Soldados fogem da Rússia, EUA não encontra recrutas e UE tem ‘mini-exércitos’: jovens não têm interesse em seguir carreira militar

Rússia, Estados Unidos e Europa sofrem de um problema militar comum: a maioria dos exércitos carece de soldados. Este é provavelmente um dos problemas de defesa mais delicados mais também um dos mais ignorados.

Vejamos o caso de Moscovo: a mobilização parcial dos reservistas da Rússia revelou a falta de vontade de lutar entre uma população que até está habituada ao serviço militar obrigatório, que nunca foi suspenso na ex-URSS. Confrontados com a possibilidade de serem enviados para a Ucrânia, dezenas de milhares de russos abandonaram o recrutamento e fugiram para a Geórgia, Arménia ou Cazaquistão.

Nos Estados Unidos, o cenário não é diferente: cerca de 50 mil soldados deixam as forças armadas todos os anos para regressar à vida civil. Em 2023, com a maior crise militar em curso desde o fim da Guerra Fria, e pela primeira vez em anos, o exército americano não conseguiu cumprir as previsões de alistamento e ficaram vagos 15 mil postos.

Na Europa, o tamanho dos exércitos foi reduzido: em primeiro lugar, devido à decisão de quase todos os países do Velho Continente em eliminar o serviço militar – o exército de massas foi substituído por um exército profissional, mais bem preparado e eficaz.

Segundo Vincenzo Boce, professor de Ciência Política da Universidade de Warwick, no Reino Unido, indicou, em declarações ao jornal espanhol ‘El Confidencial’, que a abolição do serviço militar obrigatório aumentou a confiança dos cidadãos nas instituições. No entanto, a transformação das forças armadas, a redução de pessoal e do orçamento militar deixaram tanto os Estados Unidos como a Europa com exércitos bem preparados, mas numericamente insuficientes para enfrentar um cenário de guerra.

No entanto, o conflito na Ucrânia forçou a Europa a olhar para dentro das suas capacidades de defesa individual. Num contexto em que a paz regional já não é um dado adquirido, muitos políticos europeus começaram a considerar a opção do serviço militar obrigatório. No entanto, a decisão é polémica: a maioria dos cidadãos, em particular os jovens, não estão dispostos a entrar no exército “porque não partilham dos objetivos e metas gerais” do mesmo: não têm motivação, os salários são baixos e as condições de trabalho são difíceis e perigosas.

A discussão sobre o serviço militar obrigatório subiu de tom no Reino Unido e na Alemanha e até em países em que o exército é uma coisa natural – como Dinamarca ou Lituânia -, foi proposto dar-se um passo extra.

“As forças armadas da Europa, especialmente as que estão na fronteira com a Rússia, estão agora a perceber que não têm homens suficientes”, garantiu Vincenzo Bove, especialista em recrutamento. “Eles veem claramente o alistamento como uma solução”, referiu. “Não temos a certeza de que seja uma boa ideia em termos de dissuadir uma possível invasão dos russos.”

No entanto, não há provas concretas de que os exércitos recrutados sejam mais eficazes do que as tropas regulares. “Basta ver o que está a acontecer na Rússia com os recrutas… Eles não estão muito motivados. Os jovens são forçados a alistar-se e a maioria deles prefere fazer outra coisa.”
“Três anos não são suficientes para dominar os fundamentos da guerra. Até o uso de armas simples exige muito treino”, referiu o professor, que serviu na Marinha italiana durante 15 anos. “Alguns países trazem a ideia de programas de três meses, mas isso não é nada. Eles não vão aprender sequer a dizer olá”, brincou Bove.

Ler Mais