Operação “Cigarra Verde”: Descoberta rede de milhares de perfis falsos na rede social X operados por IA e ligados à China. Objetivo era influenciar as eleições nos EUA

Uma rede de milhares de contas falsas nas redes sociais, operadas por inteligência artificial (IA) e com origem na China, foi exposta por especialistas em cibersegurança, gerando preocupações sobre uma possível interferência estrangeira nas eleições presidenciais dos EUA de 2024. A investigação foi conduzida pela empresa de cibersegurança CyberCX, que descobriu que até 8.000 contas falsas na plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter) estavam a usar IA generativa para promover conteúdos políticos “divisivos” em antecipação ao voto de novembro.

A rede, apelidada de “Green Cicada” (‘Cigarra Verde’, em português) pela CyberCX, foi criada com o objetivo de “reciclar” conteúdo político já existente na plataforma, reformulando-o em novas publicações, retweets e respostas, que pareciam genuínos e orgânicos. Esta estratégia visava amplificar o alcance de conteúdo já divisivo, polarizando ainda mais os debates nas redes sociais.

Desde pelo menos abril de 2024, a “Green Cicada” tem levado a cabo uma campanha contínua, operando 24 horas por dia e em vários fusos horários. De acordo com a National Security News, houve um aumento significativo da atividade da rede desde julho. A CyberCX salientou que esta operação é uma das maiores redes de atividade inautêntica já identificadas publicamente.

Apesar de muitos dos perfis desta rede se encontrarem inativos – sendo 30 vezes maior do que o grupo de contas ativas – os especialistas alertam que o verdadeiro perigo pode vir quando a rede “adormecida” for ativada, potencialmente à medida que as eleições se aproximem. Embora a rede não tenha um alvo político específico, a CyberCX identificou campanhas distintas em agosto que tanto criticavam como apoiavam Kamala Harris, candidata do Partido Democrata à presidência.

O relatório da CyberCX, citado pela Newsweek, indica que, no seu estado atual, a Green Cicada é “pouco eficaz” em influenciar politicamente de forma maligna. No entanto, adverte que campanhas de IA mais sofisticadas poderiam produzir um grande volume de desinformação com custos reduzidos e com menos supervisão humana.

As investigações da CyberCX também revelaram que a infraestrutura da rede está fortemente ligada à China. O sistema utilizado para controlar a operação recorreu provavelmente a um grande modelo de linguagem em chinês, além de apresentar conexões com um investigador afiliado à Universidade de Tsinghua e à Zhipu AI, uma destacada empresa chinesa de IA.

Embora não tenha sido possível provar uma ligação direta ao governo chinês, a CyberCX observou que a amplificação de conteúdos divisivos nas democracias está de acordo com a estratégia de operações de informação frequentemente atribuída à China. “A amplificação de conteúdo divisivo nas democracias é também consistente com o manual de operações de informação da China”, apontou o relatório.

A descoberta desta rede surge no seguimento de outras revelações recentes sobre campanhas de desinformação chinesas. Em 2023, a Meta fechou quase 8.000 contas do Facebook ligadas a uma operação de spam político chinês, conhecida como “spamouflage” (camuflagem por spam). Esta campanha visava disseminar mensagens pró-China, criticar a política dos EUA e atacar opositores do governo chinês.

A interferência estrangeira tem sido um tema recorrente nas eleições presidenciais dos EUA. Em agosto, o Microsoft Threat Analysis Center divulgou um relatório detalhando tentativas de influência por parte da China, Rússia e Irão, visando audiências americanas com o intuito de afetar o resultado das eleições de 2024.

Além das revelações sobre a China, as tentativas de interferência por parte da Rússia também continuam a ser monitoradas. Recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA acusou dois funcionários da agência estatal de notícias russa RT de conspiração para lavagem de dinheiro e violação da Foreign Agents Registration Act (FARA). Estes indivíduos teriam estado envolvidos num esquema de 10 milhões de dólares para criar e distribuir conteúdo com mensagens ocultas do governo russo.

O Procurador-Geral Merrick Garland ou que “o Departamento de Justiça não tolerará tentativas de um regime autoritário de explorar a livre troca de ideias do nosso país para promover secretamente os seus esforços de propaganda.”

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