Militares da NATO já estão na Ucrânia para controlo de armas, operações de inteligência e treino, apontam especialistas

Emmanuel Macron quebrou o tabu em fevereiro último: a NATO deveria enviar tropas para a Ucrânia. A ideia foi rapidamente desmentida em vários países membros da aliança atlântica, mas apontou que, de facto, já existem militares dos países da NATO em solo ucraniano, embora não participem em operações militares.

“Já existem soldados da NATO na Ucrânia e quero agradecer às embaixadas que assumiram este risco. Ao contrário de outros políticos, não direi quais são os países”, garantiu o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radoslaw Sikorski, no passado dia 8, numa crítica a Olaf Scholz, que indicou no final de fevereiro que os soldados britânicos e franceses estão em solo ucraniano.

De acordo com o jornal espanhol ‘El País’, o porta-voz do Pentágono, o general Pat Ryder, confirmou, em outubro de 2022, que os Estados Unidos tinham representantes militares designados para supervisionar o fornecimento de armas. Em documentos confidenciais do Pentágono, conhecidos em abril de 2023, apontaram que cinco países da NATO – EUA, França, Reino Unido, Lituânia e Países Baixos – tinham, nas suas embaixadas, uma centena de forças especiais na Ucrânia.

Também Petr Pavel, presidente da Rep. Checa e general reformado, indicou, no passado dia 10 que há soldados NATO há mais de uma década na Ucrânia, não em unidades de combate, mas como formadores do exército ucraniano, em referência à base de Yaroviv, perto da fronteira com a Polónia, que permitiu a passagem de mil soldados de 15 países.

De acordo com a publicação espanhola, nenhum exército da NATO participou em ações de combate terrestre, embora tenham informadores no terreno para conhecer a situação na linha da frente, identificarem a eficácia das armas fornecidas, assim como possíveis problemas na sua utilização – estão também atentos a possíveis casos de corrupção com ajuda prestada. Alguns dos informadores não oficiais são militares estrangeiros reformados que lutaram como voluntários nas fileiras das Forças Armadas ucranianas.

Washington é particularmente ativo no controlo da sua assistência militares, com missões acordadas entre a sua embaixada e as autoridades de Kiev, além de visitas fora dos canais institucionais. “Ficaria muito surpreso se as tropas dos EUA tivessem liberdade de movimento para deslocar-se pelo país para monitorar a situação. Eu sei que o pessoal da Embaixada dos EUA precisa até de autorização para ir a Odessa. E antes de 2022, os instrutores americanos não tinham permissão para ir a leste do rio Dnipro, duvido que possam agora”, referiu Luke Coffey, investigador do Instituto Hudson.

Segundo Olga Husieva, investigadora do Instituto de Política de Segurança da Universidade de Kiel, há enviados dos ministérios da defesa aliados da Ucrânia a recolher dados no terreno para obter conhecimentos fundamentais para melhorar a preparação dos seus exércitos e a utilização das suas armas; podem também ter a missão de garantir que não há armas que acabem no mercado negro. “Também não é segredo que existem instrutores de tropas no país desde o início da invasão”, acrescentou Husieva.

Acima de tudo, são iniciativas particulares dos Governos, apontou Husieva, destacando que existe uma coordenação entre os Estados Unidos e o Reino Unido, e destes dois, embora em menor medida, com a Polónia e os países bálticos.

O apelo de líderes políticos como Macron à participação de soldados da NATO na Ucrânia é, acima de tudo, uma estratégia para não se deixar intimidar por Vladimir Putin. “Trata-se de causar um dilema a Putin e adicionar um novo fator de risco”, acrescentou Husieva, salientando que considera “muito possível” que uma coligação de países formada pelo Reino Unido, Polónia e Estados Bálticos chegue a um acordo para estar na Ucrânia no futuro.

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