Nova era no comércio pelo mares: Navios autónomos e sem tripulação são resposta a ataques a embarcações

Nos últimos três anos, os olhos do mundo têm estado firmemente focados os vastos oceanos, as principais artérias do comércio mundial. A navegação marítima sustenta 80% do comércio global, tornando-se uma parte vital das economias mundiais. No entanto, esta realidade, muitas vezes considerada garantida, enfrenta desafios significativos, desde a crise de abastecimento e logística em 2021, desencadeada pela invasão da Rússia à Ucrânia, até aos recentes incidentes no Mar Vermelho, com ataques de rebeldes Houthis e tensões com o Irão, que destacaram os riscos geopolíticos nas rotas marítimas.

Empresas e países estão agora à proura de soluções para minimizar estes desafios e melhorar a eficiência deste canal crucial de transporte. Nesse sentido, a Europa está na vanguarda, impulsionando um conceito até agora pouco explorado nos mares: viagens sem tripulação. Recentemente, foi alcançado um marco importante quando um navio-tanque completou com sucesso uma viagem de 13 horas até à costa da Noruega sem qualquer tripulação a bordo. Esta viagem pioneira, realizada pelo programa Autoship, financiado pela União Europeia, sinaliza um potencial ponto de viragem no transporte marítimo mundial.

Tanto o projeto norueguês, representado pelo navio Eidsvaag, como o projeto belga, liderado pela empresa Zulú Associates, demonstraram capacidades de navegação autónoma, marcando um avanço significativo na adoção deste avanço ao serviço de embarcações de transporte de mercadorias comerciais. Segundo a Comissão Europeia, estes projetos “alcançaram marcos fundamentais para a adoção desta tecnologia”.

Apesar dos progressos, ainda há desafios a superar antes da integração plena dos navios autónomos na rede comercial. No entanto, as empresas envolvidas demonstram otimismo, prevendo que os primeiros porta-contentores autónomos e sem qualquer tripulação possam estar em operação já em 2026.

A introdução dos navios autónomos está a ser acompanhada por países em todo o mundo. Desde o Japão até à China, passando pelos EUA, Coreia do Sul, Finlândia e Singapura, várias nações estão a realizar testes e investimentos nesta tecnologia, assinala o El Economista.

Grandes empresas como a Rolls Royce apostam fortemente nesta disrupção, considerando-a o futuro da indústria marítima, para além do comércio global. O presidente da divisão marítima da empresa, Mikael Makinen, afirma que “a navegação autónoma será uma das maiores revoluções no setor”. Apesar dos desafios tecnológicos e regulamentares, a empresa espera lançar o seu primeiro envio comercial através de navios autónomos até ao final da década.

No entanto, especialistas alertam para a necessidade de resolver questões críticas, como a segurança em ambiente digital, antes da implementação em larga escala. “A cibersegurança é uma preocupação urgente, dada a ameaça de ataques terroristas e pirataria”, afirma Shankar Nishant, investigador da Next Move Strategy Consulting, ao jornal espanhol.

Embora o potencial dos navios autónomos seja promissor, especialistas destacam a importância de uma abordagem cautelosa. “A tecnologia provou-se viável, mas enfrentamos desafios complexos que exigem uma estratégia global e regulamentações eficazes”, alerta um representante da World Maritime University.

Esta iniciativa marca um ponto de viragem significativo na história do transporte marítimo global, representando não apenas uma mudança tecnológica, mas também uma evolução fundamental na forma como os oceanos são navegados e explorados.

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