Portugal em seca: “Continuam a regar campos de golfe enquanto o deserto se expande pelo sul. É imoral”, denuncia associação

A situação de seca em Portugal agravou-se de abril para maio, e já todo o território continental está em seca, com mais de um terço (35,2%) em seca severa e extrema.

Várias associações ambientalistas, em entrevista à CNN Portugal, alertam para a situação e apela a que sejam tomadas medidas efetivas e eficazes para a poupança de água e melhor gestão dos recursos hídricos em Portugal.

A rega de relvados é uma das situações criticada por Alexandra Azevedo, presidente da Quercus, que defende que em Portugal deviam ser aplicadas medidas para restringir consumos supérfluos como encher piscinas, regar relvados e campos de golfe. Em França, por exemplo, o governo já proibiu em alguns distritos no sul, lavar carros, regar os jardins e relvados e encher ou comprar piscinas de jardim.

Os campos de golfe são apontados como outro caso de desperdício de água, gritante em termos de seca. “As pessoas que querem jogar golfe devem ir jogar golfe na Irlanda ou na Escócia, que são os locais de origem do desporto – porque fazia sentido naquele clima. Continuam a regar campos de golfe enquanto o deserto se expande pelo sul do país, enquanto mais de 40% do território está em seca extrema ou severa. Não há uma gota de água que devesse ir para esses campos.”, indica o investigador de alterações climáticas João Camargo, à CNN Portugal.

A Associação Zero defende uma limitação imediata da rega dos campos de golfe e um programa aplicada em cada município para garantir que não há perdas de águas nas piscinas grandes.

Para já, Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, afasta medidas restritivas relacionadas com o consumo de água, dizendo que proibição “ainda não é necessária”.

Francisco Ferreira da Zero, indica que medidas como o aumento do preço da água para o consumidor doméstico são “demagogia”, justificando que a fatia que esse consumo representa é “irrisória”, quando comparada com a quantidade de água que é usada nos setores da agricultura ou indústria.

“Uma redução de 50% do gasto doméstico é irrelevante com uma redução de 5% do gasto agrícola. Quando estamos a falar de aumentar os preços da água, não estamos a falar de aumentar os preços da água para os agricultores ou para a indústria, é para as pessoas em casa, sendo que a maior parte delas não tem uma piscina”, explica o responsável.

Perto de 75% da água em Portugal é utilizada na atividade agrícola e pecuária, pelo que, para além de pensar a soluções a longo-termo para responder à seca instalada sobretudo a sul, no Alentejo e Algarve, os especialistas ouvidos indicam a necessidade de reformas neste setor.

“Isto significaria em boa medida mudar os tipos de colheitas que fazemos, a maior parte das colheitas que fazemos deixar de fazê-las -, portanto abandonar muito a agricultura de exportação, as famosas ‘cash drops’, e ativamente promover uma vegetação adequada à conservação da água e do solo”, defende João Camargo, criticando a proliferação das culturas de bagas e frutos vermelhos no Alentejo.

“Continuamos a repetir o ciclo de colapso. Já houve outras civilizações que passaram por este processo de avanço das atividades humanas da expansão urbana, que foram desflorestando o bosque natural, criando as tais secas, pondo em causa a produção de alimentos, causando fome e obrigando as populações a fugir ou a morrer”, avisa Alexandra Azevedo, da Quercus, indicando que sem florestas, não vai haver água.

 

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