De Costa a Costa

Por Nuno España, Gestor

Nos últimos tempos reactivei uma paixão minha – o mar. Através de um dos meus melhores amigos comecei devagarinho a entrar no mundo da vela. Fiz novos amigos, comecei em passeios de fim de tarde, passei umas férias num barco, fui desafiado a tirar a carta de marinheiro e até já fiz algumas regatas. Em setembro do ano passado, durante a Lusiadas Saúde Porto Sailing, fiz questão de participar na regata de fecho – a Regata do Infante. Precisava de uma tripulação ao nível do desafio. Os experientes Jorge e Tozé e a Carolina, aprendiz como eu. Mas quem seria o leme?

Apresentaram-me o Diogo Costa, a tão famosa esperança olímpica, de quem já tinha obviamente ouvido falar. Fascinou-me a boa disposição, a alegria, a emoção e paixão, mas sobretudo a sua humildade, que lhe permitiu aprender com o Jorge, muito experiente na classe Platu, e conduzir-nos ao respeitável 3º lugar! O Pedro Costa, irmão e parte da equipa do Diogo, ia noutro barco. Rapidamente me apercebi das claras diferenças entre os dois. Mais distante, sereno, focado no objetivo, é a cabeça quando as coisas não correm de feição. Naquele dia, de costas voltadas, a competir. Fora dali, os dois partilhavam o mesmo percurso, desafios e objectivos e uma enorme vontade de se qualificarem para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Se é verdade que opostos se atraem, também é verdade que se complementam. E enquanto os ouvia falar, algo me fascinou. Aquela era a equipa certa para enfrentar o desafio de ir aos Jogos Olímpicos. Tinham todos os ingredientes para brilhar e estavam verdadeiramente entregues ao seu sonho.

Ainda assim, o seu percurso não foi linear. Em 2018, depois de uma lesão do Pedro, perderam todos os apoios, que só recuperaram no ano seguinte, quando voltaram a ter o apoio da Federação Portuguesa de Vela, que reconheceu e valorizou a forma como estavam a evoluir. Nesse mesmo ano, partiram o porquinho das poupanças e decidiram ir treinar com os espanhóis e suecos, os melhores da classe 470. De facto, “junta-te aos bons e serás como eles”. Há três semanas, em Vilamoura, contra tudo e contra todos, não só foram vice-campeões mundiais, como conseguiram antecipar a qualificação para os Jogos Olímpicos, e ganhar a ultima vaga europeia para Tóquio, em 2021. No pódio, ficaram os “bons” – suecos, portugueses e espanhóis.

Agora, depois de uma merecida mas breve paragem, já arrancaram para uma preparação que querem que seja eximia, dura e cheia de sacrifícios. Vilamoura, Cascais, Lanzarote e por fim Japão, no último mês antes do maior desafio das suas vidas. Não tenho dúvidas que, apesar da sua tenra idade, estão a dar o que têm e o que não têm, embora nada disto se veja ainda.

De alguma forma sinto que com o Pedro e o Diogo vai um bocadinho de todos nós. Somos conhecidos pelo mundo como os grande navegadores da história. Da costa portuguesa a uma costa bem longínquo do Oceano Pacifico, partem estes irmãos de sangue e de vela, com a mesma esperança e coragem, exemplo vivo de que com trabalho, foco, humildade e humanidade, se pode chegar onde se quer. Basta querer-se muito. Não poderia sentir-me mais orgulhoso e de coração cheio, por uma parte de mim ir com eles.

À boa moda do Porto, “tragam o caneco, carago!”

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