Liderança 5.0

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

E de repente o líder tem de mudar. O mundo BANI obrigou os líderes a mudar o seu perfil, a serem despedidos ou a reformarem-se. Deixaram de acrescentar valor à organização se não o fizerem. Adaptação, resiliência, justiça, proximidade, credibilidade, confiança, governance, influência, motivação, são buzzwords que estavam na boca de muitos mas nunca descreveram líderes empresariais. Estratega, inteligência financeira, capitalista, valorização dos accionistas, inovador, organizado, visionário, empresário, empreendedor, poderoso, são as palavras a que ligávamos os CEOs ou líderes VUCA.

Os novos líderes L.I.S.B.O.A., que entendem o mundo BANI e tiram o melhor do mesmo, são os influentes do presente e do futuro. A liderança 5.0 será LISBOA (Lucidez, Inteligência emocional, Serenidade, Bom senso, otimismo, Alternativa). Um misto de líder transformacional com zelador. Transformacional foi um termo foi cunhado pela primeira vez por James Downton no início dos anos 1970 e expandido várias vezes, nomeadamente em 1978, pelo especialista em liderança James McGregor Burns no seu livro, “Leadership“. Ele definiu a liderança transformacional como um processo em que “líderes e seus seguidores elevam uns aos outros a níveis mais elevados de moralidade e motivação”. Mas não basta, pois no mundo BANI, ter óptimos cidadãos e melhores colaboradores é um passo intermédio. O Líder tem de cuidar, tratar com cuidado, zelo, diligência os seus colaboradores. Para isso precisa de ser confiável e credível, bem como todas as características e competências anteriores. Nomeadamente entender aquilo que está invisível no icebergue das emoções das pessoas, o combustível que faz que consigam desenvolver plenamente a sua personalidade. No passado, as necessidades definidas por Maslow, como as necessidades fisiológicas, de segurança e de relacionamento estavam satisfeitas. E eram maioritariamente ignoradas pois seriam uma “commoditie”. Portanto o foco do líder transformacional (ou outros tipos de líderes) estava em satisfazer as necessidades de estima (auto-estima, confiança, respeito) e de realização pessoal (moralidade, criatividade, espontaneidade, ausência de preconceitos…). Neste momento, não! Por causa das características imponderáveis do mundo BANI, agravado pela pandemia:

– O eclodir da fragilidade (B = Brittle/Frágil) com o receio que estamos suscetíveis a catástrofes a qualquer momento e que todas as organizações que estão construídas sobre bases frágeis podem desmoronar num segundo (vejamos a crise de 2008, com a falência do tradicional banco de investimento norte-americano Lehman Brothers fundado em 1850, bem como o efeito dominó gerado). Ou seja colocou em risco as necessidades fisiológicas e de segurança, que tínhamos como certas.

– O surgimento dum mundo Ansioso (A = Anxious/Ansioso), um dos sintomas mais presentes em todas as vertentes da nossa vida. Ou seja colocou em causa as necessidades de segurança, sociais e de estima.

– A existência de uma sociedade que se tornou Não linear (N = Nonlinear/Não-linear) ou seja que parece desconectada, sem efeito borboleta (“o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, provocar um furacão do outro lado do mundo”). Mas com um efeito  de gatilho (em que “uma faísca faz uma casa inteira pegar fogo”), totalmente desproporcional e inesperado. Sem uma estrutura bem definida e padronizada, logo não sendo possível fazer organizações e planeamentos estruturados,  detalhados e de longo prazo. Desmoronou a satisfação das necessidades de segurança, sociais e de estima (por exemplo, o desejo de responsabilidade e reconhecimento associadas a esta necessidade, desintegraram-se).

– Finalmente um futuro incompreensível (I  = Incomprehensible/Incompreensível), pois as  respostas mais óbvias que serviram no passado, não respondem ás questões actuais, não fazem sentido, destapam a verdade incontornável que não temos o controle sobre tudo. Ou seja toda a pirâmide das necessidades (fisiológicas, segurança, sociais, estima e auto-realização) implodiu para o ser humano.

O Líder tem de ser o transformador mas antes disso, o zelador. Para garantir que a transição de competências e estados de espírito, sejam tranquilas e acima de tudo, naturais. Zelador das pessoas mas também da organização, dos seus objectivos, dos seus stakeholders e da comunidade onde está integrada!

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