“Foi longe de mais”: Linha conservadora do BCE ataca decisão da maioria progressista liderada por Christine Lagarde

Robert Holzmann, governador do Banco Centra austríaco foi o terceiro membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE) a manifestar “reservas”, quanto às novas decisões do BCE sobre a inflação e as taxas de juro.

“Eu tinha, como o Sr. Weidmann e o Sr. Wunsch, muita reticência quanto a esta proposta”, explicou Holzmann, em declarações ao programa “Street Signs Europe”, da CNBC, referindo-se aos governadores do bancos centrais belga e alemão.

Para o governador, a decisão da maioria liderada por Christine Lagarde “foi longe de mais”.

Já na semana passada, os chefes dos bancos centrais da Alemanha e da Bélgica tinham-se oposto à nova orientação para as taxas de juros apresentada pelo Banco Central Europeu (BCE), divulgada esta quinta-feira.

De acordo com a Reuters, um grupo significativo de formuladores de políticas económicas do Banco Central Europeu opôs-se a esta nova orientação, ainda que tenham mudado depois a sua posição, à exceção de dois, Jens Weidmann, chefe do Bundesbank, e o belga Pierre Wunsch.

Os dois governadores conservadores opuseram-se à política de Christine Lagarde e objetaram a decisão do BCE de não aumentar os custos dos empréstimos até ver a inflação atingir a sua meta de 2%, “bem antes do fim do seu horizonte de projeção e de forma duradoura”.

“Foi um debate robusto, e mais do que apenas duas pessoas expressaram as suas preocupações, mas a maioria acabou conquistada por Lagarde”, disse uma fonte à Reuters.

“Gostaríamos que fosse definida uma orientação diferente, mais flexível que nos permitisse terminar as medidas mais cedo, caso a inflação descole”, acrescentou Holzmann.

O Conselho dos Governadores do BCE anunciou hoje que as suas taxas de juro permanecem inalteradas, em mínimos históricos, após uma reunião de política monetária.

A principal taxa de refinanciamento mantém-se em zero, enquanto a taxa de depósitos continua em -0,50% e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica em 0,25%.

As taxas vão permanecer no nível atual ou mais baixo até que haja uma convergência da inflação para 2%, indicou em comunicado o banco central.

Esta decisão surge na sequência da deliberação tomada pelo BCE no dia 8 de julho, quando a instituição financeira decidiu que a meta de inflação iria subir para 2%, admitindo ainda margem para ser ultrapassada, em períodos transitórios.

Em comunicado, o BCE avançou na altura que decidiu substituir a sua atual meta de inflação, definida como um valor “abaixo mas próximo de 2%”, por uma meta mais simples, de apenas 2%.

A entidade liderada por Christine Lagarde esclareceu que o objetivo de 2% é totalmente simétrico, ou seja, que os desvios negativos e positivos da inflação face ao objetivo são igualmente “indesejáveis”.

O documento deixa também implícita a ideia de que desvios temporários para cima de 2% são toleráveis pelo BCE, tais como aqueles que se preveem que possam acontecer durante a segunda metade deste ano.

Tendo confirmado em junho sua avaliação das condições de financiamento e as perspectivas de inflação, o Conselho de Governo continua a esperar que as compras sob o programa de compra de emergência pandêmica (PEPP) durante o trimestre atual sejam realizadas em um ritmo significativamente maior do que durante os primeiros meses do ano.

O Conselho de Governadores concordou ainda em que as compras líquidas relativas ao APP (Programa de Compra de Ativos)  continuarão a um ritmo mensal de 20 mil milhões de euros, mantendo assim uma política acomodatícia.

No que toca ao Programa de Compras de Emergência de Títulos (PEPP), o BCE deliberou aplicar o envelope financeiro de 1.850 mil mil milhões de euros, conforme Christine Lagarde, a presidente da instituição, já tinha avançado, numa entrevista à imprensa francesa.

O Conselho de Governadores espera que as compras ao abrigo do PEPP “acelerem durante este trimestre, face a velocidade em que decorreram as operações nos primeiros três meses do ano. Este envelope financeiro pode ser recalibrado, caso seja necessário”, assegurou o órgão executivo do BCE.

 

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