“Praias de perder de vista, mar transparente”: Rússia promove Crimeia como destino de férias em plena contraofensiva da Ucrânia

A Crimeia, anexada ilegalmente pela Rússia em 2014, tem sido palco de sucessivos ataques com drones contra alvos navais, linhas ferroviárias, depósitos de petróleo e outras infraestruturas. Ainda no mês passado, Moscovo acusou Kiev de disparar mísseis contra a ponte que liga a península ao sul da Ucrânia.

Mas, apesar da insegurança verificada, e numa altura em que a Ucrânia leva a cabo a sua contraofensiva que anteriormente se especulava que poderia incluir a recuperação da Crimeia, as autoridades russas afastam qualquer preocupação nesse sentido e, com a chegada do verão, até estão a tratar de promover a península como destino de férias paradisíaco.

O Washington Post dá conta da proliferação, nas últimas semanas, de anúncios e campanhas promocionais de pacotes de férias e casas para alugar.

“Para quem sonha com o mar! A Crimean Holidays convida-o a passar suas férias de verão nas praias do Mar de Azov”, lê-se num anúncio que promete “praias de perder de vista, mar transparente e uma infraestrutura hoteleira em desenvolvimento” que “não deixarão ninguém indiferente.

Outras promoções apregoam “as praias mais brancas da Crimeia”, onde se pode “relaxar e aproveitar o verão com estilo”.

Com uma extensa costa, desde o tempo dos czares que a Crimeia é destino de férias para as elites e cidadãos comuns da Rússia, sempre com grande movimento de turistas, em especial durante os meses de verão.

No entanto, a guerra na Ucrânia, que se arrasta há quase ano e meio, teve um efeito muito notório na redução da atividade turística e o setor está mesmo em risco de destruição, sendo que a península depende economicamente dos turistas.

As autoridades locais recusam problemas, por exemplo, com a destruição da ponte de ligava a Rússia à Crimeia ou com o colapso da barragem de Kakhovka, e apresentam-se otimistas com a temporada de verão.

No entanto os dados mostram que o otimismo não é tudo. Do total de reservas em hotéis russos feitas este ano, só 1% foi feito em unidades hoteleiras na Crimeia, segundo mostra o portal Ostrovok.Ru. A percentagem está abaixo dos 3% do ano passado e muito inferior aos 19% registados em 2021. Dados oficiais revelam que a receita turística caiu um terço, com 60% das empresas do setor na Crimeia a registarem perdas no ano passado.

Nikita Krimskiy, guia turística em Yalta, conta ao mesmo jornal que “há menos pessoas na Crimeia do que o normal”, e culpa o facto de algumas pessoas terem sido “intimidadas por notícias militares e várias ‘falsificações'”.

Já Anna, gerente de marketing em hotéis e agências de turismo na Crimeia, assegura que tem recebido “muitos telefonemas com muitas perguntas” sobre questões de segurança, indicando que muitos potenciais turistas estão a cancelar as reservas ao último minuto, preocupados com os ataques recentes.

Há hotéis que reduziram os preços em até 60%, outros que nem sequer abriram portas. Mas há quem fale em “praias repletas”.

Sem voos para a Crimeia, a ferroviária russa aumento o número de comboios para a península, e as autoridades criaram mais pontos de inspeção de veículos na ponte, para reduzir os tempos de espera dos motoristas.

“A dinâmica, claro, não será a mesma de 2021, quando a Crimeia quebrou seu recorde de turismo”, assinala Maya Lomidze, diretora-executiva da Associação de Operadoras de Turismo da Rússia, que garante que a península continua entre os cinco principais destinos de férias dos russos este ano.

“O fluxo turístico em 2023 será aproximadamente 30% menor do que no ano passado”, admite a responsável, ressalvando que os visitantes “leais”, que vão à Crimeia todos os anos, vão sempre voltar, aconteça o que acontecer.

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