“Suspeita, opacidade, ambiente nocivo.” A explosiva carta do ex-CEO da Renault à Nissan

Três dias antes da sua saída, Thierry Bolloré, CEO da Renault, enviou uma carta de dez páginas na qual denunciou os erros da administração da Nissan. Thierry Bolloré foi afastado em Outubro da Renault. Mas só agora se tornou pública a explosiva carta que o ex-CEO escreveu ao “board” da Nissan. E aquilo de que acusou os japoneses.

Quando, na véspera de 8 de Outubro, Thierry Bolloré assina a carta de dez páginas que envia ao conselho de administração da Nissan, ainda não sabia que seria um dos seus últimos actos como director executivo da Aliança: Renault-Nissan-Mitsubishi. Avança o “Le Monde”.

O director da Renault, que também é membro do conselho de administração do grupo japonês, seria demitido a 11 de Outubro. Mas a missiva que envia aos seus homólogos levanta uma série de questões sobre a opacidade do parceiro da Renault e sobre a atmosfera nociva que reina no topo de uma das joias mundiais do automóvel.

“Le Monde” conseguiu aceder à explosiva carta. A carta refere que a suspeita, a denúncia e a retenção de informações prevalecem entre a gestão do grupo e os directores, e entre os próprios directores. Uma organização sem uma cadeia de comando legível, na qual um dos representantes da Renault – principal accionista da Nissan com 43% do capital – é informado pela imprensa ou por cartas anónimas, contrariando a via hierárquica tradicional.

Claramente, mais de um ano após a prisão do presidente, Carlos Ghosn, por crimes fiscais, a Nissan ainda está profundamente abalada.

O que contém a carta? Bolloré levanta vários assuntos que destacam problemas críticos de governance. “Para minha surpresa”, escreveu de acordo com o “Le Monde”, “nenhuma destas questões foi trazida à minha atenção pela administração da Nissan ou pelos órgãos de governance, mas por artigos da imprensa ou por denunciantes.

Refere-se às informações reveladas pelo “Wall Street Journal” a 23 de Setembro. O director jurídico da Nissan, Ravinder Passi, alertou os directores a 9 de Setembro de um potencial conflito de interesses em relação a Hari Nada, vice-presidente de assuntos jurídicos da Nissan, imediatamente substituído no cargo por conselho de administração.

Hari Nada, foi um dos que derrubaram Ghosn, beneficiando, de repente, da protecção legal que os promotores japoneses dão às testemunhas. Naquele momento, Hari Nada continuou, apesar do envolvimento no caso Ghosn, a tomar decisões ao mais alto nível da Nissan em questões de governance, assuntos legais e conformidade.

A divulgação pelo “Le Monde” da carta de Bolloré, acontece no momento em que a Renault procura um substituto definitivo para o seu antigo CEO, lugar desempenhado interinamente por Clotilde Delbos, até então directora financeira do Grupo.

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