Reunião do BCE: Aumento de 75 pontos base é “amplamente antecipado pelos mercados e não deve ser uma surpresa”

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou em setembro que decidiu aumentar em 75 pontos base as suas três taxas de juro diretoras, o segundo aumento consecutivo deste ano.

A taxa de juro das principais operações de refinanciamento passou de 0,50% para 1,25%, a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez de 0,75% para 1,50% e a taxa aplicada à facilidade permanente de depósito de 0% para 0,75%.

“O Conselho do BCE tomou a decisão – e espera continuar a aumentar as taxas de juro – porque a inflação permanece demasiado elevada, sendo provável que se mantenha acima do objetivo durante um período prolongado”, refere banco central em comunicado divulgado após a reunião do Conselho de Governadores. Esta quinta-feira, há nova reunião de política monetária.

Franck Dixmier, Diretor Global de Investimentos em Obrigações, da Allianz Global Investors (AllianzGI), é da opinião de que o banco central deve manter o rumo, tendo em conta que a inflação da Zona Euro está a estabilizar a níveis elevados, com uma subida das taxas “em linha com as expectativas”. Sobre a conferência de imprensa da Presidente do BCE, Christine Lagarde, vai ter a atenção dos mercados, para saberem o que vai “dizer sobre o encolhimento do balanço do banco central”.

“Desde a última reunião BCE em setembro, pouco mudou no contexto da inflação. A inflação continua a subir, com um aumento de 1,2% dos preços face a agosto, ainda que o valor de setembro de +9,9% ano-após-ano esteja ligeiramente abaixo das expetativas do mercado de 10%. A inflação está a estabilizar-se em níveis elevados e a espalhar-se para a economia, como indica a sua parte base, em +4,80% ano-após-ano. No entanto, as negociações salariais apenas começaram num clima social tenso em toda a zona euro.”

O Diretor Global de Investimentos em Obrigações da AllianzGI acrescentou ainda que “por outro lado, a situação do BCE está a tornar-se mais desconfortável”, pois “o cumprimento do seu mandato exige que aumente os juros tanto quanto necessário para trazer a inflação para uma trajetória compatível com o seu objetivo de estabilidade de preços” e o conjunto de “políticas na zona euro não ajuda” pois “os planos de apoio dos governos para o poder de compra e a procura estão a encorajar os aumentos de preços”.

A análise refere que o crescimento da região está cada vez mais fraco, com dados que apontam para uma recessão, mas confirma que “a avaliação do BCE deve permanecer inalterada: atrás da curva, deve continuar a agir com rapidez e firmeza e deverá anunciar uma subida de 75 pontos base. Este número é amplamente antecipado pelos mercados e não deve ser uma surpresa”.

“Espera-se que Christine Lagarde reafirme que o Quantitative Tightening só vai começar após o final do ciclo de alta dos juros sem dar detalhes sobre o timing. Esta abordagem não é consensual, pois o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, já manifestou o seu desejo de reduzir o balanço o mais rápido possível. Os mercados vão estar a olhar com interesse”, conclui Franck Dixmier.

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