Porque é que a Disney enfrenta uma possível luta indirecta?

Por: Chris Morris, Fast Company

Peltz é uma pedra no sapato de Iger há algum tempo, ameaçando pela primeira vez uma luta indirecta em Janeiro de 2023. No mês seguinte, cancelou essa batalha, mas em Outubro voltou a ameaçar o mesmo. Agora, ao que parece, a guerra está prestes a começar depois de a Disney se ter recusado a apoiar as tentativas de Peltz de se juntar ao seu conselho de administração.
Peltz lançou um site, o RestoreTheMagic.com, e tenciona usar mensagens no X (o antigo Twitter), para apresentar os seus argumentos aos accionistas. (Para além de si próprio, Peltz está também a fazer pressão para que o antigo director financeiro da Disney, Jay Rasulo, se junte ao conselho de administração.)
As lutas indirectas podem ser um pouco confusas para quem não segue de perto uma empresa. Eis o que precisa de saber sobre este caso.

O que é uma luta indirecta?
As lutas indirectas ocorrem quando um grupo (normalmente de accionistas) tenta pressionar os gestores ou o conselho de administração de uma empresa a mudar. Essa mudança pode ser qualquer coisa, da política empresarial à liderança e ao controlo financeiro de uma empresa. Normalmente, começam quando o(s) accionista(s) sente(m) que os seus problemas ou queixas não estão a ser abordados, o que o(s) leva(m) a tentar influenciar um grupo maior de accionistas a votar a favor da mudança na reunião anual.

Porque lançou Peltz uma luta indirecta contra a Disney?
Em última análise, como seria de esperar, trata-se de dinheiro. Peltz, num processo de procuração junto da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), referiu que não está satisfeito com o desempenho das acções da Disney nos últimos tempos e quer um plano de sucessão claro para Iger, que declarou tencionar reformar-se em 2026. Pretende também reduzir os custos, ajustar os níveis de remuneração dos executivos (vinculando-os ao desempenho da empresa) e trazer de volta os dividendos das acções — e pressionou a Disney para ser mais transparente em relação aos seus negócios.
Há pouco mais de um ano, Peltz fez outra tentativa de entrar no conselho de administração, mas cedeu depois de a Disney ter revelado planos para cortar custos no valor de cinco mil milhões de euros, o que levou a sete mil despedimentos e a alterações no serviço de streaming. (Desde então, Iger aumentou o objectivo dos cortes nos custos para sete mil milhões de euros.)

Peltz, porém, não está feliz com a situação
«A empresa está a ter um desempenho fraco», explicou recentemente na CNBC. «No ano passado, fiz-lhes um aviso. Eles prometeram melhorar a situação. Acreditei na palavra deles. A situação piorou, as acções desceram, os resultados pioraram. Pronto, acabou-se. Não posso continuar a dar-lhes mais oportunidades.»

Quem é Jay Rasulo?
Rasulo, que Peltz também tentou colocar no conselho de administração da Disney, já foi considerado um possível herdeiro de Iger, antes de Bob Chapek ter sido seleccionado. Passou três décadas na Disney em várias funções, incluindo presidente dos parques e estâncias, presidente dos parques e estâncias a nível mundial e director financeiro.
«A Disney que eu conheço e amo perdeu o rumo», comentou Rasulo numa declaração em Dezembro passado.

Como reagiu a Disney a Nelson Peltz?
A Disney tem sido política em muitas das suas declarações anteriores sobre Peltz, mas quando se tratou de lhe negar um lugar no conselho de administração, não poupou nas palavras. «Ao decidirem não recomendar Peltz, os directores consideraram uma série de factores, incluindo o facto de, em dois anos de procura de um lugar no conselho de administração da Disney, Peltz não ter apresentado uma única ideia estratégica para a Disney; o facto de a sua avaliação da Disney parecer alheia à mudança secular em curso na indústria dos media; o facto de a experiência de Peltz ser principalmente em empresas de bens de consumo embalados e não no sector dos media ou da tecnologia; que Peltz não tem experiência numa empresa essencialmente impulsionada pelo talento criativo e que se concentra em proporcionar experiências únicas e memoráveis aos clientes; [isso] criou uma preocupação significativa relativamente ao impacto que essa parceria teria nos objectivos de Peltz como director», lê-se na procuração da Disney.
Para além da já referida redução de custos, a Disney também contratou o antigo director financeiro da Pepsi, Hugh Johnston, como director financeiro. (Johnston ajudou a Pepsi a evitar uma luta indirecta com Peltz em 2013.)

Poderá Peltz vencer a sua luta indirecta com a Disney?
Nunca se deve ver Peltz como derrotado, mas ele enfrenta uma batalha difícil. A maioria das lutas indirectas não tem êxito. E Iger só está no cargo (de novo) há pouco mais de um ano, o que os accionistas podem achar um período insuficiente para mudar as coisas.
Peltz, contudo, tem até à Primavera para tentar mudar a opinião dos accionistas — e irá certamente apontar os filmes que tiveram um desempenho inferior (como “Wish”) e o preço das acções. A data da reunião de accionistas de 2024 ainda não foi anunciada. 

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