“Pornografia da pobreza”: Uma indústria em ascensão na China que explora crianças e adultos em países africanos
A venda desse tipo de conteúdos parece estar a tornar-se um negócio em crescimento no gigante asiático, com vídeos que vão desde pessoas as cantarem “Parabéns a você” até mensagens que congratulam casais por se terem casado. Os preços dos vídeos podem chegar aos 70 dólares.
Uma investigação da ‘BBC’ revelou que, em fevereiro do ano passado, começou a circular nas redes sociais chinesas um vídeo, presumivelmente gravado no Malawi, que causou grande controvérsia: crianças africanas eram incitadas por uma voz atrás da câmara a cantar frases em mandarim. Claramente ignorando o significado das palavras que diziam numa língua que não conheciam, sorridentes e visivelmente entusiasmadas, entoavam a frase “Sou um monstro preto e o meu QI é baixo”.
O vídeo terá sido publicado originalmente numa conta com o nome “Clube das Piadas sobre Pessoas Negras”. Na secção de comentários, algumas pessoas riam-se, enquanto outras expressavam a sua fúria e condenavam a publicação.
De acordo com o órgão de comunicação social britânico, o vídeo em questão é somente um de muitos outros, que compõem uma “grande indústria”. A investigação concluiu que o vídeo terá sido gravado por um empresário chinês nesse país, conhecido localmente como “Susu”, o que significa “tio” em mandarim, que se dedicava à gravação de vídeos em que crianças africanas. Segundo consta, o “realizador” pagava às crianças meio dólar por dia para participarem nos seus vídeos.
Uma das crianças que aparece com maior frequência nos vídeos de “Susu” foi encontrada pela ‘BBC’. Bright, de seis anos, contou que “quando fazíamos alguma coisa errada ele [“Susu”] batia-nos com um pau e punha-nos de castigo”.
“Susu”, captado por uma câmara oculta dos jornalistas britânicos, confessou que “não podemos tratar os negros como amigos”, aconselhando o interlocutor, que fazia parte da equipa jornalística: “nunca tenhas pena deles. Isso é muito importante”.
Quando interpelado especificamente sobre o negócio que conduzia no Malawi, o empresário chinês afirmou que “Apenas quero difundir a cultura, música e dança chinesas”.
A jornalista da ‘BBC’ caracterizou este negócio crescente como “pornografia da pobreza”, em que pessoas de regiões pobres são usadas como meros adereços de vídeos que serão consumidos em sociedade abastadas como produtos de entretenimento.
“Esta é uma indústria que está a crescer, através da exploração diária de crianças, para o entretenimento de pessoas em lugares longínquos”, diz Runako Celina, da ‘BBC’.