Número de candidatos à PSP e GNR cai 70% nos últimos 13 anos
O número de candidatos aos cursos de formação da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) registou uma queda acentuada nos últimos treze anos. Em 2012, estas forças de segurança atraíram 21.473 candidatos, enquanto em 2024, apenas 6036 pessoas demonstraram interesse, representando uma redução de 72%.
De acordo com os números fornecidos ao jornal PÚBLICO, em 2012 a GNR recebeu 10.787 candidaturas e a PSP 10.686. Em contraste, em 2024, os candidatos à GNR totalizaram 3215 e à PSP 2821. Apesar de um número considerável de candidatos, muitos não conseguem completar os cursos, resultando em vagas por preencher. Em 2023, foram admitidos 528 novos agentes na PSP e 664 na GNR, mas nem todos terminaram a formação.
Um relatório da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) de junho de 2023 destacou a insuficiência de polícias para assegurar patrulhas 24 horas e o funcionamento adequado das instalações, alertando para a falta de viaturas na PSP e GNR.
Em 2021, um concurso da PSP para 1200 vagas recebeu 5574 candidatos, dos quais 1003 foram admitidos e apenas 910 concluíram a formação. No ano seguinte, o cenário agravou-se: para mil vagas, apenas 568 candidatos completaram o curso. A média de idades dos efectivos da PSP ultrapassa agora os 45 anos, com 268 polícias em condições de aposentação e 4050 para pré-aposentação em novembro de 2024.
O presidente da Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR), César Nogueira, revelou que a GNR enfrenta um défice de quatro mil operacionais. “Há 25 anos, o meu curso teve 16 mil candidatos para mil vagas; agora, nem chegam a quatro mil, e muitos desistem após pagar a taxa de inscrição de 60 euros”, afirmou.
Os baixos salários são apontados como a principal razão para a falta de candidatos. “Os vencimentos pouco acima do salário mínimo afastam muitos jovens, que preferem empregos mais seguros e próximos de casa”, comentou César Nogueira, referindo-se a casos de ex-militares que optaram por trabalhar no estrangeiro em setores como a construção civil.
Desde 2020, 129 militares da GNR e 191 polícias da PSP pediram exoneração, muitos deles para ingressar na Polícia Judiciária (PJ) ou outros organismos públicos.
César Nogueira defende a valorização da profissão, começando pela recuperação do tempo de serviço congelado, uma reivindicação que a APG/GNR levará às negociações com a Ministra da Administração Interna, Margarida Blasco. O presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia (SNOP), Bruno Pereira, destaca a necessidade de um sistema de recrutamento regional e condições salariais mais atrativas.
Recentemente, foi publicada uma portaria que eliminou requisitos como a altura mínima para candidaturas à PSP. Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol), criticou estas alterações, afirmando que comprometem a qualidade dos candidatos.
Reuniões com o MAI
O Ministério da Administração Interna (MAI) agendou reuniões com diversas associações e sindicatos, incluindo a APG e a ASPP, para discutir as condições das forças de segurança. O Sinapol denunciou um alegado favorecimento nas marcações das reuniões, considerando que a diferença de oito dias entre as reuniões beneficia as estruturas sindicais que assinaram acordos com o Governo.
Este cenário reflete um desafio crescente na atração e retenção de candidatos para as forças de segurança em Portugal, exigindo uma revisão nas condições de trabalho e remuneração para garantir a sustentabilidade e eficiência das forças policiais.