Portugueses defendem NATO e querem que novo Governo aumente gastos em Defesa, aponta sondagem

O futuro Governo tem margem para reforçar orçamento das Forças Armadas, segundo revelou esta segunda-feira uma sondagem publicada no ‘Diário de Notícias’: de acordo com dados da NATO, 66% dos portugueses querem que o país permaneça na aliança atlântica, contra apenas 12% que pretende a saída. Há também uma larga maioria a favor de um aumento dos gastos em Defesa: 77% dos cidadãos nacionais pretendem que se mantenha (34%) ou aumente (43%) – só 9% dos portugueses defendem um corte.

Em 2014, os aliados da NATO comprometeram-se a atingir 2% do PIB em gastos militares, uma barreira que Portugal não conseguiu cumprir. António Costa assegurou aos aliados a intenção de atingir os 2% até 2030 – no Orçamento do Estado para 2024, estão assinalados 2,8 mil milhões de euros de investimento, um aumento de 13,7% face ao ano anterior. “Não cumprimos com o objetivo de 2% e estamos longe de o cumprir. Um aspeto que deverá fazer refletir muito o novo Governo sobre as prioridades que deve dar à Aliança Atlântica”, comentou João Rebelo, presidente da Comissão Portuguesa do Atlântico.

“Após as eleições, o provável futuro primeiro-ministro também considera que, apesar do compromisso, que garante querer cumprir, não será possível atingir este valor no imediato”, indicou Francisco Proença Garcia, professor de Estratégia do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. “Ao ritmo atual de reforço do investimento não iremos atingir os 2% até ao final da década (ficaremos pelos 1,7%/1,8%)”, apontou Bruno Cardoso Reis, diretor do Doutoramento em História e Defesa do Instituto Universitário de Lisboa e da Academia Militar. “É fundamental, para a nossa credibilidade face aos aliados e para ter em conta um mundo mais conflituoso, que o novo Governo faça um esforço de reforço mais acelerado do investimento em Defesa. Nomeadamente, tendo em contas as lições aprendidas da guerra na Ucrânia e as mudanças tecnológicas em curso.”

“Os compromissos internacionais assumidos são para cumprir ou ficaremos fora do clube como aliados pouco responsáveis e pouco credíveis, deixando o ónus da nossa segurança para os outros. Porém, as opções políticas no atual quadro de necessidades internas implicam grande inovação e criatividade para que se possa cumprir o prometido”, indicou Proença Garcia.

No entanto, os números portugueses não estão todos ‘no vermelho’: o investimento em equipamento “passou de 8 em 2014 para 22% em 2023”, assinalou Cardoso Reis. “Isso é fundamental e permitiu pela primeira vez atingir um dos dois objetivos com que nos comprometemos todos na Cimeira de Gales para ser atingido em 2024. E tem uma tradução prática, por exemplo, num reforço significativo da capacidade de transporte militar e de duplo uso com novos aviões de transporte militar KC-390 em parte fabricados em Portugal nas OGMA”, frisou, indicando ser “crucial” o reforço de capacidades de novas tecnologias, em particular drones, assim como meios de defesa antiaérea, de costa e de guerra submarina.

“As escolhas políticas têm de ser feitas e explicadas aos cidadãos, e a Defesa, hoje, num quadro internacional de guerra na Europa, deve ser encarada cada vez mais como um investimento, devendo o Estado criar oportunidades e procurar nos incentivos europeus alguns instrumentos financeiros que permitam o desenvolvimento do nosso parque industrial de Defesa, associado à investigação e à inovação, incorporando tecnologia e investimento externo, procurando com esta área também ser gerador de emprego e de riqueza”, defendeu Proença Garcia.

Ler Mais