Rússia ataca navio com cereais ucranianos em águas de Estado-membro da NATO, acusa Kiev
A Ucrânia acusou a Rússia de ter atacado um navio civil que transportava cereais, na noite de quarta para quinta-feira, em águas próximas da zona da NATO. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou o incidente ao início da tarde de quinta-feira, sublinhando que o navio foi atingido logo após sair das águas territoriais ucranianas. Segundo o líder ucraniano, não há registo de vítimas resultantes do ataque.
O porta-voz da Marinha Ucraniana, Dmytro Pletenchuk, confirmou à agência Reuters que o navio não se encontrava no corredor de exportação de cereais estabelecido para a circulação segura de embarcações. O navio estaria já na Zona Económica Exclusiva (ZEE) da Roménia, nas proximidades do delta do Danúbio, fora das águas territoriais ucranianas. Pletenchuk acrescentou que a Rússia utilizou bombardeiros estratégicos Tu-22 para realizar o ataque.
Entretanto, a Roménia, membro da NATO, reagiu rapidamente às alegações ucranianas. A porta-voz da Autoridade Naval romena, Irina Puscasu, garantiu que o navio não foi atacado nas águas territoriais romenas. “O que posso confirmar neste momento é que o navio em questão não se encontrava nas nossas águas territoriais”, afirmou Puscasu à Reuters. Acrescentou ainda que “não foi solicitada qualquer assistência por parte da nossa autoridade”.
As águas territoriais de um país estendem-se até 12 milhas náuticas (aproximadamente 22 quilómetros) a partir da sua costa, enquanto a Zona Económica Exclusiva (ZEE) pode alcançar até 200 milhas náuticas (cerca de 370 quilómetros). Deste modo, as versões apresentadas tanto pela Ucrânia como pela Roménia não se contradizem, uma vez que o ataque ocorreu na ZEE romena, mas fora das suas águas territoriais.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andrii Sybiha, condenou o ataque, considerando-o uma grave violação das regras internacionais. “Este é um ataque descarado à liberdade de navegação”, afirmou Sybiha, salientando que o incidente será imediatamente reportado às Nações Unidas e à Organização Marítima Internacional. “Instamos os nossos parceiros a reagirem de forma firme e decidida a este crime”, apelou o responsável ucraniano através de uma publicação na rede social X (antigo Twitter).
This Russian strike is a brazen attack on freedom of navigation and global food security, in violation of UNGA Res. A.1183. Ukraine will immediately notify the United Nations and inform the International Maritime Organization of this crime. We urge partners to respond strongly. https://t.co/33eyxx4APj
— Andrii Sybiha 🇺🇦 (@andrii_sybiha) September 12, 2024
Por sua vez, o presidente Volodymyr Zelensky reforçou a importância de proteger o corredor de exportação de cereais da Ucrânia, fundamental para garantir a segurança alimentar global. “O trigo e a segurança alimentar não podem ser alvos de mísseis”, destacou o presidente ucraniano. Zelensky lembrou ainda que a Ucrânia é um dos principais exportadores de produtos alimentares, especialmente para os países africanos e do Médio Oriente, e que qualquer interrupção nas exportações ucranianas pode ter graves repercussões para a segurança alimentar mundial.
“O normal funcionamento do nosso corredor de exportação é crucial para a vida e estabilidade interna de dezenas de países em todo o mundo”, alertou Zelensky. O líder ucraniano prometeu continuar a fazer tudo ao seu alcance para proteger os portos do país, o Mar Negro e as exportações de alimentos, sublinhando que esta deve ser uma prioridade não só para a Ucrânia, mas para toda a comunidade internacional.
Este ataque surge num momento de crescente tensão no Mar Negro, onde as rotas de exportação de cereais ucranianos têm sido repetidamente interrompidas desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022. A Rússia retirou-se unilateralmente do Acordo de Cereais do Mar Negro, em julho de 2023, alegando que as suas exigências não estavam a ser atendidas. Desde então, os ataques a infraestruturas portuárias e a navios mercantes na região têm-se intensificado, dificultando as exportações agrícolas ucranianas, vitais para muitos países em desenvolvimento.