Jovens recrutados no Telegram e ligações ao grupo russo Wagner: Como é organizada a onda de ataques e sabotagens que está a afetar a Europa

Na madrugada de 3 para 4 de junho, uma explosão acordou o pessoal de um hotel em Roissy-en-France, próximo ao aeroporto Charles de Gaulle, na periferia de Paris. Os bombeiros resgataram um homem com queimaduras no braço e rosto, que foi imediatamente transportado para um hospital nas proximidades. Durante a inspeção do quarto, as autoridades descobriram documentação falsa e material para fabricar explosivos, levantando sérias preocupações sobre as intenções do indivíduo.

O homem ferido, identificado como Maksym, nascido em 1998 na região do Donbass, Ucrânia, foi encontrado com queimaduras causadas por um dispositivo caseiro feito de triperóxido de triacetona (TATP), um explosivo altamente instável frequentemente utilizado pelo Estado Islâmico em atentados suicidas. Apesar de não possuir antecedentes criminais, Maksym tinha uma conhecida filiação pró-russa e combateu por dois anos no exército russo, conforme as investigações francesas revelaram.

Ainda não se sabe o objetivo de Maksym, mas a Direção Geral de Segurança Interna da França (DGSI) alertou, em fevereiro, sobre novas táticas dos serviços secretos russos para intensificar as “fraturas internas na sociedade francesa” e possivelmente promover “ações de natureza violenta”. O jornal Le Monde detalhou estas preocupações em um relatório recente.

Quase simultaneamente, um colombiano de 26 anos desembarcou em Praga vindo do seu país. Dois dias depois, comprou combustível e incendiou vários autocarros municipais, causando danos de cerca de 8.000 euros antes de fugir. A polícia checa, suspeitando de um possível atentado terrorista, deteve o suspeito poucas horas depois. O primeiro-ministro checo, Petr Fiala, sugeriu que a ação foi “provavelmente organizada e financiada pela Rússia”, devido ao custo elevado da viagem do suspeito, incompatível com sua modesta situação financeira.

Campanha de Sabotagem Russa na Europa
O governo russo é suspeito de orquestrar dezenas de incidentes semelhantes por toda a Europa nos últimos meses, incluindo incêndios em centros comerciais em Varsóvia e Vilnius, explosões em fábricas de munições e armamento em Gales e Berlim, e descarrilamentos de comboios em vários países. O Financial Times relatou, em maio, que os serviços de segurança de vários países europeus alertaram sobre uma campanha russa de sabotagem no continente.

A campanha russa emprega elementos fora das estruturas estatais, como criminosos comuns e amadores, para dificultar a atribuição de responsabilidade ao Kremlin. O The Telegraph revelou que o GRU, a agência de inteligência militar russa, está a recorrer a gangues criminosas para realizar ataques na Europa. Estas ações visam desestabilizar o Ocidente, dissuadir os governos europeus de apoiar a Ucrânia e exacerbar tensões sociais e políticas na NATO e na União Europeia.

Jovens Influenciáveis e Amadorismo
Entre os detidos por estes incidentes, destaca-se a juventude dos perpetradores, geralmente na casa dos 20 anos, o que os torna mais suscetíveis à influência. Dylan Earl e Jake Reeves, acusados de incendiar um armazém em Londres pertencente ao empresário ucraniano Mikhail Boikov, têm 20 e 22 anos, respetivamente. Segundo a acusação, Earl foi recrutado pelo Grupo Wagner através da internet, utilizando plataformas como o Telegram para atrair voluntários.

Grupos no Telegram, como o “Antifascistas Bálticos”, procuram colaboradores para reunir informações sobre alvos militares e realizar sabotagens na região do Báltico. Mensagens em canais vinculados ao Grupo Wagner incentivam “partisanos na Europa e Ucrânia a combaterem as forças da NATO”.

A NATO expressou preocupação com as “atividades malignas em território aliado”, especialmente na República Checa, Estónia, Alemanha, Letónia, Lituânia, Polónia e Reino Unido. A estratégia russa de guerra híbrida é de baixo risco e custo, mas potencialmente de alto impacto, sendo mais difícil de contrapor do que um ataque convencional. As democracias europeias enfrentam o desafio de responder a esta ameaça sem amplificá-la, mas a necessidade de ação é evidente.

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