Rússia recusa levar para casa mais de 21 mil soldados mortos. Cadáveres acumulam-se em camiões frigoríficos

Os cadáveres de soldados russos continuam a acumular-se em camiões frigoríficos na Ucrânia. Em Dnipro, o vice-presidente da Câmara contou ao El Mundo que centenas de corpos de militares russos permanecem nestas morgues ambulantes.

Apesar da brutalidade dos atos cometidos pelas forças russas na Ucrânia, Mykhailo Lysenko, o vice-presidente da Câmara de Dnipro, admite ter ficado “chocado” quando começou a receber os cadáveres dos soldados russos e “ninguém quis recuperá-los”.

“Começámos a recolhê-los no dia 4 de março. Não podíamos simplesmente deixá-los por aí. É um princípio humanitário. Apesar da crueldade que têm mostrado, eles também têm mães e devem ser enterrados com dignidade”, afirmou Lysenko.

O vice-presidente da Câmara Municipal de Dnipro revelou ao El Mundo que chegaram a contar “cerca de 1.500 corpos” nos camiões frigoríficos. Agora há 600 corpos de soldados russos nestes camiões, muitos em estado de decomposição.

“A maioria reconhecemos pelos uniformes. Alguns, os que são membros da unidade de elite, têm placas de metal nos pescoços. Aos outros simplesmente tiramos fotografias, amostras das gengivas e das unhas e guardamo-las em sacos com um número”, explicou Lysenko.

A situação em Dnipro não é diferente noutras cidades ucranianas. No início de abril, um dos assessores de Volodymyr Zelensky, referiu que as morgues locais já tinham acumulado sete mil corpos de militares russos. Oleksiy Arestovych sublinhou que o governo de Kiev tentou devolver três mil corpos de soldados russos a Moscovo. Mas o Kremlin rejeitou receber os corpos, argumentando que não acreditava ter sofrido tantas baixas na guerra da Ucrânia.

“Compreendo perfeitamente qual é a lógica de Putin para declinar receber estes cadáveres”, assinala Lysenko. “Imagine o problema que seria ter que admitir já perdeu 21 mil soldados?”.

Esta postura do Kremlin não é nova, como recorda a dirigente do Comité de Mães de Soldados, Valentina Melnikova. Numa entrevista recente que concedeu a um canal do YouTube, Melnikova partilhou que durante a guerra na Chechénia milhares de cadáveres de soldados russos ficaram abandonados durante um mês nas “ruas de Grozny”, e chegaram a ser comidos por animais.

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