Fentanil: Droga que mais mata nos EUA faz soar alarmes em Portugal. Consumo dispara e já há quem peça ajuda

O fentanil, droga responsável por uma proliferação de casos de mortes por overdose nos EUA, já regista casos de dependência em Portugal e está a preocupar os especialistas.

De acordo com os números do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), avançados pelo Expresso, já 12 pessoas em Portugal pediram ajuda para serem tratadas pela dependência deste analgésico opioide que é altamente viciante.

Destas 12, oito usavam o fentanil com outras drogas, enquanto quatro relatavam vício apenas nesta substância, que no nosso País tem ganho tração com prescrição dos médicos como medicamento para controlo da dor.

Um dos casos é o de um homem, com perto de 50 anos, a quem foi receitado fentanil num hospital privado, na região de Lisboa, para controlar a dor lombar, e sem que lhe fosse explicado o risco de adição à substância.

“A dor que tinha não justificava o uso de fentanil. Foi-lhe prescrito à americana. Quando percebeu que estava dependente, procurou ajuda”, denuncia ao mesmo jornal Miguel Vasconcelos, coordenador da Unidade de Desabituação do Centro das Taipas, em Lisboa.

Já Emídio Rodrigues, coordenador da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependên­cias da Região Centro, relata outro caso de uma mulher que já esta semana recorreu à Unidade de Desabituação de Coimbra para combater o vício do fentanil, que também lhe tinha sido prescrito por um médico.

Os dados do Infarmed revelam que o fentanil é o quarto analgésico mais receitado em Portugal, sendo que em 2022 foram vendidas nas farmácias (com receita médica), mais de 306 mil embalagens, qualquer coisa como 840 por dia. Nos últimos cinco anos, a venda disparou 32% e com tendência a crescer ainda mais: Entre janeiro e outubro do ano passado foram vendidas, em média, mais 50 caixas de fentanil por dia do que em 2022.

A Ordem dos Médicos assinala que não existe nenhum controlo ou monitorização específico para a prescrição de fentanil, e a última recomendação da Direção-Geral da Saúde (DGS), relativa à “utilização de medicamentos opioides fortes em dor crónica não oncológica” remonta a 2008 e desvaloriza o risco de quem toma ficar viciado na substância.

“Embora ainda não existam dados suficientes, parecem não se confirmar os receios de tolerância e da adição induzidos por estes medicamentos”, indica a DGS

“A diferença entre a dose que proporciona o efeito procurado e a dose potencialmente letal é muito menor do que na heroína, o que significa que mais facilmente pode levar à morte por overdose”, alerta o presidente do ICAD. Nos EUA a droga já entrou no mercado negro, algo que parece não ter ainda acontecido em Portugal, já que não se têm registado casos de overdose.

No entanto há registo de pessoas que consumiram fentanil sem receita médica, com acesso ao medicamento através de prescrição a familiares ou em contexto recreativo, sendo adquirido noutros países.

A PJ está “muito atenta” ao fenómeno do consumo de fentanil, ainda que não tenha sido aberto nenhum inquérito sobre o tráfico desta droga em Portugal.

Estados Unidos criam já criaram força contra o tráfico do opiáceo fentanil
Nos EUA, onde as mortes por overdose de fentanil já são uma “epidemia”, com cerca de 75 mil óbitos só em 2022 (é já a principal causa de morte em pessoas com menos de 50 anos, foi criada em novembro do ano passado uma força específica para o combate ao tráfico deste opioide.

A força será liderada pela divisão de Investigações Criminais e pelo Gabinete de Terrorismo e Informações Financeiras (TFI, na sigla em inglês) do Departamento do Tesouro, segundo a agência espanhola EFE.

Yellen afirmou num comunicado que a luta contra o fluxo de fentanil para o país “é uma prioridade” para a qual o Departamento do Tesouro utilizará todos os instrumentos à sua disposição.

O fentanil é um potente opiáceo responsável por mais de 100 mil mortes por ano nos Estados Unidos, segundo o copresidente do TFI, Jim Lee.

A nova força, segundo o subsecretário do TFI, Brian Nelson, atuará de forma rápida e decisiva com especialistas de alto nível “para responder rapidamente às ameaças mais recentes”.

Aproveitará as competências e a experiência do Departamento do Tesouro para identificar e combater os crimes financeiros relacionados com esta droga, referiu.

Nelson disse também que a nova força promoverá os objetivos da administração do Presidente Joe Biden nesta matéria, tal como atacar a cadeia de abastecimento ou colaborar com o México nesta luta.

Também fará avançar o acordo entre Biden e o homólogo chinês, Xi Jinping, para retomar a cooperação bilateral em matéria de luta contra o narcotráfico.

O acordo, alcançado em novembro, incide em especial “na redução do fluxo de precursores químicos que alimentam o tráfico ilícito de fentanil e de drogas sintéticas”, segundo o comunicado do Departamento do Tesouro.

Ao alinhar estrategicamente as investigações e as informações dos principais intervenientes, a nova força irá “aumentar o impacto financeiro” das medidas já tomadas contra este comércio ilícito, acrescentou.

Desde que Biden assinou uma ordem executiva em dezembro de 2021 a autorizar sanções contra estrangeiros envolvidos no tráfico de fentanil, 250 já foram impostas a indivíduos e empresas, com um foco particular na cadeia de abastecimento.

Em novembro, Biden agradeceu às autoridades mexicanas pela detenção de “El Nini”, suspeito de tráfico de fentanil.

Biden e o homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, prometeram, durante uma reunião em 17 de novembro em São Francisco, cooperar mais estreitamente contra o tráfico de drogas e, em particular, o fentanil.

Este poderoso opiáceo sintético é responsável por dezenas de milhares de mortes todos os anos nos Estados Unidos.

A droga, fabricada a partir de produtos muitas vezes provenientes da China, é, segundo Washington, introduzida nos Estados Unidos por cartéis mexicanos.

*Com Lusa

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