Medicina personalizada: a cura e a prevenção no pormenor do ADN

Por Ana Rita Silva, Business Development Manager de Dispositivos Médicos da Critical Software

Vivemos numa era em que há de tudo para tudo e para todos. Os nichos de mercado fazem a diferença e transformam-se em negócios de sucesso por responderem às necessidades mais peculiares. Na saúde, não é diferente. A medicina personalizada será (em boa verdade já é) o futuro. E o esforço de diversas empresas para desenvolver e se destacarem nesta área é cada vez mais visível. Mas porquê?

Hoje em dia, a medicina ainda se rege por um sistema de “one-size-fits-all”, acabando por ser mais reativo e transversal a todos os pacientes.

Até porque mesmo os melhores cientistas e médicos do mundo ainda não compreendem completamente como é que diferentes pessoas desenvolvem certas doenças e respondem de forma diferente aos tratamentos. E dado que o código genético de cada indivíduo é diferente, a probabilidade deste sistema falhar acaba por ser cada vez maior.

 

O papel da medicina de precisão

E é aqui que a medicina personalizada (também denominada por medicina de precisão) ganha ainda mais relevância, por ser capaz de trazer estratégias diferentes e muitas vezes, inovadoras, mas sempre personalizadas, para a prevenção e tratamento eficaz de doenças para indivíduos ou grupos de indivíduos.

Este método de precisão dá aos médicos e cientistas uma nova capacidade de encontrar a causa genética subjacente a qualquer doença e, em seguida, criar ou direcionar um medicamento/tratamento na dose e altura certa, mesmo que seja exclusivo para apenas uma pessoa – isto é incrível e há todo um novo mundo por explorar nesta área. E é o código genético individual (ADN) que está, na verdade, a ser “turn-key” nesta área. O estudo do ADN a esta dimensão tão específica dá-nos uma visão individual e única de cada indivíduo e é a única forma de perceber e prever doenças, seja qual for o seu tipo, mas também de determinar se há prevenção possível e o qual deverá ser o tratamento personalizado.

Apesar de todos os benefícios, é preciso reconhecer também que, em teoria, as terapias direcionadas ao ADN individual deveriam ser mais eficazes e ter menos efeitos colaterais. Mas, na prática, a medicina personalizada pode ser errática e cara, e muitas vezes existem soluções mais simples. Exige também que as pessoas confiem aos governos e às empresas os seus dados genómicos, ao mesmo tempo que a obtenção dos dados de segurança e eficácia necessários para a aprovação regulamentar normalmente requer ensaios clínicos envolvendo centenas, senão milhares de pessoas.

 

Será este o fim dos “trial-errors”?

No entanto, os investigadores ainda estão a tentar – e agora parece que pode haver progresso genuíno. Existem já alguns incentivos para este tipo de iniciativas como a “European Partnership for Personalised Medicine”, que reforçam o investimento de que o futuro será a medicina personalizada; e algumas empresas já estão a investir neste tipo de desenvolvimentos que serão o futuro dos tratamentos. A área mais emergente para este tipo de abordagem tem sido a oncologia; havendo muito espaço para explorar também nas doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas, distúrbios psiquiátricos, Alzheimer, entre outras.

Consegue antever-se já vantagens para esta nova abordagem: prevenção da progressão de doenças – personalizando as estratégias de combate e a sua deteção, avaliação da suscetibilidade de certas doenças, redução do tempo, custo e taxa de falha de ensaios clínicos e até a eliminação, no futuro, das ineficiências inerentes à estratégia de “tentativa e erro” que inflacionam os custos dos cuidados de saúde e prejudicam até o atendimento/tratamento do paciente.

A medicina personalizada tem o poder de afetar o sistema de saúde como um todo: traz melhores resultados na área da saúde, melhores tratamentos e redução da toxicidade devido a respostas variáveis ​​ou adversas aos medicamentos. O futuro passará, talvez, por sequenciar o genoma de cada um nós, ter esse registo na ficha médica, permitindo que qualquer médico que nos trate tenha acesso a ele, poupando, assim, muito do processo de tentativa e erro, “trial-error”, que vigora na medicina e no qual, atualmente, se gasta muito tempo e muito dinheiro. Encurtando o processo de diagnóstico e de definição de tratamento, poderá, sem dúvida, ser algo que poderá até salvar as nossas vidas e dar-nos tempo e qualidade de vida.

 

 

Ler Mais