Fez-se história…
Por Raul Neto, CEO da Randstad Portugal
Foi assim que terminei a última reflexão do ano de 2023 e os números do emprego relativos ao primeiro trimestre deste ano comprovam precisamente esta premissa, ainda que sejam de alguma forma mais animadores do que o esperado.
No primeiro trimestre vimos o emprego atingir um novo máximo histórico superando os cinco milhões de profissionais empregados. Se olharmos mais em detalhe para os números percebemos que este máximo está associado ao aumento da população ativa comparativamente ao período homólogo, em grande medida como consequência de um resultado positivo do saldo migratório.
Mas se o emprego nos trouxe boas notícias, o que dizer da taxa de desemprego, que atingiu os 6,8% (+0,2 p.p) crescendo pelo 3.º trimestre consecutivo, o que reflete os desafios existentes à empregabilidade da população ativa, em que 34,2% apresentam um baixo nível de qualificação (os que não possuem ensino médio ou superior), e em que o número sobe para os 40,3% se observarmos a população desempregada com o mesmo nível de escolaridade.
Feita uma primeira radiografia aos números do emprego em Portugal, vimos que os mesmos não são animadores se comparados com a média dos restantes países da União Europeia. Os profissionais em Portugal têm baixas qualificações, proporção que duplica a média da União Europeia, e que a taxa de desemprego nacional está seis décimas acima da média da União Europeia. Mais ainda, 35,8% dos desempregados em Portugal, no Q4 de 2023, procuravam emprego há mais de um ano, proporção que é também superior à média europeia, em 1,4 pontos. Ainda assim, a taxa de emprego em Portugal, na faixa etária dos 16 aos 64 anos, que equivale a 72,6% do total de profissionais empregados, supera a média europeia em 2,2 pontos percentuais. Ora, olhando para estes números percebemos que o desafio da atração de talento é real. Um desafio que em muito se relaciona com o tema das competências e a diferença entre aquilo que são as necessidades das empresas e as próprias qualificações dos profissionais.
À luz dos mais recentes resultados do Randstad Employer Brand Research vimos 68% dos profissionais a afirmar que gostariam que lhes fossem proporcionadas mais oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento de competências dentro das organizações. E a verdade é que esta pode ser também uma forma de promover a empregabilidade daqueles que são os grupos mais vulneráveis e em que a taxa de emprego é mais reduzida. Factor ainda mais flagrante se adicionarmos a esta equação, a variável da inteligência artificial (IA) e a sua presença no contexto profissional. E mais uma vez os números não mentem, com mais de metade dos profissionais entrevistados (54%) no Randstad Employer Brand Research 2024 dos profissionais entrevistados a afirmar que acreditam que a IA terá um impacto significativo nas suas funções nos próximos anos.
A verdade é que o indicador de clima económico tem vindo a recuperar desde o início do ano e que a perspetiva sobre a situação económica tem melhorado ainda que continuando em terreno negativo. Mas é preciso continuar a escrever esta história e retomar a confiança no mercado. Não obstante, é também necessário manter a prudência no que diz respeito às expectativas sobre o emprego para os próximos meses. Garantir o alinhamento entre aquilo que os profissionais procuram e o que podemos oferecer enquanto empresas. Trabalhar e apostar cada vez mais no desenvolvimento das nossas pessoas e, ao mesmo tempo, enquanto sociedade promover medidas que visem a integração no mercado de trabalho daqueles que, por vezes, apenas precisam de ferramentas que lhes permitam reintegrar o mercado.
Só assim vamos ser capazes de continuar a escrever esta história que nunca será um conto de fadas, mas que não se pretende que seja uma tragédia. Facto é que falar de emprego será sempre uma “never ending story” de desafios e oportunidades e cabe a cada um de nós ter um papel ativo na sua construção.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 219 de Junho de 2024