Mãe de Navalny já viu corpo do filho e diz ter sido pressionada pela Rússia para fazer enterro “secreto”

Lyudmila Navalnaya, mãe do opositor russo Alexei Navalny, que morreu na passada sexta-feira numa colónia penal russa, contou hoje que, ao fim de quase uma semana, conseguiu ver o corpo do filho na morgue de Salekhard.

Um vídeo publicado nas redes sociais, Lyudmila Navalnya explica que as autoridades russas estão agora a pressioná-la a fazer um enterro “secreto”, num local desconhecido e sem qualquer cerimónia fúnebre.

“Olhando-me nos olhos, eles disseram-me que farão algo com o corpo do meu filho se eu não concordar com um funeral secreto. Mas eu não concordo com isso. Quero que todos vocês que amam Alexei, e para quem sua morte foi uma tragédia pessoal, tenham uma oportunidade de se despedir dele”, relatou a mãe do ativista.

A visita à morgue terá ocorrido na quarta-feira à noite.

Recorde-se que, esta semana, as autoridades russas negaram sempre acesso da família ao corpo, alegando que necessitariam de fazer “exames químicos” ao corpo durante duas semanas, para determinar a causa da morte.

“Por lei, eles deveriam ter me dado o corpo de Alexei imediatamente, mas em vez disso estão a chantagear-me e a estabelecer condições sobre onde e como Alexei deveria ser enterrado”, lamentou.

Segundo Lyudmila Navalnaya, as autoridades já apuraram a causa da morte e “todos os documentos legais e médicos estão prontos”, tendo a equipa do opositor do Kremlin (presidência russa) referido que a causa da morte está descrita como “natural”.

Fonte do Kremlin adianta ao Moscow Times que as autoridades russas estão a discutir “como garantir que o luto e o funeral de Navalny não se transformem numa manifestação política e estraguem a eleição de Putin”.

Segundo avançam, há até a hipótese de não entregar o corpo de Alexei Navalny aos familiares, “até depois das eleições” presidenciais, que decorreram entre 15 e 17 de março.

Viúva de Navaly visita a filha

A viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, escreveu hoje na sua conta na rede social Instagram que se deslocou para visitar a sua filha, de 20 anos, Dasha, uma estudante da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

“Minha querida, vim abraçar-te e apoiar-te e tu sentaste e apoias-me”, lê-se na legenda que acompanha uma foto da mãe e filha deitadas num tapete.

Descrevendo a filha como “forte, corajosa e resiliente”, Navalnaya disse que a família “definitivamente lida com tudo”.

A família de Navalny, que inclui ainda Zakhar, de 15 anos, pretende que o corpo do opositor seja entregue, tendo Lyudmila Navalnaya apresentado uma ação na quarta-feira num tribunal de Salekhard, perto da prisão onde o filho morreu.

Lyudmila Navalnaya contestou a recusa das autoridades em libertar o corpo, segundo a agência de notícias estatal russa TASS, que acrescentou que uma audiência, à porta fechada, foi marcada para o próximo dia 04 de março.

As tentativas para recuperar o corpo começaram no dia após a morte do seu filho, a 16 de fevereiro, altura em que era desconhecido o paradeiro do corpo.

Na terça-feira, Navalnaya apelou ao Presidente russo, Vladimir Putin, que lhe fosse entregue o corpo para garantir um funeral com dignidade.

“Não me entregam o corpo e nem me estão a dizer onde está”, declarou então Navalnaya.

As autoridades russas disseram ser desconhecida a causa da morte de Navalny e recusaram entregar o corpo enquanto o inquérito preliminar decorresse, ou seja, num período de duas semanas.

Num vídeo divulgado na segunda-feira, Yulia Navalnaya também acusou o Presidente Putin de matar o marido e alegou que a recusa em entregar o corpo fazia parte do encobrimento.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, rejeitou as acusações, chamando-as de “acusações absolutamente infundadas e insolentes sobre o chefe do Estado russo”.

 

*Com Lusa

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