Lagarde abre a porta para BCE introduzir critérios verdes nas compras de dívida
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), reconheceu que a entidade que lidera poderá começar a ter em conta os chamados “critérios verdes” nos seus programas de estímulos.
A afirmação foi feita no âmbito de uma participação numa mesa redonda da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre meio ambiente. No quadro da revisão estratégica que está a ser efetuada pelo BCE, e Lagarde deu a entender que vai rever o seu impacto climático, com consequências diretas na forma como compra obrigações no mercado.
O que emergiu nos últimos anos é que o BCE beneficia as empresas poluidoras, visto que é um dos maiores financiadores num setor que está muito presente no mercado de dívida.
Lagarde explicou ainda que “uma questão que devemos coloca-nos é se a neutralidade do mercado é o princípio que deve reger a nossa gestão de investimentos”, reconhecendo que “é algo que teremos de considerar na revisão estratégica”.
O BCE já admite títulos verdes no seu balanço desde o final de setembro, mas essa seria uma mudança mais radical, pois significaria que todos os programas de compra de dívida, como o QE ou o PEPP , levariam em conta o critério climático nas compras de títulos.
Para Lagarde, o BCE não pode dar um perfil do que considera ser um risco que os mercados financeiros podem não estar a medir de forma adequada.
A presidente do BCE elogiou ainda os esforços que a Europa está a desenvolver na frente das finanças verdes. “Mais de 40% das emissões verdes no mundo são denominadas em euros e apenas 20% em dólares americanos”, reforçou.
No entanto, Lagarde alerta que não basta, e que é necessário apostar mais na frente do financiamento verde para cumprir o que é acordado no Acordo de Paris, tanto em quantidade como em qualidade das emissões.
“Ursula Von Der Leyen (presidente da Comissão) indicou que é necessário um investimento anual de 290 mil milhões de euros na Europa para cumprir o acordo. No ano passado foram financiados 100 mil milhões, cerca de um terço do total”, sublinhou.
Obviamente, o Fundo de Recuperação que os líderes europeus acordaram para combater a crise do Coronavírus será um novo apoio nessa frente. “30% dos 750.000 milhões, 250.000 milhões, serão investimentos verdes”, resalvou Lagarde.