O circo mais caro do mundo!

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Custa 136,2 milhões de euros em 2024 pago por todos os contribuintes e chama-se: assembleia da república. Tem todos os requisitos para ter sucesso: o “malabarista”, o “arlequim”, o “acrobata”, o “contorcionista” e o “equilibrista”. Fora do espaço circense, nas televisões, estão alguns “ilusionistas”, arte circense generalizadamente chamada de “comentadores dos partidos” que populam todas a televisões nos dias de hoje. Dia 27 foi a estreia do novo espetáculo, no palácio de São Bento, chamou-se “Arrasa tudo”!

Esta é a minha visão do que se passou, sem querer desrespeitar a elevada função de parlamentar nem qualquer interveniente. Voltando à analogia “circense”, infelizmente os “artistas” recusaram-se a atuar e foi uma inauguração caótica, tornando-se num “espetáculo de crianças sem adultos na sala”.

O “equilibrista” refere que ligou a todos os artistas para informar que era o primeiro a entrar, mas ia respeitar o tempo de duração do show previsto, para não limitar a atuação dos outros.

O “arlequim” informou que foi contactado e informado deste facto, de acordo com as regras e regimento do circo, mas dado que ninguém se reuniu pessoalmente com ele, não considerava a chamada feita. Estava disponível para uma reunião noturna a qualquer hora presencialmente, se não o entendimento tácito (que já tinha sido “acordo”) com o “equilibrista” caíria.

O “acrobata” disse que houve uma chamada telefónica do “equilibrista”, mas que tinha sido por engano. Portanto tinha existido uma chamada telefónica que afinal não existia. Em suma, conhecia as regras do regimento do circo, sabia do conteúdo da chamada, mas não reconhecia ambos como válidos.

O “contorcionista” disse que o “equilibrista” tinha de sair da sua posição superior e de “cima do muro”, pois havia um sindicato de artistas tripartido que deveria ter sido ouvido e decidido a ordem de entrada dos artistas, mas que isso não tinha acontecido.

Finalmente o “malabarista” refere que o “equilibrista” é um saltimbanco que não tem qualquer condição de garantir a qualidade e a estabilidade do espetáculo, portanto nunca o iria apoiar.

O “apresentador”, chateado com todos, chamou-os de irresponsáveis e do “triste espetáculo” a que obrigaram o público a assistir, mas que “não devolvia o dinheiro dos bilhetes”.

Entretanto alguns “ilusionistas” comentavam e tentavam timidamente defender durante horas infindáveis as opções dos seus artistas nas televisões portuguesas. Em suma, a “gramática circense” não foi relevada e no final os espectadores saíram da tenda do circo sem ver o espetáculo e sem devolução do preço do bilhete. Apenas o “mágico”, que não fazia parte do programa, os conseguiu compensar no dia seguinte, com um espetáculo inesperado. Tirando “da cartola” uma ilusão que abrilhantou o dia.

O que é mais estranho nesta analogia, é que esta falta de consenso e respeito pelas regras constitucionais e regimentais, não se verificou quando os deputados de todos os partidos (os “artistas”) se uniram para aprovar um projeto que alarga o pagamento das suas ajudas de custo na última sessão plenária (5 dias antes da dissolução formal do Parlamento), em janeiro de 2024. O aumento foi realizado e aprovado em tempo recorde e foi aprovado por unanimidade (em causa própria — já que são os potenciais beneficiários da mudança na lei). Mesmo aqueles que se arrogam os defensores da seriedade e da luta contra a corrupção.

Esperemos que o “circo” acabe rapidamente e não dure os 6 meses que faltam, pois, os portugueses gostavam de ver os seus problemas imediatos resolvidos, o PRR implementado, a economia dinamizada, a inflação e as taxas de juro controladas, o sistema de saúde a funcionar, as escolas com um modelo eficiente, os elevados impostos a baixar, a habitação disponível para a maioria dos cidadãos… Mas, como diria Miguel Torga, somos “uma coletividade pacífica de revoltados”!

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