Ucrânia prepara contra-ataque para recuperar territórios ocupados e estes mapas apontam as cinco rotas possíveis para a operação

A Ucrânia quer colocar um ‘ponto final’ na invasão e recuperar os territórios ocupados pela Rússia com a sua anunciada contraofensiva. Para Kiev, esta só poderá chegar quando terminar a estação das chuvas e receber o máximo de armamento possível por parte dos aliados da NATO. Segundo Oleksii Reznikov, ministro da Defesa, Kiev deve lançar a operação entre o final de maio e o início de junho.

E como se vai processar esta contraofensiva? Ainda é um mistério mas há cinco rotas, de acordo com os analistas ouvidos pelo jornal espanhol ‘El País’, que são tidas como as mais prováveis.

Zaporizhia, em direção ao Mar de Azov

Zaporizhia, no sudeste do país, é um dos pontos mais promissores para lançar uma possível contraofensiva. Se o ataque partir deste flanco, as forças ucranianas podem tentar chegar a Melitopol, na costa do Mar de Azov, dividindo assim em duas a zona ocupada pelos russos e cortando o abastecimento entre o Donbass e a Crimeia.

Segundo as Forças Armadas da Ucrânia, Kiev está a preparar unidades de tanques nesta região. Já possui cerca de 200 tanques fornecidos por parceiros da NATO dispostos ao longo da frente, embora os detalhes sejam desconhecidos – as informações sobre o que está a acontecer na frente foram drasticamente reduzidos aos civis e aos media.

Moscovo, que controla mais da metade dos 27.180 quilómetros quadrados que compõem a província de Zaporizhia, anunciou a evacuação de civis de 18 cidades. A Rússia também planeia a saída de pelo menos 3 mil pessoas da central nuclear, a maior da Europa, que controla há 14 meses. A maioria das trincheiras russas recentemente localizadas está concentrada a leste do reservatório de Kakhovka, que separa a central nuclear da cidade de Zaporizhia.

Kherson, o desafio do Rio Dnieper

A tensão também cresce na região sul de Kherson, a sudoeste de Zaporizhia, seguindo o rio Dnieper, que separa os dois exércitos. As tropas ucranianas vêm testando as defesas russas há meses para lançar operações de desembarque do outro lado do rio.

Uma contraofensiva neste flanco é possível, embora seja uma opção bastante complexa: o Dnieper tem cerca de um quilómetro de largura e é muito difícil estabelecer uma ponte de ligação sem primeiro derrubar a artilharia russa. Além disso, é uma área de terreno fluvial e pântanos, o que dificulta o acesso de armas e veículos pesados.

A região de Kherson foi capturada pela Rússia no início da invasão. Kiev recapturou o norte da província, incluindo a capital, numa contraofensiva em novembro passado, quando forçaram as forças russas para o sul através do Dnieper. Recentemente, as autoridades pró-Rússia anunciaram a evacuação de famílias inteiras nas partes da província que permanecem ocupadas, um sinal de que a Rússia espera uma possível ofensiva neste ponto.

Bakhmut

A cidade de Bakhmut, no leste de Donetsk, é controlada quase inteiramente pelas forças do Kremlin e tornou-se um símbolo da resistência ucraniana. Aqui o exército russo começa a dar sinais de exaustão.

Um dos sintomas mais visíveis do cansaço russo em Bakhmut é o desacordo crescente entre as suas Forças Armadas e o grupo Wagner. O chefe da organização paramilitar acusou Moscovo de fugir das suas posições na cidade e têm subido de tom as recriminações, ameaças e sinais visíveis de falta de comunicação entre as partes. As tropas ucranianas, que controlam apenas cerca de 2,4 quilómetros quadrados da cidade, realizaram vários contra-ataques nos últimos dias.

Segundo o porta-voz do Exército na região, o principal objetivo da Ucrânia em Bakhmut é destruir as áreas de concentração russa e cercar a cidade, sem realizar ataques frontais.

Donetsk, quebrando o controlo pró-russo

Além da frente sul, a Ucrânia pode realizar uma contraofensiva a partir de toda a província de Donetsk, na frente oriental do país, para romper o cerco russo aos municípios de Bakhmut, Avdiivka ou Marinka. Uma ofensiva por essa região aproximaria as tropas das Forças Armadas ucranianas da cidade de Donetsk, a maior cidade sob controlo russo, ocupada por forças pró-Rússia ou do Kremlin desde 2014.

Além de Bakhmut, as últimas atualizações do ISW indicam batalhas recentes na cidade devastada de Marinka, mais ao sul, e avanços da Ucrânia ao longo da linha ferroviária de Krasnohorivka e através de Ivanivske. Por outro lado, a Rússia assegurou recentemente que Novopil, a oeste de Vuhledar, foi tomada pelas suas tropas e que fizeram avanços perto de Berkhivka. Foram construídas trincheiras russas desde março passado ao longo de toda a linha de frente de Donetsk.

Depois de uma primeira fase da guerra em que as forças russas atacaram massivamente as principais cidades ucranianas, os esforços ofensivos começaram a concentrar-se na região oriental de Donbass. O objetivo russo nesta região é, segundo o ISW, capturar toda a província de Donetsk, onde as cidades de Kramatorsk e Sloviansk, bem como partes de Bakhmut, permanecem sob controlo ucraniano.

Kharkiv, o caminho para chegar a Lugansk

Embora a região de Kharkov, no nordeste da Ucrânia, seja uma das frentes menos ativas atualmente, é também uma das possíveis zonas de lançamento para a contraofensiva ucraniana tentar penetrar em Lugansk. Fontes russas garantem que tropas ucranianas estão a realizar operações de sabotagem e reconhecimento perto da área de Kremina (província de Lugansk, fronteira com Kharkiv).

As forças russas e ucranianas continuam a lutar entre Novoselivske e Kuzemivka (13 quilómetros a noroeste de Svatove), e o exército russo estabeleceu as primeiras linhas de defesa ao longo do lado leste da ferrovia, perto de Novoselivske. Como afirma o ISW, o objetivo russo é capturar o resto da província de Lugansk (que controla quase completamente) e se mover para o oeste em direção ao leste de Kharkov e à área norte de Donetsk.

No final de 2022, a Ucrânia expulsou os russos de quase toda a província de Kharkiv e da metade ocidental de Kherson, graças a uma contraofensiva organizada de vários pontos ao mesmo tempo.

Para esta ocasião, os analistas concordaram que a contraofensiva terá vários pontos de ataque e manobras de desvio que obrigarão o exército russo a diluir as suas tropas e munições.

Embora todas as atenções estejam agora voltadas para quando, onde e como será a contraofensiva, o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, fez questão de baixar as expectativas: “Não considerem esta contraofensiva a última, porque não sabemos o que vai sair disto”, alertou o responsável.

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