Tosse convulsa está de volta a ‘infetar’ a Europa: e a culpa é da Covid-19

Embora a pandemia da Covid-19 tenha terminado oficialmente em 2023, são os mais recentes casos de tosse convulsa, que têm aumentado em toda a Europa nos últimos meses, que preocupam os responsáveis sanitários.

A retroinfeção é a mais recente doença da era vitoriana a regressar ao Ocidente, depois do aumento do sarampo, da sífilis, da gota, da lepra e da malária. Na Rep. Checa, indicou a publicação ‘POLITICO’, onde há relatos de escassez de vacinas para a tosse convulsa, o número de casos atingiu o seu nível mais elevado dos últimos 60 anos, segundo dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) – foram também registados aumentos acentuados na Dinamarca, Bélgica, Espanha e Reino Unido nos últimos meses.

“A maior parte do aumento nos últimos anos deveu-se ao regresso aos níveis anteriores à Covid-19”, indicou Paul Hunter, professor de medicina na Universidade de East Anglia. “Isso exceto este ano, quando as infeções aumentaram dramaticamente e estão a caminho de exceder qualquer total anual que vimos em mais de três décadas”.

Para colocar em perspetiva – em 2023, foram registados em Inglaterra um total de 853 casos. Só em fevereiro deste ano, ocorreram 913 casos, segundo a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido (UKHSA). O atual ‘hotspot’ da Europa está na Croácia, que notificou 6.261 casos nos primeiros dois meses e meio deste ano.

A queda nas taxas de vacinação é parte do motivo para esta propagação, alertou um relatório do ‘British Medical Journal’ (BMJ). Na maioria dos países europeus, os bebés recebem as duas primeiras doses da vacina combinado contra tosse convulsa, difteria e tétano entre os dois e 12 meses, com outra dois aos 2 anos e uma dose final entre os 3 e 7 anos.

Mas para proteger os recém-nascidos da doença, também podem ser oferecidas vacinas contra a tosse convulsa às mulheres grávidas. Em Inglaterra, segundo o BMJ, a adesão caiu de mais de 70% em setembro de 2017 para 58% em setembro de 2023 – um dado que, segundo os especialistas, é particularmente preocupante, dado o risco que representa para os bebés.

Embora a tosse convulsa possa ser muito desagradável para os adultos, esta pode ter complicações graves em bebés. Os adolescentes entre os 15 e 19 anos constituem a maioria dos casos atuais, mas “praticamente todas as mortes” na EU este ano ocorreram em bebés com menos de três meses, segundo o ECDC – houve quatro mortes nas últimas semanas nos Países Baixos, mais do dobro do que a taxa anual habitual.

No entanto, há outra causa sugerida para este aumento: segundo a agência europeia de doenças, a Covid-19 pode ser culpada. “O aumento atual está potencialmente ligado à menor circulação durante a pandemia de Covid-19, combinada com uma adesão insuficiente à vacinação em certos grupos durante a pandemia”, indicou o ECDC num relatório de março último.

Vacinar as pessoas é fundamental para conter o surto, mas está a tornar-se mais fácil falar do que fazer: no Reino Unido, há cinco serviços regionais de saúde relataram que a pandemia afetou negativamente as taxas de vacinação, além de um declínio a longo prazo.

“Vimos muita desinformação por parte do lobby anti-vacina durante a pandemia e penso que havia uma grande preocupação por parte de alguns de nós de que essa desinformação se espalhasse e se transformasse em hesitação em torno da imunização de rotina”, destacou Michael Head, investigador sénior na área global na Universidade de Southampton, que destacou o surto de sarampo na Europa, largamente atribuído devido à queda dos níveis de imunização.

O que é?

A tosse convulsa, também denominada como tosse coqueluche ou pertússis, é uma doença infecciosa aguda, causada pela bactéria Bordetella pertussis, que compromete o aparelho respiratório (traqueia e brônquios).

Quais são os sintomas?

A tosse convulsa caracteriza-se por três fases:

– fase catarral (1-2 semanas), ocorre inflamação e corrimento nasal, tosse não produtiva, febre baixa (sintomas do trato respiratório alto)
– fase paroxística (2-6 semanas), verifica-se um agravamento da tosse com momentos de intensidade, que podem ser acompanhados de cianose (coloração azulada da pele e dos lábios) e inchaço da língua. Tipicamente existe um ruído inspiratório e a tosse pode provocar o vómito. A tosse é mais frequente no período noturno e agrava-se com o choro ou a deglutição
– fase de convalescença (2-6 semanas), há uma diminuição progressiva da intensidade e frequência da tosse, desaparecendo o ruído inspiratório e os vómitos. Pode prolongar-se durante meses com episódios recorrentes de tosse, desencadeados por infeções respiratórias virais

Podem ocorrer formas atípicas de doença em:

– recém-nascidos e lactentes, em que a fase catarral é muito curta ou mesmo ausente, inexistência de guincho inspiratório, apneia e dificuldade respiratória
– crianças vacinadas, adolescentes e jovens adultos, em que a sintomatologia é menos pronunciada, podendo manifestar-se como tosse persistente.

Como se transmite?

A tosse convulsa transmite-se de pessoa para pessoa através de gotículas de saliva expelidas pelo espirro ou tosse. Também pode ser transmitida pelo contacto com objetos contaminados com secreções do doente. O período de contágio é mais intenso na primeira semana.

Como se previne?

A vacinação constitui a medida preventiva mais importante. No Programa Nacional de Vacinação (PNV) está contemplada a administração de 5 doses da vacina pertussis acelular, segundo o esquema: 2, 4, 6, 18 meses e 5 anos.

Ler Mais