Fogos e ondas de calor extremo são o “suicídio coletivo” anunciado que a humanidade enfrenta, alerta Guterres

Na abertura do ‘Petersburg Climate Dialogue’, que decorre entre hoje e amanhã em Berlim para discutir a crise climática global, o Secretário-Geral das Nações Unidas voltou a fazer soar os alarmes climáticos: se não pararmos de queimar combustíveis fósseis e não protegermos o planeta, o futuro da espécie humana ficará em risco, ameaçado por mais ondas de calor, incêndios e secas.

“Temos uma escolha: a ação coletiva ou o suicídio coletivo”, sentenciou hoje António Guterres, através de mensagem de vídeo, perante uma plateia de dezenas de ministros, na capital alemã. “As nações continuam a jogar o jogo das culpas, em vez de assumirem responsabilidade pelo nosso futuro coletivo”, acusou.

Guterres sustentou que “metade da humanidade está em zonas de perigo de cheias, secas, tempestades extremas e fogos florestais”. O líder das NU garantiu que “nenhuma nação é imune” a essas tragédias, que já afetam muitos país, incluindo Portugal, mas lamenta que “continuamos a alimentar o nosso vício em combustíveis fósseis”.

Das Américas à Ásia, passando pela Europa, vários países combatem incêndios florestais intensos e devastadores e secas sem precedentes, numa altura em que as temperaturas máximas quebram recordes em múltiplos pontos do planeta. Também nos polos do mundo, o Ártico e a Antártida, registam-se as temperaturas mais altas de que há registo.

De recordar que, de acordo com dados da agência norte-americana para o Oceano e a Atmosfera (NOAA), junho de 2022 foi o sexto mês de junho mais quente dos últimos 143 anos. O registo mostra que também este ano já foi classificado o sexto ano mais quente.

Junho passado foi o 46.º mês de junho consecutivo e o 450.º mês consecutivo em que as temperaturas ficaram acima da média de 15,5 graus do século XX. Os dez meses de junho mais quentes de sempre registaram-se todos a partir de 2010.

Guterres disse que os países devem por de lado as palavras e promessas vazias de concretização e tomar medidas tangíveis para combater o aquecimento global. “Promessas feitas devem ser promessas cumpridas”, frisou o líder das NU, que acrescentou que “precisamos de uma resposta global concreta para responder às necessidades das populações, comunidades de nações mais vulneráveis no mundo”.

Uma solução passará, explicou o português, por “criar espaço no âmbito do processo climático multilateral” para responder à falta de fundos, “incluindo o financiamento para perdas e danos” sofridos pela crise climática. E Guterres lançou duras críticas aos bancos para o desenvolvimento, como o Banco Mundial, por não fazerem mais para prestar ajudar financeira aos países mais pobres, para a adaptação às alterações climáticas.

A próxima reunião magna sobre o clima, a COP27, tem data marcada para novembro, no Egito, embora o otimismo sobre resultados concretos e positivos tenha vindo a diminuir nos últimos meses, à medida que a inflação e o aumento dos preços dos combustíveis fósseis têm feito refém múltiplos governos e países.

Ainda este mês, o vice-presidente da Comissão Europeia e o líder do desenvolvimento da política climática da União, Frans Timmermans, já contou ao ‘The Guardian’ que tem poucas esperanças de que novos compromissos ambientais sejam assumidos na COP27, com os governos a devotar a quase totalidade dos seus esforços no combate à inflação e à crise energética impulsionada pela guerra da Rússia na Ucrânia.

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