XX Conferência da Executive Digest. Planos, políticas ou práticas?

A 20ª Conferência da Executive Digest, subordinada ao tema “Os Imperativos da Responsabilidade Social nas Empresas – Sociais, Ambientais, Corporate, Empresariais”, reuniu um vasto grupo de especialistas para debater e partilhar desafios e oportunidades que esta temática encerra.

Por António Sarmento

A primeira mesa-redonda da conferência foi dedicada ao tema “Planos, Políticas ou Práticas?” e contou com a presença de João Sousa, Administrador Executivo dos CTT, Nélson Pires, Director-Geral da JABA Recordati e Pedro Galhardas, Managing-Director da Accenture. A moderação ficou a cargo de Ricardo Florêncio, CEO da Multipublicações Media Group.

João Sousa diz que nos CTT existe uma grande preocupação com a sustentabilidade, sendo que muitas vezes esta está «casada» com o tema do ambiente, onde entram as operações, a logística e os transportes, entre outros fatores. O responsável lembra que esta preocupação existe desde antes da sustentabilidade ser uma «moda» e refere que o serviço Correio Verde é um exemplo disso mesmo, estando no mercado há mais de 10 anos. Destaque ainda para a maior frota elétrica do sector de transportes e logísticas, sendo esta uma preocupação não só dos CTT mas de muitos dos seus clientes institucionais. Assim, a sustentabilidade nos CTT é um fator presente de forma integrada e com uma agenda muito própria.

Do lado da JABA Recordati, Nélson Pires destaca o papel do sector farmacêutico na sociedade e afirma que aquilo que é uma «moda» para muitas empresas hoje, já existe neste sector há décadas. «Se hoje vivemos até aos 80 anos em Portugal, isso é porque os medicamentos que produzimos o permitem. Obviamente que temos bons técnicos de saúde, mais os meios de diagnóstico que produzimos melhoraram de tal forma que as pessoas que morriam aos 50 anos em Portugal na década de 60, agora vivem até aos 80». Esse é o propósito da área farmacêutica.

Nélson Pires destaca a autorregulação do sector como uma fonte de sustentabilidade e lembra que todas as fábricas da JABA Recordati são certificadas e auditadas, todas estão localizadas na Europa, onde a legislação é clara e 60% do que é vendido em Portugal é produzido no nosso país, contribuindo para uma economia circular e redonda.

Pedro Galhardas destaca a Accenture como uma empresa global, presente em 120 países, com 500 mil colaboradores e com um grande compromisso com a sustentabilidade. A empresa está cotada na Bolsa de Nova Iorque e isso faz com que haja um escrutínio muito forte. Pedro Galhardas diz que à medida que estas preocupações foram passando para outras fontes de financiamento, todas as empresas vão ter ainda mais ambições quanto à sustentabilidade. Refere ainda que a Accenture trabalha com as Nações Unidas há 15 anos e que fez um estudo recente que indica que existe um atraso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Isto significa que esta década será obrigatoriamente de aceleração se quisermos atingir estes objetivos. Para esta aceleração contribui a pandemia, que trouxe para cima da mesa as questões da saúde, das alterações climáticas e do respeito pelo indivíduo, por exemplo.

ESTRATÉGIA

João Sousa, Administrador Executivo dos CTT, realçou também o facto de a pandemia ter vindo acelerar o e-commerce e que isso lançou um desafio para a empresa e para o próprio mercado poder responder. «Tentamos “casar” rapidamente as nossas ofertas e as soluções que tínhamos com uma solução que continuasse a manter a economia a funcionar. Não escondo que estamos muitos contentes com o que fizemos em 2020. Colocámos muitas ofertas no mercado, investimos na oferta de soluções vantajosas a estas PME e micro-negócios para que pudessem continuar a funcionar. Isso fez explodir o crescimento do e-commerce em Portugal». O responsável indicou ainda que a frota dos CTT é a maior frota eléctrica e que a energia da companhia é totalmente verde – além de vários estudos indicarem que o e-commerce reduz em 15% a pegada carbónica.

Para Nelson Pires, Director-Geral da JABA Recordati, quando não estão doentes, as pessoas olham para a área farmacêutica como um dever do estado e não como um dever de uma empresa privada que tem de ter lucros. «Porque senão tiver lucros não consegue reinvestir, não consegue pagar aos fornecedores, não consegue ter empregados, não consegue financiar os programas de responsabilidade social», afirmou.

Na sequência do debate, Pedro Galhardas, Managing-Director da Accenture, explicou a necessidade de distinguir entre as grandes e as PME. «Há uma diferença grande. Há várias empresas que, hoje em dia, quando apresentam o seu plano estratégico já põem o ESG ao mesmo nível daquilo que é a estratégia de negócio. Nos planos estratégicos e na comunicação que se faz aos mercados, o ESG já não é só aquilo que aparece no apêndice. É bem visível, está a ser trabalhado e é muito visível no sector da energia e utilities, no sector financeiro, telecomunicações. Ou seja, nos principais sectores das grandes empresas. A Accenture trabalha com todos os sectores em Portugal de grandes empresas. Ao nível das PME há efectivamente uma décalage. «Mas eu acho que isso é normal. Nestes temas, as cadeias de valor vão ter um papel muito importante. Portanto, as grandes empresas vão ser os motores das cadeias de valor. As PME que gravitam à volta dessas grandes empresas depois vão ter de ir atrás. Vai chegar ao momento, e não vai demorar muito, em que a questão do ESG é a licença para operar.  Há um estudo da Accenture a nível internacional que diz que até 2025 vai haver uma disrupção grande e que os governos vão ter um papel importante nesta disrupção com o tema da Sustentabilidade», reforça Pedro Galhardas.

Mas como fazer valer esta prática do ESG? João Sousa, dos CTT, sublinha a preocupação das novas gerações. «Como somos uma empresa de mercado, o mercado é que nos vai forçar a ter esta resposta. Se é verdade que as empresas devem procurar o lucro, devem procurar soluções para responder, porque as novas gerações vão-nos obrigar a ter uma resposta», conta.

Já Nelson Pires refere que é essencial as empresas pensarem que, em vez de terem trabalhadores e colaboradores, passem a ter cidadãos. «Cada vez que recrutamos alguém dentro da minha empresa, antes de vermos se ele tecnicamente é bom, percebemos se é um bom cidadão e se acrescenta valor à sociedade. Acho que essa é que é a grande reinvenção do capitalismo. Termos empresas que devolvem uma parte do que a sociedade lhes dá, continuando a ganhar dinheiro, senão deixam de ser empresas».

Por outro lado, Pedro Galhardas, preferiu dar uma recomendação prática. «Utilizar o PRR e os fundos que aí vêm, mas com uma ligação directa ao ESG. Empresas que queiram usufruir desses fundos e que os utilizem para temas ESG, mas que depois sejam medidas pela sua evolução e desenvolvimento ao nível desses temas. E esses fundos são fundamentais para aquilo que vai ser o desenvolvimento do tecido empresarial português ao nível das PME».

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