Dia Mundial da Terra 2024
Por Carlos de Llera, Head of Sustainability & Climate Change Services da Auren Consulting Portugal
O Dia da Terra, celebrado anualmente a 22 de abril, serve como recordatório da importância de proteger o nosso planeta. Neste sentido, o Dia de Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day), que aconteceu no ano passado a 2 de agosto, tem vindo a ser antecipado, de forma regular e tendencial, nos últimos 50 anos. Neste dia, a procura dos seres humanos pelos recursos naturais (pegada ecológica) excede a capacidade da Terra de se regenerar (biocapacidade), entrando em débito ecológico para com o futuro. Isto significa que nesse dia já gastámos mais recursos renováveis daqueles que o planeta consegue repor num ano.
Nesse contexto, o ESG (Environmental, Social and Governance) surge como um conjunto de princípios e fatores que as empresas podem adotar para minimizar seu impacto ambiental, promover práticas sociais justas e responsáveis e garantir uma modelo de governo corporativo transparente e ético, que permita esta gestão eficaz. Ao integrar fatores ESG na estratégia corporativa, as empresas demonstram o seu compromisso com a sustentabilidade, promovendo interesse de investidores, clientes e novos talentos, além de robustecer a reputação da empresa e mitigar diferentes riscos. Os impactos da integração de políticas e prática ESG são, na sua ampla maioria, positivos, tais como tornar as empresas mais resilientes e competitivas, melhorar a imagem e reputação da marca, aumentar a produtividade e a retenção de talentos, reduzir custos operacionais e mitigar e antecipar riscos, entre outros.
Mas existem diversos desafios enfrentados pelas organizações neste processo, podendo ser destacados a necessidade de uma mudança de cultura organizacional (transversal às organizações), a falta de conhecimento e expertise (contratação e capacitação de recursos humanos), custos de implementação (investimento em novas tecnologias e processos, custos operacionais no curto prazo), a pressão de stakeholders (clientes, investidores e sociedade em geral exigem uma maior transparência e compromisso com a sustentabilidade), o aumento dos desafios regulatórios (falta de clareza e harmonização na legislação ESG e dificuldade em acompanhar as alterações regulatórias), e o risco de greenwashing (comunicação exagerada ou enganosa das ações ESG que podem causar prejuízo à imagem e reputação da empresa).
Para as organizações acompanharem e desenvolverem políticas e práticas de ESG, é necessário sobretudo que o tecido empresarial ganhe uma maior maturidade nesta temática trabalhe em conjunto. Devem ser promovidas contínuas ações específicas de formação e capacitação sobre ESG, disseminado conhecimento através de workshops, palestras e eventos (algo que acontece cada vez mais). É também relevante o apoio do governo e desenvolvimento de regulação na matéria, através da implementação de políticas públicas que incentivem a adoção de práticas ESG e criem um ambiente regulatório favorável à sustentabilidade. É fundamental o desenvolvimento de regulação ESG que traga clareza e transparência, padronização e comparabilidade, promova a inovação e combata o greenwashing. Por último, é crucial o estabelecimento de parcerias do sistema empresarial com instituições de ensino, centros de investigação, associações ou outras empresas para o desenvolvimento de pesquisas, estudos, projetos, plataformas, entre outros, relacionados com a sustentabilidade.
As empresas que não se adaptarem a este novo paradigma correm o risco de ficar para trás num mercado cada vez mais exigente e competitivo, apesar deste caminho ser gradual e contínuo.
Ao celebrarmos o Dia da Terra, é fundamental reconhecer e relembrar a urgência de adotarmos práticas mais sustentáveis, não apenas em matéria ambiental, mas também social e de governance. A consideração e integração de fatores ESG oferece um caminho para as organizações e indivíduos contribuírem para um futuro mais verde, garantindo a preservação do planeta para as próximas gerações.