Tik Tok. Pode esta rede social fazer tremer um País?
Este mês, o primeiro comício de Donald Trump após a quarentena tinha promessas de casa cheia em Tulsa, no Oklahoma. Mas o que aconteceu deixou o presidente-norte americano à beira de um ataque de nervos. Foram tão poucas as pessoas que se deslocaram para o comício que a arena nem sequer encheu. Conta a CNN que a certa altura começaram a circular mensagens no Tik Tok a encorajar as pessoas a se registarem online para o evento sem que depois lá fossem. E terá sido exatamente isso que aconteceu. Ou seja, terá sido mesmo via Tik Tok que o comício se tornou num completo fracasso.
A nível global, o TikTok (uma plataforma de partilha de vídeos curtos muito usada pelos jovens) está disponível em mais de 150 países e tem 1,7 mil milhões de utilizadores que passam em média 65 minutos por dia na aplicação. E está no bom caminho para atingir o patamar dos dois mil milhões de instalações. A app foi uma das mais populares das lojas virtuais em 2019 e, neste início de 2020, também está recorrentemente nos lugares cimeiros de descarregamentos. Os números atuais também permitem verificar que a app chinesa tem o Brasil e a Índia como os seus principais mercados.
Segundo dados económicos obtidos pela agência noticiosa Reuters, em 2019 as receitas do primeiro semestre ultrapassaram todas as expectativas e fixaram-se entre sete mil milhões e oito mil milhões de dólares. Dos 500 milhões de utilizadores estimados pelo mundo, cuja média de idade varia entre 16 e 24 anos, 90% visitam a rede social mais de uma vez por dia durante cerca de 52 minutos. O que equivale a mil milhões de vídeos vistos a cada 24 horas.
Tudo isso transformou o TikTok numa máquina de fazer dinheiro. A consultora Sensor Tower estima que a receita anual deste rede social tem aumentado mais de 500%. A publicidade é a base principal do modelo de negócio. “Para obter lucros é preciso ter um volume enorme de tráfego, muitos milhões de visitas”, diz Jeffrey Towson, professor do MBA da Universidade de Pequim, citado pelo El País. Recentemente, a rede social esteve envolvida numa polémica por terem sido divulgados documentos que revelam que a rede social TikTok, detida pela chinesa ByteDance, terá ordenado aos moderadores de conteúdos da plataforma que “abafassem” os vídeos criados por pessoas consideradas feias, pobres ou com deficiências.
Em fevereiro de 2019, o TikTok, foi condenado a pagar 5,7 milhões de dólares (equivalente a cerca de 5,1 milhões de euros) por ter violado as leis de privacidade online das crianças norte-americanas. A decisão partiu da Federal Trade Commission, a agência norte-americana responsável por proteger os direitos dos consumidores. Uma coima justificada com as mesmas razões, mas de 170 milhões de dólares, foi aplicada ao YouTube, detido pela Google, em setembro do mesmo ano.
Um segundo motivo de desconfiança é a política que o TikTok aplica à gestão do conteúdo. A aplicação terá bloqueado vídeos que denunciavam a violação de direitos humanos na China, em particular com relação à situação da etnia uigur na província de Xinjiang, onde mais de um milhão de pessoas são vítimas de encarceramento maciço. A plataforma alegou mais tarde que se teria tratado de um erro humano relacionado com uma publicação anterior.
Em dezembro passado, o Exército dos EUA proibiu seus soldados de terem conta na aplicação, argumentando que o seu uso poderia representar uma ameaça para a segurança nacional. Os senadores Tom Cotton e Chuck Summer chamaram os serviços de inteligência para avaliar a atividade do TikTok. A ByteDance, por sua vez, respondeu com um comunicado, afirmando que seus servidores ficam nos países onde o app está disponível. Os diretores da empresa, porém, negaram-se a comparecer perante uma comissão do Congresso encarregada de examinar os vínculos da indústria de tecnologia com a China.
Em Portugal, a rede social chinesa TikTok já tem 1,8 milhões de utilizadores. O valor foi revelado recentemente por Cristina Figueira, gestora de contas digitais da Azerion Portugal, a empresa que é responsável pela gestão da publicidade do TikTok no mercado português, durante uma conferência promovida pela Lisbon Digital School. O número de utilizadores do TikTok aumentou 36% entre fevereiro e abril, ganhando mais de 500 mil novos registos. Por comparação, em maio de 2019 o TikTok tinha 800 mil utilizadores, o que significa um crescimento de um milhão de novos perfis apenas no período de um ano.