“Temos apostado em pessoas com talento e domínios diferentes”, diz co-fundadora e CTO da Luminate Medical

A Luminate Medical está a desenvolver o dispositivo LILY, um dispositivo criado para prevenir a queda de cabelo durante a quimioterapia, usada para o tratamento do cancro.

Bárbara Oliveira é co-fundadora e CTO da Luminate Medical, uma empresa de dispositivos médicos com sede em Galway, Irlanda, focada em melhorar a experiência de pacientes oncológicos durante a quimioterapia. O primeiro produto é um dispositivo desenvolvido a pensar nos pacientes para prevenir a queda de cabelo durante a quimioterapia. Formou-se em Engenharia Biomédica, tendo completado um mestrado na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e um doutoramento na National University of Ireland Galway, que se focou no diagnóstico de cancro da mama usando machine learning e imagem por microondas. O seu interesse e visão são claros, e consistem em desmistificar a fronteira entre a investigação e a aplicação no paciente, em desenvolver produtos que possam ser usados livremente por todos.
Cada um dos membros da equipa fundadora da Luminate Medical tem qualidades e mais-valias diferentes. O principal objectivo é melhorar a medicina para os pacientes.  

Quando surgiu a ideia de criar a Luminate Medical?
A Luminate Medical foi criada em 2018 quando os três fundadores estavam a trabalhar no Translational Medical Device Lab, em Galway, Irlanda: Bárbara Oliveira, Aaron Hannon e Martin O’Halloran. Eu estava a trabalhar num ensaio clínico com pacientes com cancro da mama, e contactei diariamente com a realidade que é ser diagnosticado com cancro, e o quanto isso impacta os pacientes a nível físico e emocional. O Aaron Hannon trabalhava enquanto investigador no laboratório em dispositivos médicos focados na qualidade de vida de pacientes. Em conjunto com o Martin O’Halloran, o director do laboratório, apercebemo-nos que partilhávamos um interesse em contribuir para a qualidade de vida dos pacientes, e em particular, verificámos que a queda de cabelo durante a quimioterapia, era um problema muito grande que necessita de uma resposta.  

Em que consiste o projecto?
A Luminate Medical está a desenvolver o dispositivo Lily, um dispositivo criado para prevenir a queda de cabelo durante a quimioterapia, usada para o tratamento do cancro. À parte deste dispositivo, também já nos começámos a focar no desenvolvimento de um segundo dispositivo, para a prevenção da neuropatia periférica, outro dos efeitos secundários da quimioterapia, que é altamente debilitante para os pacientes.  

Como foi o seu percurso profissional e académico?
Formei-me em Engenharia Biomédica na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, tendo-me focado em imagem da mama por mamografia por emissão de positrões para a minha tese de mestrado que terminei em 2012. Mudei-me depois para Galway, para desenvolver o meu doutoramento em imagem da mama por microondas, que terminei em 2018. Durante todo o meu percurso académico, tive sempre uma grande curiosidade em perceber o impacto do desenvolvimento da tecnologia nos pacientes, e este interesse acabou por culminar com o trabalho que desenvolvi num ensaio clínico com pacientes de cancro da mama, que foi fulcral para sedimentar o meu interesse em tecnologias desenvolvidas com o paciente em mente.  

Liberdade, competição, criatividade ou cooperação. O que considera importante para o trabalho de um empreendedor?
Liberdade para perseguirmos as nossas ideias, competição para querermos ir mais longe, criatividade para concebermos novas soluções e cooperação para combinar o melhor de vários mundos. No entanto, tenho que dar especial relevo ao factor cooperação. Cada um dos membros da equipa fundadora da Luminate Medical tem qualidades e mais-valias diferentes, e é a combinação delas que nos faz avançar sempre mais. E este valor estende-se à equipa que construímos até agora. Temos apostado em pessoas com talento e domínios diferentes, mas também dispostas a apostarem na nossa visão e missão de querer melhorar a medicina para os pacientes.  

Que principal diferença encontra entre a realidade portugue-sa e a do estrangeiro face ao empreendedorismo e à Ciência?
Comentando apenas enquanto à diferença entre Portugal e Irlanda, a Irlanda tem vários mecanismos disponíveis para financiar novas ideias, nova tecnologia e nova ciência. Inclusive, existem mecanismos que permitem a equipas ambiciosas explorar uma nova ideia sem a necessidade de recorrer a financiamento privado, o que é extremamente positivo numa fase em que as ideias ainda precisam de ser maturadas. Existem também mecanismos diferentes para conceitos a serem explorados num seio puramente académico, ou para conceitos que visam serem comercializados no futuro – e é muito importante que os mecanismos de financiamento tenham compreendido esta diferença.  

Enquanto empreendedora qual é o seu principal sonho?
Criar um produto que de facto ajude os pacientes e a sua qualidade de vida. Muitas vezes a experiência da medicina não está focada no paciente (por vários motivos, por exemplo, a existência de efeitos secundários, ou simplesmente a dificuldade que os pacientes enfrentam para poderem usufruir de certos produtos e tratamentos), e nós gostaríamos muito de contribuir de alguma forma para mudar isso.  

Como é o seu dia-a-dia de trabalho na Irlanda?
Os dias mudam muito. Neste momento estamos focados no desenvolvimento do dispositivo, e na preparação do ensaio clínico para o dispositivo Lily, pelo que passo muitos dos meus dias a colaborar com a equipa na testagem do dispositivo, e no desenvolvimento dos protocolos necessários para o ensaio clínico. Vamos a conferências para dar a conhecer o nosso trabalho. Há um pouco de tudo, mas sem dúvida que passamos sempre muito tempo a contactar com pacientes e médicos que nos possam dar a conhecer sempre mais sobre a realidade em que vivemos.  

Estando longe de Portugal, como “mata” saudades?
Muitas vídeo chamadas para casa! Não fugindo ao estereótipo, sempre que posso também levo bacalhau comigo para a Irlanda, para poder cozinhar algo com sabor a casa! 

Ler Mais