Novos ventos políticos trazem novas opções energéticas?

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Temos um novo governo, uma nova Ministra do Ambiente e da Energia e uma nova Secretária de Estado da Energia. Será que isto se vai refletir em novas opções, novas apostas ou novas vias, ou redirecionamentos, para a transição energética? Muitas são as possibilidades em cima da mesa, mas aqui fica uma chamada de atenção para uma aposta que se adequa aos tempos que vivemos, à nossa situação nacional e à nossa integração no âmbito da UE.

A produção de combustíveis sintéticos de baixo carbono é essencial numa estratégia de economia circular, havendo ainda outros benefícios para além da redução da pegada de carbono. Disto já muito tenho falado em artigos de opinião anteriores. Estes combustíveis possuem propriedades semelhantes às dos combustíveis convencionais, podem ser incorporados nestes numa fase inicial, são compatíveis com os veículos com motores de combustão atuais e permitem a utilização das infraestruturas existentes, não acarretando mudança de hábitos aos consumidores. São necessários à descarbonização progressiva dos transportes. Por isso são uma das soluções, não a única, mas fundamental para o objetivo que todos pretendemos.

Dados da Associação de Bioenergia Avançada (ABA) indicam que estes combustíveis permitem reduzir mais de 80% das emissões de carbono em comparação com os combustíveis convencionais. Por isso não devem ser esquecidos. E deve ser incrementada a informação ao público sobre esta solução, desmistificando algumas perceções menos corretas.

O nosso parque automóvel e os meios económicos de grande parte da população necessitam desta solução para progressivamente se fazer o phase out dos combustíveis fósseis.

Em Portugal já temos várias empresas a trabalhar em biocombustíveis tradicionais, produzindo, por exemplo, biodiesel – só a PRIO produziu em 2023 mais de 90 mil toneladas de biodiesel – mas agora é necessário apoiar, de forma mais robusta e mesmo a nível regulamentar e fiscal, o desenvolvimento da produção de biocombustíveis avançados, a uma escala economicamente adequada, por exemplo a partir de dióxido de carbono capturado e hidrogénio verde, reduzindo ainda mais a nossa dependência energética.

Os combustíveis sintéticos são conhecidos por “e-fuels”, sendo neutros em termos de emissões. Porém, quando utilizados como combustível nos automóveis, emitem dióxido de carbono, mas a quantidade emitida é a mesma que foi capturada durante a produção, anulando-se. Assim, ao longo da vida útil destes veículos, as emissões tornam-se nulas.

Tem sido divulgado nos media que os construtores europeus estão a vender veículos elétricos a preços inferiores ao seu custo de produção e são altamente dependentes de matérias-primas e componentes para os mesmos provenientes da China. Por isso a aposta regional, leia-se europeia, exclusiva neste tipo de mobilidade pode ser perigosa. Como dizia Astérix, da conhecida banda desenhada, “… estes romanos (leia-se europeus) devem estar loucos !!!”.

Segundo refere o ACP, é reconhecido que o preço dos combustíveis sintéticos é atualmente mais elevado do que o dos fósseis. A eFuel Alliance estima que em 2025, o custo de um litro destes combustíveis, com uma taxa de mistura de 4% com combustíveis convencionais, seja entre 1,61€ e 1,99€. É também referido que em 2050, os preços podem diminuir, situando-se entre os 0,70€ e os 1,33€ por litro de “e-fuel”, com taxa de mistura de 100%. Ou seja, quando produzidos em larga escala, o custo dos “e-fuels” tenderá a diminuir.

O Estado (Fundo Ambiental), apoia (10 milhões € em 2022) não só a compra e instalação de equipamentos para carregamento de veículos elétricos em espaços comuns dos prédios habitacionais, mas também de veículos elétricos e novas formas de mobilidade suave. Porque não um apoio paralelo à produção e introdução dos combustíveis sintéticos de baixo carbono?

Senhores governantes, tenhamos isto em mente. A aposta atual na produção de hidrogénio verde para uso local/regional e não para exportação, como inicialmente previsto nalguns projetos, que agora parecem estar a ser abandonados, deve também ter associada a aposta noutros vetores energéticos com base nesse hidrogénio. Vetores esse que sejam úteis e adequados ao mercado onde se inserem. Pensar isto de uma forma integrada, geradora de emprego e de desenvolvimento económico, vulgo riqueza, e facilitando a transição energética, tornando-a mais justa, menos disruptiva e, por essa via, mais eficiente e sustentável, será o caminho.

 

 

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