Reino Unido “enfrenta” Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Londres quer ter a última palavra na deportação de migrantes ilegais

O governo britânico vai levar a votação esta quarta-feira uma nova Carta dos Direitos que vai afirmar a primazia do Supremo Tribunal britânico e estabelecer que as decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) não são vinculativas.

De recordar que essa instância judicial europeia impediu, no dia 14 e junho, que o Reino Unido fosse avante com a deportação para o Ruanda de vários requerentes de asilo, considerando que existia “um risco real de danos irreversíveis” sobre essas pessoas.

O Vice-Primeiro-Ministro Dominic Raab escreveu no Twitter que “a nossa moderna Carta dos Direitos irá fortalecer a tradição britânica de liberdade de expressão, e melhor proteger o público de criminosos perigosos”. No vídeo que acompanha a mensagem, Raab diz que a liberdade de expressão no Reino Unido tem sido delapidada “por causa do politicamente correto e de outras restrições” e que é preciso “devolver senso comum ao sistema”.

Conta a ‘Aljazeera’ que a ministra da Administração Interna, Priti Patel, teria sugerido recentemente que a decisão do TEDH de impedir a deportação dos migrantes tinha sido alimentada por motivações políticas.

A sociedade civil já se insurgiu contra a proposta do governo de Boris Johnson. Num artigo de opinião publicado no ‘The Guardian’, o responsável da Amnistia Internacional no Reino Unido diz que a Justiça britânica “está a dar uma machadada na mais poderosa ferramenta de direitos que o nosso país alguma vez teve”.

Sacha Deshmukh afirma que “para acreditar que vamos ganhar direitos com esta legislação requer sérias acrobacias mentais”, acrescentando que “se o governo pensa que tirar direitos às pessoas comuns neste país com um gesto da caneta será popular, está enganado”.

“Ignorem o nome desta legislação”, apela o responsável da AI, acrescentando que “esta é uma proposta de retirada de direitos, e deixar-nos-á todos mais pobres”.

Em abril, Boris Johnson anunciou um acordo com o Ruanda, no qual ficou definido que as pessoas que entrarem ilegalmente no Reino Unido serão deportadas para aquele país da África Oriental. Em troca, o Ruanda vai receber milhões de libras em ajuda para o desenvolvimento.

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