto, de salientar o papel que as empresas têm em todo este movimento em torno dos ODS e dos critérios ESG, que vão resultando, gradualmente, na transformação positiva da sociedade e da vida das pessoas, e, consequentemente, em mais respeito pelo Ambiente.

Isto só é alcançado, e assim o defendemos, por ser feito em contexto de parcerias colaborativas, já que a cooperação permite que sejam desenvolvidas e implementadas novas tecnologias e processos, independentemente do setor ou da dimensão da empresa. E porque existe da parte das organizações capacidade de investimento em projetos de Investigação e Desenvolvimento e por disporem de recursos humanos qualificados e orientados para o progresso, nomeadamente no que diz respeito à procura de modelos de produção, de consumo e de vida mais sustentáveis.

Esta transição para a economia circular, onde os recursos devem ser usados, por todos, de maneira eficiente e os resíduos são minimizados e se querem mais valorizados, está alinhada com vários ODS e diria que é já comum e determinante para a generalidade das empresas – as que adotam boas práticas, assentes na circularidade, não estão apenas a reduzir o seu impacto ambiental como a criar oportunidades para a Inovação e eficiência operacional e a ajudar na prestação de um melhor serviço ao cidadão/consumidor. Ainda assim, continuam a chegar-nos alertas, que mostram que o que está a ser feito ainda não é suficiente e é necessário acelerar a ação. O Global Waste Management Outlook 2024, relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) é bastante claro, advertindo que o mundo poderá chegar a um volume de resíduos de 3,8 mil milhões de toneladas em 2050, um terço mais do que os 2,3 mil milhões registados em 2023, com consequências para a saúde, economias e cidadãos.

Numa nota final, devo mencionar que tudo o que aqui foi escrito correlaciona-se com a atuação da Sociedade Ponto Verde. Definimos a nossa estratégia de Sustentabilidade com base nos critérios ESG e focamo-nos em quatro ODS principais: “Indústria, Inovação e Infraestruturas” (ODS 9); “Cidades e comunidades sustentáveis” (ODS 11), “Produção e consumo sustentáveis” (ODS 12); e “Parcerias para a implementação dos Objetivos” (ODS 17), tendo em conta o nosso contributo para modelos de negócio, produtos, bens e serviços mais justos, mais inclusivos, mais equilibrados e mais responsáveis na cadeia de valor das embalagens para o grande consumo. Por isso, e embora trabalhando de perto com todos os agentes do setor, para nós é fundamental sermos o parceiro de jornada para a Sustentabilidade dos nossos clientes: dar-lhes conhecimento e ferramentas, num desafio constante para que sejam mais ativos e gerem melhores resultados nestas áreas.

Globalmente, é desejável que as empresas continuem a reconhecer a necessidade da ação urgente e estejam vinculadas aos desafios sociais, ambientais e de governança. Propondo-se, assim, a trabalhar para desenvolver novas soluções colaborativas com os parceiros, a gerir riscos, a fomentar a inovação e acelerar a transição digital, a ganhar competitividade e a fortalecer a resiliência empresarial, o que, no conjunto, vai beneficiar o bem comum e criar impactos positivos sustentáveis.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 216 de Março de 2024

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