Próxima semana à lupa: Dos mercados à economia – e outras coisas que precisa de saber

Antevisão

Os dados macroeconómicos americanos das próximas semanas poderão ser impulsionados por dois fatores: os cheques de estímulo de $1400 enviados na semana que passou e no início da próxima semana e também o bom tempo. As tempestades que ocorreram no mês de fevereiro nos EUA já passaram, e o início da primavera poderá levar os americanos à rua e o consumo a aumentar. Esta acaba por ser uma boa notícia para a atividade dos EUA, além de outras razões mais habituais: i) expansão fiscal, ii) fraqueza do dólar em 2020 e iii) e confinamento cada vez menos rígido. Na passada quinta-feira assistimos a uma forte subida no índice da Fed de Filadélfia, o que vem reforçar a atualização em alta das projeções económicas do Banco Central. O Philly Fed subiu dos anteriores 23,3 para 51,8, o valor mais alto dos últimos 48 anos. Mês após mês, vimos o setor da manufatura a impulsionar a recuperação económica e não tardará para que comecemos a assistir a uma tendência semelhante nos serviços.

Inflação

Atualmente, há a especulação de que a inflação na zona euro ou na Alemanha possa chegar aos 4% já este verão, quase ao mesmo tempo que a inflação dos EUA pode chegar a 3%. Isso acontece ao mesmo tempo que os dados de PMI permanecem muito fortes.

Emprego

O bom tempo e a reabertura do setor de serviços podem levar a que os dados do non farm payrolls (NFP) atinjam um milhão, já no mês de Março ou então em Abril. As autoridades dos EUA argumentaram que a taxa de desemprego subestima a fraqueza do mercado de trabalho devido ao abandono da força de trabalho – a taxa de participação caiu dois pontos percentuais. A taxa de emprego é uma medida que tem em conta esse efeito, e que caiu do nível pré-pandêmico de 61,1% para um mínimo recorde de 51,3% em abril do ano passado; neste momento situa-se nos 57,5%. O que é interessante é que, se extrapolarmos a leitura do NFP para um milhão, a proporção emprego / população voltará aos níveis pré-pandêmicos antes do Natal, o que acaba por ter algum impacto psicológico.

Vacinação

O ritmo de vacinação na europa tem sido um desastre. Há apenas uma semana atrás a grande preocupação era a falta de distribuição de vacinas na UE. Alguns funcionários da UE culparam na altura o Reino Unido por uma “proibição de exportação” que impedia a distribuição da vacina da Oxford-AstraZeneca. Vários dias depois, a maioria dos países da UE pararam de usar a vacina da AstraZeneca devido a alegados efeitos secundários, ao mesmo tempo que a Rússia anunciou acordos para começar a produzir mais vacinas Sputnik-V na UE.

China

Na China, o PBoC alerta para possível turbulência nos mercados financeiros devido à divergência de políticas do país com os Estados Unidos. E essa divergência pode aumentar ainda mais. Depois de aprovado o pacote de estímulo de 1,9 triliões de dólares, poderá ser aprovado um pacote de infraestruturas ainda maior. Esta é uma má notícia para os títulos do Tesouro dos EUA mas também uma má notícia para países como a China. Talvez alguns países venham a +precisar de aumentar as taxas de juro para evitar o enfraquecimento das suas moedas.

Yields

As yields deverão continuar a manter-se altas e a inclinação da curva a aumentar. O objectivo de inflação média da Fed, aliado ao programa de expansão fiscal e monetária de 2020/2021 sugere maior inflação e, portanto, yields a longo prazo mais elevadas. O próximo target das yields americanas é os 2,0%.

Calendário macroeconómico

Durante a semana: Discurso de membros da Fed e decisão sobre o possível prolongamento do SLR (Supplementary Leverage Ratio) para além de 31 de março

22/03:  Divulgação do montante de compra de obrigações pelo BCE

24/03:  Flash PMI na zona euro

25/03 e 26/03: Cimeira da União Europeia

 

Nuno Mello, analista XTB

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