«O sector bancário será um dos mais afectados por esta crise»
O que há de diferente nesta crise, para a Banca, relativamente à anterior crise financeira?
O Santander está preparado para continuar a apoiar a economia, como sempre, com rigor e com um espírito de missão permanente de apoiar as famílias e as empresas do País. Isto só é possível porque contamos com fortes rácios de capital e liquidez. Terminámos o trimestre com um CET de 15,8% e um rácio de capital total de 19,4%. Ou seja, praticamente 1/5 do nosso balanço, ponderado pelo risco, é financiado com capital. Adicionalmente, o banco tem neste momento um rácio de LCR (liquidity coverage ratio) de 144%. Dados que evidenciam que o Santander continua a ser, inequivocamente, o banco mais sólido do sistema. E que nos permite dar todo este apoio, nunca esquecendo, além disso, que a nossa primeira responsabilidade é com aqueles que nos confiam as suas poupanças.
Há muitas diferenças entre a crise que vivemos hoje e a de 2008. A anterior foi uma grave crise financeira, causada por uma “bolha imobiliária” e por uma forte desregulação financeira que levou à queda de muitas instituições. A situação actual, como se sabe, é provocada pelo surto da Covid-19, numa altura em que vivíamos um enquadramento macroeconómico bastante positivo.
Não há dúvida que o sector bancário será um dos mais afectados por esta crise porque, sendo um sector pró-cíclico, as suas receitas vão cair bastante e o custo de risco irá também aumentar.
No entanto, a banca apresenta hoje sinais muito mais positivos do que há 10 anos, estando mais capitalizada, pelo que acredito que estará à altura deste momento. É, aliás, o que temos assistido nos últimos dois meses, com a banca a apoiar os seus clientes através de moratórias, de linhas de crédito e de outras medidas para minimizar os impactos provocados pela pandemia.
Quais as medidas mais urgentes que a Banca precisa tomar em resposta à crise provocada pelo novo coronavírus?
Os bancos precisam de ser fortes e saudáveis, porque que só assim serão capazes de cumprir esta missão de apoiar os seus clientes, sobretudo em momentos de emergência como este. Os Bancos, e o Santander em particular, serão sempre parte da solução nesta crise e nunca parte do problema.
No nosso caso, estivemos na linha da frente num conjunto de medidas para apoiar os nossos colaboradores, clientes e fornecedores.
Aos nossos colaboradores assegurámos todas as condições para que pudessem trabalhar em alta percentagem a partir de casa, e nos balcões garantimos todas as condições sanitárias para que o pudessem fazer em segurança. Mantivemos os salários por inteiro e assumimos desde logo o compromisso de não haver lay-offs.
Fomos o primeiro banco a disponibilizar as moratórias, mesmo antes do Estado ter publicado o decreto-lei. Contactámos todos os nossos 140 mil clientes empresas para perceber as suas necessidades. E percebemos que eram muitas.
Recebemos 12 mil pedidos para adesão às Linhas Covid, no montante de 2.300 milhões de euros, tendo sido aprovados 98,5%. Infelizmente, pelo elevado afluxo de propostas que terá recebido, o sistema das Sociedades de Garantia Mútua só aprovou no final 5417 candidaturas num montante de 848 milhões de euros.
Com o fecho prematuro das Linhas Covid, submetemos mais de 3 mil operações, no valor de 420 milhões de euros a outras linhas disponíveis, tendo sido aprovadas pelas SGM apenas 2130 operações, num montante de 208 milhões de euros.
O Santander esteve e está pronto para implementar de imediato qualquer linha pública de apoio, que suporte os nossos clientes e a economia nacional. Pensamos mesmo que será inevitável uma eventual ampliação ou renovação das linhas existentes.
Outra medida relevante que nós adoptámos foi o pagamento a pronto aos nossos fornecedores.
Reforçámos também o nosso impacto na sociedade, triplicando o valor do nosso orçamento de responsabilidade social. Até ao início de Maio, disponibilizámos 3,2 milhões de euros para várias iniciativas – incluindo as Universidades – com o objectivo de ajudar no combate à Covid-19.
Que planos para este ano o surto de Covid-19 anulou?
Ainda é difícil fazer avaliações de momento, mas 2020 será um ano extremamente desafiante. A recessão vai inevitavelmente afectar os resultados do banco, mas o Santander é muito sólido, com fortes rácios e bem capitalizado. Uma das decisões que já tomámos foi não pagar dividendos este ano. Apesar de o banco cumprir folgadamente os rácios de capital exigidos pelo Banco Central Europeu, isto permitirá reforçar ainda mais a capacidade de disponibilizar crédito à economia nacional na presente conjuntura – em cerca de 8 mil milhões de euros.
Esta crise terá mostrado que a visita presencial aos balcões dos bancos pode passar a ser uma coisa do passado mais depressa do que pensávamos?
A nossa prioridade passa por servir da melhor forma os nossos clientes. Desde o surgimento do novo coronavírus mantivemos sempre as nossas agências a funcionar – com as devidas precauções – para garantir aos clientes todo o apoio que necessitam nesta fase. Incentivámos os clientes a utilizar os canais digitais, e estamos muito bem preparados para o fazer, mas temos estado sempre presentes fisicamente.
Defendemos que a chave está em conciliar o digital com os balcões e pensamos que isso vai continuar a acontecer. No futuro, retomaremos o nosso plano de criar novas tipologias de balcões, maiores, com novas funcionalidades, que combinam as valências de uma agência física com as mais-valias do digital. É o caso dos Work Cafés, que já abrimos em Lisboa, Coimbra e Espinho. Paralelamente, continuaremos a apostar nos balcões SmartRed, que fazem parte de uma nova forma de relação com os clientes. São mais modernos, mais especializados, mais tecnológicos e valorizam o atendimento personalizado.
Os últimos meses foram um verdadeiro teste à capacidade digital dos bancos – e de outros sectores. Foi pacífico viver durante algum tempo praticamente sem actividade nos balcões?
O banco nunca parou a sua actividade. A nossa rede comercial manteve-se sempre a trabalhar mesmo no período do estado de emergência. E de uma forma ainda mais próxima. Para dar um exemplo, lançámos a iniciativa “Aqui e Agora”, que tem tido um enorme sucesso junto dos nossos clientes com mais de 65 anos. E estamos a falar de 145 mil clientes. Pessoas que fazem parte dos grupos de risco e que estão pouco familiarizadas com os canais digitais. A ideia foi acompanhá- -las neste período, ajudando-as no que fosse necessário, para que não tivessem de se deslocar aos balcões.
Temos feito tudo para ser parte da solução, e claro que a capacidade digital foi uma ajuda muito importante. Como referi, fomos muito rápidos no lançamento das moratórias, e isso deveu-se também a essa capacidade, permitindo aos clientes fazê-lo de um modo simples através do nosso homebanking.
A Banca tem de se reinventar depois desta crise, ou a transformação seguirá o rumo normal que já estava em curso?
A Banca, tal como outros sectores, não pode parar. O processo de transformação digital que já estava a decorrer em bom ritmo irá certamente continuar. Apresentámos agora uma nova filosofia digital – a que chamamos de digilosofia, que pretende mostrar as ferramentas digitais que oferecemos aos nossos clientes, para que a sua experiência no contacto com o banco seja cada vez mais simples e eficaz. Temos um site e uma app renovados e continuamos a trabalhar para oferecer novos serviços.
Nos primeiros três meses deste ano, foram feitas cinco milhões de transacções nos canais digitais. Tivemos mais 20 mil clientes digitais, sendo hoje já quase 800 mil, que correspondem a 45% da base de clientes de banco principal.
Trabalhamos com a noção de que temos de ser mais do que um banco. Temos de ser uma plataforma de serviços financeiros, com soluções inovadoras que possam fazer a diferença para quem diariamente confia em nós.
Com esta crise o acesso ao crédito vai ser apertado?
As empresas irão continuar a precisar de crédito para responder a necessidades de tesouraria e liquidez, como estamos a verificar. Por outro lado, nos particulares, por dificuldades económicas inerentes a situações de lay-off e desemprego, haverá menos procura de crédito, em particular no mercado de habitação.
No Santander, nunca deixámos de conceder financiamento, e iremos continuar a concedê-lo, mas sempre com grande rigor, com a política prudente de riscos que nos caracteriza. É isto que nos permite apresentar os melhores indicadores de risco de crédito, e ter todas as condições para financiar as famílias e empresas portuguesas.
Acredita que a recuperação seja rápida, apesar da profundidade da crise, como alguns economistas prevêem?
O FMI prevê que a economia mundial contraia pelo menos 3% em 2020, considerando um contexto pandémico que perdurará durante todo este ano. Espera- -se que a recuperação seja quase total em 2021, embora a ritmos diferentes entre economias desenvolvidas e emergentes.
Em Portugal, a actividade económica já vai reflectir as primeiras ondas de choque da pandemia no 1.º semestre, e a evolução vai depender muito do grau de abertura progressiva e da procura que exista nos diferentes sectores de actividade.
No caso do Santander, os resultados do primeiro trimestre evidenciaram já um ligeiro impacto associado à pandemia da Covid-19. Mas a nossa liquidez e solvabilidade mantiveram-se robustas. Registámos um novo crescimento da base de clientes, e os depósitos e o crédito também evoluíram favoravelmente. E voltámos a ser reconhecidos externamente, tendo recebido várias distinções, como o Melhor Banco em Portugal e a Marca Bancária com Melhor Reputação.
Estes indicadores dão-nos confiança de que iremos acomodar os impactos adversos da situação, e que o banco tem a capacidade de beneficiar da fase de recuperação que se seguirá ao surto pandémico.