Conhecer e debater, para melhor decidir

Por Rui Minhós, Director de assuntos institucionais da Tabaqueira

Ideologia, convicção pessoal, necessidade, oportunidade, promoção de valores, voluntarismo, observação, perceção (e até preconceito!) são alguns dos inúmeros ingredientes que conseguimos identificar como estando na base de vários processos de decisão

Estes elementos, que estão longe de se esgotar nestes que acabo de listar, podem ser encontrados como justificação para decisões tomadas no mundo corporativo, mas também como explicação para decisões tomadas no contexto de políticas públicas. É normal que assim seja, e é também normal que adicionalmente aos elementos atrás mencionados se possam acrescentar os sentimentos e emoções: afinal, somos humanos, e na nossa singularidade, nós e a nossa circunstância (como dizia o filósofo espanhol Ortega Y Gasset) determinam o que somos, o que fazemos, o que propomos e o que decidimos.
Contudo, há dois elementos-chave, que devemos procurar ter sempre presentes em qualquer processo de tomada de decisão. Elementos que reforçarão as nossas ideias, que as mitigarão ou que as modificarão, e elementos, que em todo o caso, levarão sempre a melhores decisões e, por conseguinte, a melhores resultados. Refiro-me concretamente ao Conhecimento e ao Diálogo.
O conhecimento, de base científica, resultante de evidência, de estudo, compreensão e análise séria de dados, factos e estatísticas é um garante de credibilidade, de solidez e de segurança. Um CEO de uma grande empresa, ou um decisor político, terá sempre mais certeza no caminho a seguir quanto mais alicerçada no conhecimento a sua decisão estiver. Aliás, num mundo de fácil permeabilidade à opinião pública, profundamente ligado por uma extensíssima miríade de vasos comunicantes como as redes sociais – onde vigoram 1.001 opiniões anónimas, fake news, comentários de toda a espécie e feitio – é cada vez mais importante assentar as decisões em ciência e no conhecimento. Nos processos públicos de tomada de decisão, então, esta realidade ganha uma importância acrescida, porque a opinião pública é extremamente vulnerável a negacionismos, populismos e a todo um espectro de “ismos” que apenas a ciência e o conhecimento são capazes de dar quartel. Isto foi muito evidente durante a pandemia, na qual a ciência desempenhou, inquestionavelmente, um papel determinante. Foi o conhecimento científico que permitiu o desenvolvimento expedito de vacinas e foi também o conhecimento de que apenas um processo de imunização em larga escala permitiria combater eficazmente e com resultados a pandemia. Durante situações de crises de saúde, como pandemias, as políticas implementadas, como restrições de mobilidade, uso de máscaras e implementação de medidas de distanciamento social, são definidas tendo como base modelos matemáticos, estudos de transmissão viral e evidências sobre o impacto dessas intervenções na redução da propagação de doenças. Estes exemplos demonstram também como a legislação baseada em dados e evidências científicas, é essencial em diversas áreas, desde a proteção ambiental até à saúde pública e tecnologia. Ao tomar decisões informadas por meio de evidências sólidas, é possível garantir que as políticas sejam eficazes, equitativas, alinhadas com o interesse público e que aportam melhores resultados para a sociedade.
Ao lado do conhecimento caminhou, como não pode deixar de suceder em sociedades democráticas, o diálogo e o debate. No quadro das instituições, das empresas e da sociedade em geral, o diálogo e o debate foram elementos essenciais para a aceitação generalizada das medidas a tomar e do caminho a seguir.
Quando o diálogo é qualificado, quando o debate é informado e assente em informação fiável e fidedigna, e quando o conhecimento assenta em evidência científica, as decisões ganham outra densidade e aceitação.
Há dois anos, a Philip Morris Internacional, da qual a Tabaqueira é subsidiária, realizou um estudo intitulado “Novas Abordagens Necessárias”, junto de 22.500 indivíduos adultos, com mais de 21 anos, de mais de 20 países que incluem desde a Austrália a Itália, à Rússia, Noruega e Coreia do Sul.
Este estudo estabeleceu que é cada vez mais necessária uma nova abordagem no controlo do tabagismo. Os dados mostraram que 77% dos inquiridos concordam que os fumadores adultos devem ter acesso e informações precisas sobre alternativas sem fumo e que tenham sido cientificamente comprovadas como sendo uma melhor escolha do que continuar a fumar cigarros. De igual modo, mais de dois terços (71%) considera que apresentar alternativas sem combustão e sem fumo a fumadores adultos – que de outra forma continuarão a fumar cigarros convencionais – pode ser um fator catalisador na redução dos danos provocados pelo consumo de cigarros.
Este estudo mostra também que 8 em cada 10 fumadores adultos afirmam que estariam mais disponíveis a mudar para soluções alternativas sem fumo se tivessem maior acesso a informação credível e cientificamente comprovada sobre como estes diferem dos cigarros convencionais. A oportunidade parece estar, portanto, no esclarecimento, na informação e na capacitação para que escolhas conscientes, esclarecidas e informadas possam ser feitas.
Sobre o papel das autoridades nesta literacia e capacitação para uma decisão esclarecida dos fumadores, 73% dos participantes no estudo defende que os governos devem considerar as alternativas sem combustão no desenvolvimento de medidas com vista a uma transição melhor e mais rápida para um mundo sem fumo.
Mais de 90% dos inquiridos esperam que os governos, assim como as organizações intergovernamentais, considerem os avanços desenvolvidos pela ciência e pela tecnologia na definição de políticas, maximizando o esclarecimento sobre as opções menos nocivas para a saúde. No entanto, apenas metade (51%) considera que os governos têm garantido o acesso ao conhecimento e aos desenvolvimentos científicos e tecnológicos mais recentes.
A cooperação entre empresas, governos, reguladores e peritos em saúde pública é também uma questão valorizada por 68% dos inquiridos, que vê nesta uma oportunidade para garantir que os fumadores tenham acesso e informações fiáveis sobre as alternativas sem combustão e sem fumo.
Não sabemos, em concreto, o que pensa a população portuguesa sobre estas matérias, mas será razoável presumir que as preocupações dos portugueses estarão em linha com as decorrentes deste estudo.
Seria, por isso, da maior relevância, que no processo legislativo de revisão da Lei do Tabaco, em curso na Assembleia da República na sequência de uma Proposta de Lei do Governo, a ciência e o conhecimento pudessem ocupar o lugar que lhes é devido na discussão. Regular adequadamente os diferentes produtos de tabaco, à luz da ciência e do conhecimento, e não à luz de outros ingredientes, ouvindo todas as partes interessadas, é a melhor garantia para um bom processo de tomada de decisão.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 207 de Junho de 2023