“Vendi a maçã a 25 cêntimos e no supermercado está a dois euros”: Agricultores relatam revolta que motiva bloqueios de Norte a Sul

Ontem viveram-se horas de caos em várias estradas e troços de autoestradas de Norte a Sul de Portugal, incluindo também bloqueio de zonas fronteiriças com maior tráfego (como a fronteira do Caia e Vilar Formoso”. Em causa o protesto de agricultores que, com centenas de tratores fecharam vias de circulação e realizaram marchas lentas, que esta sexta-feira de manhã ainda se verificavam em vários pontos.

Inspirados pelos movimentos do mesmo setor que protestam em França e Espanha ou Bélgica, já depois de manifestações na Alemanha e Polónia, os profissionais portugueses denunciam a atual situação precária que enfrentam.

“Vendi a maçã a 25 cêntimos e no supermercado está a dois euros o quilo. Quem fica com o dinheiro é quem nada produz”, explica José Pinhel, agricultor, ao Correio da Manhã.

Para além do pouco lucro, os custos aumentam. “A palha passou de seis para 20 cêntimos”, conta Rui Sequeira. “gastamos num hectare de milho cerca de 3300 euros. Para realizarmos esse valor, ao preço a que está o milho, precisamos de 15 toneladas. Não é possível fazê-lo face aos custos”, conta outro agricultor de Montemor-o-Velho.

As críticas apontam ao Governo, à falta de apoios que, denunciam, chegam tarde. “Esta é a pior ministra da Agricultura que este País já viu. Cortou nos apoio prometidos sem ter dado qualquer satisfação aos agricultores”, reclama Paulo Sebastião, da Guarda, ao mesmo jornal.

Os agricultores paralisaram na quinta-feira importantes vias de norte a sul do país, incluindo fronteiras, com alguns dos movimentos a começarem a desmobilizar à noite, após garantias sobre os apoios anunciados pelo Governo. O protesto foi organizado pelo Movimento Civil de Agricultores e juntou-se às manifestações que têm ocorrido noutros pontos da Europa.

Na quarta-feira, o Governo avançou com um pacote de ajuda aos agricultores, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que não travou os protestos agendados para hoje, de Norte a Sul do país.

Segundo a informação disponibilizada quinta-feira à Lusa, a maior parte das medidas que integra o pacote de apoio entra em vigor ainda este mês, com exceção das que estão dependentes de luz verde de Bruxelas.

No contexto europeu, a Comissão Europeia vai preparar com a presidência semestral belga do Conselho da UE uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos ministros da Agricultura dos 27 Estados-membros do bloco europeu no próximo dia 26 de fevereiro.

*Com Lusa

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