E, afinal, vale tudo?

É certo que a forma mais conhecida, e melhor, para ensinar é dar o exemplo. Por isso, é de bons exemplos que necessitamos, não só para aprender mas para, e acima de tudo, fazer ainda melhor.

Por Rui Paiva, CEO da WeDo Consulting

É um facto que temos aprendido com os exemplos que temos tido… e até temos feito melhor. Infelizmente, o problema é que o exemplo tem sido mau e como temos feito melhor que o exemplo, o resultado não é mau mas, sim, muito mau.

Não passa um dia em que não seja detectada uma fraude, uma ilegalidade. São realidades que já fazem parte do nosso dia-a-dia. São tantas que já não nos lembramos de quais são e em que estado estão. Falta um meio que apresente uma lista com todas elas, os causadores das mesmas, a dimensão das mesmas, os penalizados e o estado em que se encontram neste momento.

Um relatório vivo e contínuo do estado actual, até que cada uma delas seja fechada (fechada = resolvida e não arquivada). Como se fosse um Diário da República sobre todas as fraudes e ilegalidades que penalizaram o Estado ou os portugueses. Sim, um diário com nomes de quem prevaricou. Pois quem não deve não teme e quem não quer ver o seu nome no referido relatório/diário, simplesmente tem que ser uma pessoa de bem, assim como esperamos que o Estado o seja.

Um Estado de bem é transparente. Um Estado de bem enaltece quem cumpre. Um Estado de bem penaliza quem prevarica. Casos como o do Banif, BES, os empréstimos da CGD, que implicaram a injecção de capital do Estado (vulgo mais imposto dos contribuintes portugueses) para que as instituições não se afundassem e, como consequência, não se afundasse o sistema financeiro português, não podem, obviamente, passar sem a atribuição efectiva de responsabilidade e efectiva punição, para que não se voltem a repetir.

Infelizmente, o desenho das instituições legais permite aos habilidosos e aos competentes advogados dos prevaricadores usarem todos os instrumentos possíveis para procurarem buracos existentes na Lei, assim como inúmeras possibilidades de protelar julgamentos de modo a adiar até ao infinito toda e qualquer possível punição. Este é o exemplo que não podemos dar. Este é o exemplo com o qual não podemos aprender.

E se resolvermos as fraudes e ilegalidades ao mesmo tempo que ajustamos o Estado para a dimensão correcta (eliminando tudo o que foi criado desnecessariamente)? Aí teríamos um País com superavit, que permitiria reduzir a carga de impostos, amortizar a dívida e, ainda, investir nas necessidades sociais dos portugueses.

É, na realidade, um tema cultural aquele que temos definitivamente que resolver. Se nos queremos comparar aos melhores, então temos de nos comportar como os melhores, ou seja, temos de ser transparentes, honestos, justos e, sobretudo, cumpridores das leis e das instituições.

E o exemplo, claro, vem sempre de cima. Não podemos tolerar casos de má conduta seja a governantes, a gestores de cargos do Estado ou a gestores de empresas privadas. Se isto acontecer, importa que sejam punidos em conformidade, de uma forma célere e exemplar. Até porque… não vale tudo!

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro de 2019 da Executive Digest.

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