A Habitação e os Transportes (Mobilidade)…
Por Ricardo Florêncio
A habitação, ou a falta dela, tem sido um dos temas em destaque em Portugal. E há mesmo uma carência, nomeadamente nos grandes centros urbanos, e em alguns locais mais específicos, como no Algarve, mas por outro tipo de necessidades. Por razões de ordem política, e diria mesmo, ideológica, nunca se olhou para a questão na direcção correcta. E assim, imputa-se a razão de falta de habitação a outros motivos que causam mais “soundbites”: construiu-se menos de que seria necessário nos últimos anos ou existe mais procura do que a oferta. Mas estes não são os únicos problemas a ter em conta. Há a questão da mobilidade, e das estratégias e planos de transportes e mobilidade. Deveria ser normal, que se vivesse a 20, 30, 40 quilómetros dos grandes centros urbanos, desde que se tivesse a segurança que essas pessoas em 30, 45 minutos, conseguissem lá chegar. Nada de anormal, pois é o que acontece em muitos sítios na Europa e não só. Mas para isso, teria de haver uma rede de transportes eficaz e adequada. E assim, sim, poder-se-ia expandir a nossa oferta de habitação. E por outro lado, retirar uma enorme fatia dos automóveis que todos os dias circulam nas nossas estradas. É totalmente demagogo apelar a que as pessoas não usem carros próprios nas suas deslocações, quando têm de apanhar diversos meios de transportes, que muitas vezes não estão articulados uns com os outros. Nem sabem quanto tempo vão demorar a chegar ao seu trabalho.
É claramente urgente que se definam, desenhem, e implementem planos de mobilidade. Enquanto estivermos apenas a olhar para os centros das cidades como locais para habitação, este problema nunca será resolvido.
Editorial publicado na revista Executive Digest nº 221 de Agosto de 2024