“Os verdadeiros criminosos continuam livres para matar”: Climáximo reage a condenação de ativistas e diz que vai organizar concertos para pagar multas

O movimento Climáximo reagiu esta tarde à condenação de três jovens ativistas do grupo, em tribunal, pelo crime, em coautoria, de atentado à segurança do transporte rodoviário,​​ por terem​ cortado a circulação na rua de São Bento, em Lisboa, num dos muitos protestos que os elementos têm organizado nas últimas semanas. Com as três ativistas condenadas a 600 euros de multa pelo crime, o grupo adianta que vai organizar eventos, como concertos, de forma a angariar o dinheiro para efetuar o pagamento determinado em tribunal.

Em comunicado, o grupo assinala que vai continuar “a lutar pela sobrevivência”. “Desobedecer, quando está a dar-se a maior crise da história da humanidade, quando milhares de pessoas morrem todos os anos devido à crise climática, e milhões de pessoas são deslocadas das suas casas e das suas vidas, não só não pode ser criminalizado como é um dever. Nós estamos cientes dos crimes horrendos que são cometidos há décadas, contra mim, contra ti, contra todas as pessoas. Sabendo isso, não nos peçam que aceitemos passivamente este destino, recusamo-nos a ser cúmplices. Sabendo o que todos sabem, há décadas, temos a obrigação de parar os culpados”, afirmou à saída do tribunal Carolina Falcato, uma das arguidas.

As três arguidas foram condenadas a um ano de prisão, pena que foi substituída por 120 dias de multa a uma taxa de cinco euros diários.

As arguidas vinham também acusadas do crime de desobediência qualificada (um a cinco anos de prisão), mas o tribunal entendeu absolver as três jovens de 22 anos, alegando que o diploma, num quadro de uma manifestação, não se aplica neste caso.

No caso do atentado à segurança rodoviária, justifica-se “uma pena, porque tem que haver pena”, já que o direito “à manifestação e de circulação são dois direitos fundamentais” que não são equivalentes, considerou o juiz Afonso Dinis Nunes.

O facto de as jovens terem bloqueado a passadeira, criando problemas de tráfego, afetou também outras questões potenciais, como o “direito à prestação de cuidados de saúde [no caso de existir algum transporte de doentes] ou ao trabalho” por parte dos condutores.

Neste caso, considerou Afonso Dinis Nunes, “o direito de livre circulação tem de prevalecer sobre o direito de manifestação” e o protesto das arguidas “foi feito de modo excessivo”.

No final da sessão, após ler a sentença, o magistrado virou-se para as jovens e salientou que “podem manifestar-se como quiserem”, desde que “não afetem outros direitos”.

Por sua vez, em reação à sentença, Leonor Canadas, uma das porta-vozes do grupo, considerou que a democracia “está doente, e o mundo virado do avesso”.

“Somos punidos por denunciar crimes de genocídio, quando os verdadeiros criminosos continuam livres para matar. Ainda existir uma ponte aérea entre Lisboa e Porto, a eletricidade não ser 100% renovável quando isto é tecnicamente possível, o novo gasoduto da REN, a expansão da entrada do gás fóssil em Sines, as explorações petrolíferas neocolonialistas da Galp em Moçambique e no Brasil, esses sim são crimes contra a humanidade. A justiça portuguesa vira-se contra quem denuncia, em defesa dos poderes instituídos e dos criminosos, em vez de defender as pessoas. Evidência disso mesmo é a condenação de Mamadou Ba por difamação quando, tal como nós, apenas evidenciou a verdade que está à vista de todos”, sustentou, em comunicado, solidarizando-se com o ativista antirracismo, que também hoje foi condenado por difamação a André Ventura.

O grupo Climáximo acrescenta que, para fazer face ao pagamento das coimas, “vai organizar alguns eventos de beneficência, como concertos com artistas apoiantes da causa, com entrada por donativo livre”.

Na quarta-feira, os ativistas ambientais do movimento colaram-se, no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, a um avião que iria fazer a ligação entre Lisboa e Porto, numa ação para criticar as emissões de gases com efeito de estufa “absurdas, mortíferas (…) e completamente desnecessárias” destas ligações curtas quando existem alternativas de transporte.

O protesto surgiu na sequência de diversas ações ao longo das últimas semanas, como o bloqueio de várias ruas e estradas, o arremesso de tinta ao ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, bem como ao edifício da FIL e a um quadro de Picasso no Museu de Arte Contemporânea – Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), e o preenchimento com cimento dos buracos de um campo de golfe no Lumiar.

*Com Lusa

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