Onde vai um vão todos

Por Nuno España, Gestor

Há 19 anos que o Sporting não ganha o campeonato nacional. Aliás, com quase 40 anos, apenas vi este feito concretizar-se duas vezes. Ainda assim, e por incrível que pareça, acho que só serviu para fortalecer o meu espírito de sportinguista. Lembro-me de como tudo começou.  Apesar de ter morrido cedo, o meu Avô Nuno, sportinguista ferrenho, fez questão de comprar e deixar todo um enxoval do Sporting para ser usado pelo primeiro neto que tivesse. E que sorte tive eu de ser o primeiro e de receber tão honrosa herança – o equipamento e o sentimento! Várias são as fotografias de miúdo, vestido a rigor de verde e branco, inclusivamente de chuteiras pretas e brancas, como eram naquele tempo. Nunca, nem na mais tenra e ingénua idade em que a ânsia de ganhar parece que nos possui, equacionei encontrar alento noutro qualquer clube.

Algum tempo passou e agora tenho o prazer de passar esta herança à geração seguinte. Revejo-me na devoção e paixão dos meus filhos, que todos os dias me surpreendem e não deixam esmorecer o meu espírito. O António, com 8 anos, já enverga a camisola do Sporting – não apenas como adepto, mas sobretudo como jogador – com uma sensação de pertença e respeito que me comovem. O Tomás, 2 anos mais novo, escuta de forma atenta e com orgulho o irmão mais velho, para que um dia também saiba debitar os nomes dos jogadores e os resultados dos vários jogos. Nenhum deles alguma vez viu o seu clube vencer, mas a esperança nunca os abandona e o amor ao Sporting mantém-se jogo após jogo, firme e constante.

Isso é o que me fascina no Sporting. Ser sportinguista é exatamente este saber festejar vitórias e aceitar derrotas, sem nunca desistir, sem nunca abandonar, com a resiliência e a vontade de continuar a lutar. Ser Sporting é viver o futebol em família, ser Sporting é vibrar com os amigos, ser Sporting é crescer com os amigos da bola e vê-los tornarem-se parte da nossa família. É juntar as várias famílias nos mesmos lugares de sempre. É encher uma bancada de caras conhecidas. É ver-nos passar de putos a pais, mas sempre com a mesma paixão pela nossa equipa do coração. É ver na cara dos nossos filhos esta mesma paixão, muito superior à simples vontade de vencer.  É a preparação da roupa que levamos e o cheiro das Roulotes. São os cânticos, as emoções e por vezes os palavrões. São os festejos e as desilusões. É o regresso a casa, ganhando ou perdendo, sabendo que para a semana há mais e da próxima é que vai ser. São as conversas durante a semana a antecipar o jogo seguinte. Ser Sporting é ter uma fé inabalável e uma paixão indescritível.  Acreditamos como poucos e lutamos como ninguém.

Hoje, o Sporting joga com o Boavista. Muito provavelmente seremos campeões nacionais. Talvez o segredo tenha sido a equipa de miúdos irreverentes, muitos deles com o Sporting no coração, ou um treinador que foi passando despercebido, ou uma estrutura pouco profissional. Talvez seja essa a arma secreta, que nos torna diferentes e que nos fez brilhar num ano que tem sido tão fora do normal e tão difícil. Não sei bem explicar o que sinto. É mais do que gostar de futebol, é um sentimento irracional. Misto de orgulho e de sensação de pertença, em tudo semelhante a uma paixão intensa –  dura às vezes, mas sempre boa.

Obrigado a todos os que tornam este sonho uma realidade. Os jogadores, treinadores, equipas de suporte, apoiantes, claques e restantes equipas – desde os grandes aos que lutam arduamente (muitas vezes heroicamente para se manterem na 1a divisão). Sem eles, não há jogos, não há emoção, paixão, glória ou sequer possibilidade de lutar por nada.

Este ano, voltaremos a ser nós – os “leões” – a festejar na tão famosa e cobiçada praça lisboeta, junto à estátua de um reconhecido marquês, que se faz acompanhar de um leão, símbolo de garra, força, determinação, poder e realeza. Fomos os primeiros a festejar lá um título de campeão e na verdade, não há dúvidas que este é o local perfeito para a celebração, visto ter sido idealizado pelo atleta, dirigente e sócio nº1 do clube António Couto e esculpida pelo ex-jogador Francisco dos Santos. Talvez também o marquês (numa outra época e dado o perfil) tivesse sido um bom sportinguista… Venha mais para o ano porque onde vai um vão todos! Prometemos não nos habituar, porque o Sporting é muito mais do que apenas as vitórias.

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