Trump pode ser o ‘novo’ Ronald Reagan? Os impactos do regresso à Presidência segundo analistas

A eleição de Donald Trump, que voltou a vencer nas urnas americanas, foi recebida de forma menos chocante do que em 2016, quando o ex-presidente conquistou o cargo pela primeira vez. Num cenário global que já conhece o seu estilo de liderança, a vitória de Trump desta vez suscitou reações de ansiedade e preparação em algumas capitais, e de celebração em outras, mas não de surpresa. A experiência acumulada pelos governos com a sua presidência anterior permitiu que muitos se antecipassem a um possível retorno.

Para muitos observadores, a vitória de Trump nas urnas—desta vez com uma confortável margem nos estados-pêndulo, um número sólido de votos populares e uma provável maioria nas duas câmaras do Congresso—mudou a perceção sobre o alegado “divisivo” sistema político dos EUA. Este resultado cimentou a ideia de que os Estados Unidos, ao contrário do que se dizia, podem unificar-se sob uma liderança como a de Trump, especialmente num momento em que ele não terá de enfrentar processos como o da investigação russa, que marcou o seu primeiro mandato. Desta vez, Trump parte com um mandato claro e uma liderança reforçada, tanto internamente como na cena internacional.

A posição de Trump no palco mundial: maior credibilidade e desafios

Trump regressa à presidência com uma autoridade renovada que, de acordo com alguns analistas citados pelo jornal Politico, lhe poderá conceder uma liberdade de ação que não teve em 2017. O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, referiu-se a Trump esta semana como “imprevisível”. No entanto, a sua liderança agora parece-lhe mais consolidada. Tal como Ronald Reagan, Trump pode moldar o panorama global, embora muitos se questionem sobre qual será o seu enfoque—se o isolacionismo ou o intervencionismo militar e económico.

Para alguns, a postura de Trump evoca uma linha de continuidade com Reagan, especialmente no que toca à ideia de “Paz pela Força”, princípio adotado pelos que veem nos EUA um defensor da liberdade numa nova “Guerra Fria”. Niall Ferguson, historiador económico britânico, destacou esta linha de pensamento, vendo potencial para que Trump se torne uma figura forte no palco internacional, tal como Reagan foi durante a Guerra Fria. No entanto, esta realidade é complexa, dado que os EUA enfrentam agora um bloco de potências autoritárias, liderado pela China e acompanhado pela Rússia, Irão e Coreia do Norte, que se reuniram recentemente em Kazan, Rússia, num encontro que muitos viram como um possível embrião de um mundo paralelo ao dos EUA e seus aliados.

Primeiros testes: escolha de equipa, apoio à Ucrânia e política comercial

Entre os desafios imediatos que Trump enfrenta, destacam-se a composição da sua equipa, a postura face à guerra na Ucrânia e as políticas comerciais. A seleção dos membros da sua administração será reveladora: figuras como o ex-conselheiro de segurança nacional Robert O’Brien e o senador da Florida Marco Rubio, conhecidos defensores de uma política externa ativa, contrastam com o vice-presidente eleito JD Vance, que representa a ala isolacionista da sua base. Analistas observam que a escolha de figuras como Johnny McEntee e Kash Patel poderia indicar uma administração mais polarizadora, enquanto perfis mais moderados e experientes poderiam sinalizar maior estabilidade.

A Ucrânia será um teste imediato da política externa americana. Para os europeus e asiáticos, a resposta dos EUA à situação ucraniana será vista como um indicador de como Washington pode agir em outras frentes de tensão, particularmente no Indo-Pacífico. Durante a campanha, Trump criticou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, e afirmou querer encerrar o conflito rapidamente, embora sem definir de que forma. “Qualquer vitória para Putin será uma vitória para a China”, alerta um analista, reforçando que uma concessão neste conflito poderia enfraquecer a posição dos EUA e dos seus aliados no cenário global.

Comércio e economia global: um teste à liderança económica dos EUA

A política comercial será outra área crítica. Trump, que no passado demonstrou uma forte inclinação para tarifas elevadas, poderá, no entanto, voltar a negociar acordos comerciais, como fez ao reformular o pacto de comércio livre com o Canadá e o México. Desta forma, ele poderá adotar uma abordagem pragmática que proteja a economia americana e o comércio global, ao mesmo tempo que mantém uma posição dura com a China. Num contexto onde a recessão global e a inflação são riscos tangíveis, a sua política tarifária será monitorizada de perto.

As próximas decisões de Trump vão ditar a forma como os EUA agirão em temas globais, num cenário em que muitos esperam ver um líder forte, capaz de enfrentar ameaças internacionais com uma postura clara. Com uma vitória que lhe deu não apenas a Casa Branca, mas também um Congresso alinhado, Trump tem agora a oportunidade de moldar as políticas internas e externas com menos obstáculos do que teve no seu primeiro mandato. O tempo dirá se ele escolherá um caminho de liderança similar ao de Reagan ou se se manterá fiel ao isolacionismo do seu lema “América Primeiro”.