O futuro das transmissões desportivas
Por Manuel Falcão – sfmedia.org
COM O INÍCIO DAS MEDIDAS DE DESCONFINAMENTO em vários países a maior parte das organizações ligadas a eventos desportivos de grande dimensão ambiciona que chegue rapidamente o dia em que multidões possam voltar a assistir ao vivo aos seus desportos favoritos, complementando a economia do sector que tem só vivido desde há um ano de transmissões televisivas. No entanto, há dados que indicam que o interesse das gerações mais novas pelas transmissões tradicionais pode estar abaixo daquilo que é esperado. Um estudo recente realizado em Itália e divulgado pelo diário La Repubblica indica que a Geração Z (os nascidos entre 1996 e 2010) já não tem paciência para assistir a transmissões integrais e prefere ter acesso a resumos com os momentos decisivos dessas competições. Algumas empresas tecnológicas estão já a procurar seguir esta tendência: a Buzzer é uma aplicação que permite ver os momentos salientes, por exemplo de um jogo de futebol – a aplicação envia uma mensagem quando um novo destaque, dentro da esfera de interesses do utilizador, está disponível e ele poderá vê-lo a partir de qualquer smartphone mediante o pagamento de cerca de 80 cêntimos. A Buzzer posiciona-se trabalhando em conjunto com os detentores dos direitos de transmissão das competições e procura criar uma nova fonte de receitas.
A venda avulsa de conteúdos já é comum no digital mas por enquanto não é frequente no modelo dos canais por subscrição. No entanto alguns canais de transmissões desportivas europeus já têm um modelo que permite comprar o visionamento jogo a jogo e outros por exemplo modalidade a modalidade. No fundo é o mesmo modelo dos jornais digitais que permitem comprar um artigo apenas, ou de serviços como a Apple TV que permite adquirir visionamentos de um filme. Em Portugal comprar transmissões isoladas não tem sido possível embora a Eleven, que é recente no nosso mercado, tenha algumas modalidades de venda segmentada. Com a concorrência a crescer e até plataformas internacionais a adquirirem direitos desportivos, a vida fica mais difícil para os canais mais antigos. A Sport TV registou um prejuízo de 5,7 milhões de euros no ano passado, um agravamento de 569% face ao período homólogo, isto apesar de os assinantes de TV paga em Portugal terem triplicado em 20 anos – 93% das famílias utilizam o serviço, metade delas através de fibra óptica. O grande trunfo da SportTv continua a ser a transmissão das competições portuguesas. Só por si isso pode não ser suficiente, à medida que forem testadas outras formas de comercialização dos conteúdos desportivos. O modelo de negócio tradicional das assinaturas fixas provavelmente tem os dias contados na forma em que existe hoje.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 182 de Maio de 2021