Qual o perfil de liderança que vemos hoje nas empresas? Especialistas respondem

Os líderes das empresas enfrentam atualmente desafios novos, desde a pandemia à digitalização, o que levanta a questão se estes estão preparados para lidar com estas adversidades, se são capazes de se adaptar, e quais as ferramentas fundamentais para um líder.

Arthur Diniz, CEO da Crescimentum, e Ricardo Martins, Diretor-Geral da CEGOC falam à ‘Executive Digest’ sobre o que é liderança e partilham ferramentas para a construção de um verdadeiro líder.

 

Qual o perfil de liderança atualmente identificado?

Arthur Diniz: Essa é a pergunta que mais recebo hoje em dia: qual o perfil de liderança que vemos hoje nas empresas, e qual seria o perfil ideal para o contexto atual.

Tendo em conta a minha experiência através do desenvolvimento anual das competências de milhares de líderes de grandes empresas, posso dizer que o perfil mais comum é o de líderes executores e centralizadores, que foram promovidos a cargos de chefia pela sua performance e conhecimento técnico do negócio, mas que nunca receberam formação sobre como liderar.

Como perfil ideal, vejo um líder empático, que cuida, aprende continuamente e desenvolve a sua equipa para maximizar resultados. Esse líder ideal também é inclusivo e ágil, além de ser transparente e um exemplo de valores e comportamentos.

A diferença entre atual e ideal é grande, mas podemos acelerar a mudança dos modelos mentais desses líderes. Quando eles passam a acreditar que podem e devem desenvolver os seus colaboradores, para que sejam capazes de alcançar resultados, a transformação acontece rapidamente.

 

 

Quais os principais desafios que estes enfrentam com o cenário geopolítico atual?

Arthur Diniz: Todos os líderes enfrentam desafios comuns à nova realidade pós-pandemia.

Em primeiro lugar, a saúde mental. Depois de dois anos de pandemia, precisam de saber lidar com muitas pessoas que padecem de doenças mentais de todas as espécies, que viveram um grande período de isolamento e medo, e ainda tiveram de aprender a fazer o seu trabalho de formas radicalmente distintas.

Depois, o trabalho híbrido ou remoto. Aqui, o grande estímulo passa por encontrar o modelo ideal de trabalho, agora que podemos escolher: 100% remoto, híbrido ou 100% presencial. Como liderar equipas e criar culturas organizacionais em modelos tão distintos, onde cada colaborador deseja uma forma diferente de gestão? Como envolver as equipas que se encontram raramente em contexto presencial ou que, inclusivamente, nunca se encontram?

Em seguida, a denominada “Grande Renúncia” (Great Resignation). As empresas enfrentam atualmente um enorme turnover em todo o mundo, o que faz com que os líderes tenham em mãos a necessidade de envolver os colaboradores para que estes não saiam da empresa, bem como o de formar e desenvolver os novos profissionais em tempo recorde.

Por fim, a diversidade. Mais do que nunca, as empresas descobriram o poder e a urgência de ter forças de trabalho diversas, em todos os sentidos. Isto significa liderar de forma inclusiva e aproveitar a diversidade e a singularidade de cada um como uma grande alavanca de resultados e transformação social.

 

Qual a importância que deve ser dada à formação e de que forma pode potenciar o crescimento das empresas?

Arthur Diniz: Tendo por base o trabalho que tenho vindo a fazer nos últimos 20 anos, estou convicto de que a única forma de sustentar o crescimento de uma empresa é apostar na formação dos seus líderes. Foi por isso que criámos o programa Leader of the Future há alguns anos, como forma de acelerar de forma disruptiva o desenvolvimento das suas competências. Através da imersão, da gamificação e de metodologias diferenciadoras, conseguimos acelerar o desenvolvimento de líderes de forma exponencial. O resultado tem sido extraordinário, quem passa por esta experiência de formação transformadora impacta a performance de centenas ou milhares de pessoas nas respetivas empresas, com a geração de resultados num curtíssimo espaço de tempo.

Como referi anteriormente, um líder cuida, envolve e desenvolve os seus colaboradores todos os dias. Por isso, é tão importante nas empresas, e por isso é tão importante investir na sua formação.

 

 

O investimento em novas tecnologias tem sido suplantado ano após ano. Estão os atuais líderes preparados para a revolução tecnológica em curso?

Ricardo Martins: A aceleração tecnológica tem impactado de forma impiedosa todos os setores de atividade. Basta trazer para o debate estudos como o da Harvard Business Review, que revela que, desde 2000, mais de metade das empresas (52%) da Fortune 500 “faliu, foi adquirida ou deixou de existir como resultado da disrupção digital”. Isto leva-me a crer que nem todos os líderes estão totalmente preparados para acompanhar a passada exigente da revolução tecnológica em curso, que inclui soluções Cloud, Big Data, IoT, robótica, automação, impressão 3D, blockchain, IA, realidades virtual e aumentada, etc.

A minha experiência no apoio que damos a outros líderes de organizações de média e grande dimensão aponta para que nem sempre é fácil entender o alcance desta mudança tecnológica. Geralmente atrelados a velhas crenças, hábitos e práticas, colidem de frente com a necessidade de instalar novos procedimentos e formas de trabalho, ou novas formas de atrair, reter e desenvolver o talento.

No entanto, quando esta resistência (por vezes, até antipatia!) inicial à mudança dá lugar à resignação e, posteriormente, à participação entusiasta, os resultados desta simbiose chegam a ser extraordinários para pessoas e organizações: mais autonomia, mais flexibilidade, mais agilidade, mais eficiência, mais dados para suportar e racionalizar decisões e operações de negócio, melhores ferramentas para envolver o cliente e aumentar a sua satisfação… Resumidamente, em competitividade e diferenciação no mercado. Por outro lado, a aposta tecnológica só faz sentido se permitir aos líderes e equipas ganharem tempo para desafios e iniciativas mais estratégicos e transformacionais, inerentes ao seu papel na organização.

 

 

Que líderes devemos ter amanhã?

Ricardo Martins: No âmbito do nosso programa internacional Leader of the Future, identificámos 7 qualidades essenciais a qualquer líder que queira promover a autonomia e a mestria nas suas equipas, com a criação de condições para que cada membro possa dar um contributo singular para o desenvolvimento da organização.

Em primeiro lugar, a humildade, a qual permite ao líder introspeção para trabalhar sobre si próprio, reconhecer a experiência dos outros e criar assim uma verdadeira cultura de aprendizagem. Depois, a recetividade em relação ao mundo exterior, para que seja capaz de ler os sinais e de se colocar em perspetiva para tomar decisões informadas.

De seguida, a criatividade para fazer ligações entre ideias que aparentemente nada têm a ver umas com a outras, mas que permitem inovar na hora de resolver problemas e apresentar soluções.

Também a ousadia. Apesar da relutância típica das “aves de mau agouro”, e dos desafios crescentes, o líder do futuro deve atrever-se a correr riscos e assumir responsabilidades.

A confiança é outro aspeto crucial. Complementada com a ousadia na hora de entrar em ação, permite ao líder tranquilizar e convencer os demais, seja qual for o contexto e os obstáculos.

Em penúltimo, a integridade para assumir a responsabilidade pelas suas ações e projetos a todos os níveis, sejam estes, pessoal, em relação aos outros membros da organização e sob um ponto de vista mais macro, social e ambiental. Por fim, a resiliência. Tal como os atletas de alta competição, os líderes do futuro devem manter-se mentalmente fortes e utilizar todo o seu potencial para obter o maior êxito possível na sua missão, sem deixar de conservar a sua força e energia através de um esforço constante e regular.

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