Portugueses pagam lixo deixado por turistas estrangeiros na fatura da água
São os portugueses que pagam os serviços de recolha e tratamento do lixo produzido por milhões de turistas que todos os anos visitam o país, um custo que está a ser cobrado diretamente nas faturas mensais de água, alertou esta quinta-feira a presidente da Sociedade Ponto Verde (SPV), Ana Trigo Morais, citada pelo ‘Jornal de Negócios’.
A associação, que gere o sistema integrado de embalagens, não tem feita uma avaliação dos custos associados, mas sublinhou que é urgente a contabilização. “Não sei dizer quanto é que isto vale, mas é bastante injusto para os contribuintes terem de pagar na taxa de gestão de resíduos associada ao consumo de água das suas casas os resíduos produzidos pelos turistas. Sejam eles colocados nos ecopontos ou não. Há uma externalidade da atividade turística nas vilas, praias, montanhas, cidades, e quem está a pagar são os moradores desses sítios”, frisou a responsável, sustentando que esse impacto pode e deve “ajudar a melhorar a gestão dos resíduos nas regiões afetadas”.
Assim, de acordo com a responsável, o primeiro passo é acabar com a taxa de gestão de resíduos indexada ao consumo de água, o que está previsto para 1 de janeiro de 2025. “No dia em que isso acontecer, os contribuintes vão questionar-se: porque é que eu pago tanto pelos resíduos, se eu só produzo isto?”, referiu, destacando que outra solução passa por utilizar as taxas turísticas cobradas pelos municípios, uma decisão que parte de cada autarquia.
“As garrafas de água de plástico que os turistas compram – e os portugueses também – vão parar às papeleiras e daí para aterro ou incineração. Falta implementar os sistemas de depósito e reembolso nos supermercados, a recolha porta a porta, para passarmos a pagar o lixo em função do que produzimos”, defendeu o ambientalista Rui Berkemeier, da associação Zero.
A responsabilidade, defendeu Ana Trigo Morais, é o facto de “Portugal não estar a cumprir as metas está na recolha dos resíduos. É um fator crítico para o sucesso da reciclagem. Seja de uma embalagem, de um telemóvel, de peças de roupa ou móveis, medicamentos”.
De acordo com dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), de 2022, o país produziu mais de cinco milhões de toneladas de resíduos urbanos (um quarto são embalagens), com 77% de recolha indiferenciada e 21% de recolha seletiva. Aqui, 9% vêm dos ecopontos e 4% do porta a porta.
Quanto ao destino dos resíduos, 57% – três milhões de toneladas – ainda vão para aterro e 15% para incineração. Apenas 16% foram reciclados em 2022. “Chamamos-lhes lixo, mas há valor económico nos resíduos. Neste momento, estamos a enviar para aterro recicláveis no valor de 35 milhões de euros”, sustentou a presidente da Sociedade Ponto Verde.
“O país tem um grave problema de aterros, que estão a esgotar-se. Por isso, no espaço de 10 anos queremos zero embalagens nos aterros. Não é aceitável que continue a acontecer”, lembrou Ana Trigo Morais, sustentando que “Portugal não cumpre historicamente as metas de reciclagem dos resíduos urbanos, exceto nas embalagens, que são da responsabilidade da SPV”. “Os resíduos têm sido o parente pobre da política ambiental em Portugal”, concluiu.